03 Junho 2017
Outro cemitério no deserto. Adultos, jovens e crianças, até mesmo pequenas, mortos de sede, jazem cobertos pela inexorável areia do Saara. De acordo com as primeiras informações, seriam pelo menos 44 migrantes, que, com o objetivo de chegar à Europa, foram ao encontro de uma morte quase certa no norte do Níger. Entre eles, havia três recém-nascidos de poucos meses, dois menores de idade e 17 mulheres. Provavelmente, falecidos em silêncio nos braços dos seus pais.
A reportagem é de Matteo Fraschini Koffi, publicada no jornal Avvenire, 02-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Por enquanto, ninguém ainda conseguiu chegar ao local para identificar os cadáveres”, explicou Lawal Taher, da Cruz Vermelha nigerina. “Mais uma vez, como muitas vezes acontece nesses trajetos, o caminhão em que eles viajavam quebrou e foi abandonado. Apenas seis deles conseguiram se salvar – continuou Taher –, chegaram a um vilarejo a pé, e agora os estamos ajudando na cidade de Dirkou.”
Os imigrantes eram originários principalmente de Gana e da Nigéria, duas das maiores economias da África ocidental. As autoridades nigerinas declararam que estão fazendo todo o possível para chegar ao local do acidente e recuperar outras informações sobre as vítimas. “As buscas estão em andamento”, dizia um comunicado do governo.
Mas a obra é muito árdua, e os meios à disposição são mínimos. Encontrar os cadáveres no Saara é muito mais difícil do que recuperá-los no Mediterrâneo. As organizações humanitárias, junto com as autoridades europeias, têm as capacidades necessárias para exercer um bom controle do mar e socorrer os náufragos rapidamente.
No deserto, em vez disso, o contexto é diferente. “O Saara é um dos lugares mais vastos, inóspitos e menos controlados do planeta”, afirmam os especialistas. “Patrulhá-lo todo, utilizando militares e policiais, é impossível.”
Embora tenha havido um relativo compromisso do presidente nigerino, Mahamadou Issoufou, para conter o tráfico de migrantes e punir os traficantes, a rota entre o Níger e a Líbia continua sendo um dos principais caminhos para a Europa.
A histórica cidade de Agadez, conhecida como “a porta do deserto”, hospedou nos últimos 20 anos multidões de migrantes provenientes de toda a África ocidental e central. Por lá passaram também os 44 mortos do Níger.
Por causa dos combates em várias partes do Sahel, a Argélia e, mais recentemente, a região do lago Chade também estão envolvidas no tráfico de seres humanos que fogem de guerras e da pobreza.
“Cada um pode levar consigo um pouco de comida, geralmente pão com algumas sardinhas enlatadas, e uma quantidade limitada de água, que deve durar vários dias”, afirma Aboubakar (nome fictício), forçado a voltar para Agadez depois de ser abandonado no ano passado por um traficante na fronteira entre a Argélia e o Níger.
Apenas no mês de novembro do ano passado, 11 mil pessoas passaram pela região de Agadez para chegar ao Norte da África – são as estimativas da Organização Mundial para as Migrações (OIM). Durante 2016, os migrantes que atravessaram o país foram 335 mil. Muitos se dirigiam para a Argélia, para evitar a guerra civil na Líbia. A maioria morre no deserto, naqueles que são chamados de “naufrágios do Saara”.
Há menos de um mês, foram encontrados os cadáveres de oito migrantes, incluindo cinco crianças, perto da Argélia. Também em maio passado, um grupo de soldados nigerinos salvou pelo menos 40 pessoas abandonadas no deserto pelos seus traficantes. Sem os socorros, teriam morrido de sede no nada.
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Níger, tragédia com migrantes no Saara: 44 mortos de sede - Instituto Humanitas Unisinos - IHU