03 Fevereiro 2017
Na Audiência Geral, o Papa Francisco saudou o Movimento Católico Mundial pelo Clima e manifestou o desejo de que “as Igrejas locais respondam com determinação ao grito da terra e ao grito dos pobres”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 01-02-2017. A tradução é de André Langer.
“Quando uma mulher descobre que está grávida, cada dia aprende a viver esperando ver o olhar dessa criança que virá. Também nós devemos aprender com estas esperas humanas e viver esperando ver o Senhor, voltar a encontrar o Senhor. Não é fácil, mas se aprende”. O Papa Francisco recorreu a esta analogia, prosseguindo com o ciclo de catequeses dedicado ao ensinamento cristão durante a audiência geral das quartas-feiras, e recordou que São Paulo convidava as primeiras comunidades a colocar a “esperança da salvação” como um “capacete” diante dos “temores e das perplexidades, a começar pelo medo da morte que todos temos: ‘Eu não tenho medo da morte, propriamente dito, mas tenho um pouco de medo de vê-la chegar’”.
“Nas catequeses passadas, nós começamos o nosso percurso sobre o tema da esperança relendo nesta perspectiva algumas páginas do Antigo Testamento. Agora, queremos trazer à luz o alcance extraordinário que esta virtude assume no Novo Testamento, quando encontra a novidade representada por Jesus Cristo”, começou o Papa argentino. E destacou que “nós, os cristãos, somos mulheres e homens de esperança”.
Jorge Mario Bergoglio refletiu sobre a Primeira Carta de São Paulo à comunidade dos Tessalonicenses, na qual o apóstolo trata de fazer compreender “todos os efeitos e consequências” que a ressurreição de Jesus – acontecimento que tinha acontecido há poucos anos – tem na “história” e “na vida de cada pessoa”. Em particular, recordou o Papa Francisco, “a dificuldade da comunidade não era tanto reconhecer a ressurreição de Jesus, todos acreditavam nela, mas acreditar na ressurreição dos mortos. Jesus ressuscitou, mas os mortos... isso se tornava um pouco difícil”.
Neste sentido, esta carta revela-se de grande atualidade, porque, “cada vez que nos encontramos diante da nossa morte, ou da morte de uma pessoa querida, sentimos – prosseguiu Francisco – que a nossa fé é posta à prova. Surgem todas as nossas dúvidas, toda a nossa fragilidade, e nos perguntamos: “Realmente, existe vida após a morte...? Poderei rever e abraçar novamente as pessoas que amei?” Esta pergunta me fez uma senhora poucos dias atrás em uma audiência: me encontrarei com os meus? Uma dúvida... Também nós, no contexto atual, temos necessidade de voltar à raiz e aos fundamentos da nossa fé, para cobrar consciência de tudo o que Deus operou por nós em Jesus Cristo e o que significa a nossa morte. Todos temos um pouco de medo da morte por esta incerteza. Vem-me à memória um velhinho que dizia: ‘Eu não tenho medo da morte; tenho um pouco de medo vê-la chegar’”.
São Paulo, prosseguiu o Papa, “diante dos temores e das perplexidades da comunidade, convida para manter firme sobre a cabeça, como um capacete, sobretudo nas provações e nos momentos mais difíceis da nossa vida, “a esperança da salvação”. É um capacete. Eis a esperança cristã. Quando se fala de esperança, podemos ser levados a compreendê-la segundo a acepção comum do termo, em referência a algo belo que desejamos, que pode ou não se realizar: esperamos... como um desejo... diz-se, por exemplo. Quando se diz por exemplo: ‘espero que amanhã faça tempo bom, mas sabemos que no dia seguinte pode fazer tempo ruim... Mas a esperança cristã – insistiu o Papa – não é assim. A esperança cristã é a espera em algo que já aconteceu: a porta está ali, eu espero chegar até ela. O que devo fazer? Caminhar até a porta”.
E prosseguiu: “Esta é a esperança cristã: ter a certeza de que eu estou no caminho rumo a algo que existe, não para algo que gostaria que fosse, algo que certamente se realizará para cada um de nós. Também a nossa ressurreição e a dos queridos defuntos, portanto, não é uma coisa que poderá ou não acontecer, mas que é uma realidade certa, posto que está enraizada no evento da ressurreição de Cristo. Esperar, portanto, significa aprender a viver esperando. Quando uma mulher descobre que está grávida – explicou Jorge Mario Bergoglio –, cada dia aprende a viver esperando ver o olhar dessa criança que virá. Também nós devemos aprender com estas esperas humanas e viver esperando ver o Senhor, encontrar o Senhor. Isso não é fácil, mas se aprende”. Mas, acrescentou, implica “um coração humilde, pobre. Somente um pobre sabe esperar. Quem já é pleno de si e das suas posses, não sabe depositar a própria confiança em ninguém a não ser em si mesmo”.
O Papa concluiu a catequese convidando os fiéis presentes no Salão Paulo VI para repetir três vezes uma expressão utilizada por São Paulo na citada carta, uma frase que “sempre me toca o coração”. “E assim, para sempre, estaremos com o Senhor”. “Tudo passa, mas depois da morte estaremos para sempre com o Senhor”, continuou o Papa, “e lá, com o Senhor nos encontraremos”.
Depois da catequese, o Papa saudou, em particular, uma delegação do Movimento Católico Mundial pelo Clima, que participou da audiência: “e agradeço-lhes pelo compromisso de cuidar da nossa casa comum nestes tempos de grave crise socioambiental. Encorajo-os a continuar jogando as redes para que as Igrejas locais respondam com determinação ao grito da terra e ao grito dos pobres”.
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Francisco: Aprendemos a viver esperando, como uma mulher grávida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU