24 Janeiro 2017
De acordo com o Cardeal Cláudio Hummes, o objetivo da reforma eclesiástica do Papa Francisco é construir “uma Igreja totalmente missionária”, e como parte disso Hummes afirma que Francisco quer uma Igreja determinada a “mover-se e sair” preferencialmente em direção às periferias.
A reportagem é de Filipe Domingues, publicada por Crux, 22-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Reformar a Igreja Católica é o objetivo maior e mais abrangente do pontificado do Papa Francisco, diz o Cardeal Cláudio Hummes em um pequeno livro publicado no Brasil sexta-feira passada, 20 de janeiro.
Intitulado “Grandes metas do Papa Francisco”, o prefeito emérito da Congregação para o Clero e arcebispo emérito de São Paulo resume aquilo que considera como sendo as prioridades do primeiro pontífice latino-americano.
Lembrando o dizer tradicional “Ecclesia semper reformanda” (a Igreja deve estar sempre se reformando), Hummes diz que a exortação apostólica Evangelii Gaudium é o documento programático do Papa Francisco.
“A Igreja encarna-se na história humana, caminha com ela”, escreve o cardeal. De acordo com ele, objetivo da reforma eclesiástica do Papa Francisco é construir uma “Igreja totalmente missionária”.
Entre os objetivos principais trazidos pelo arcebispo está fazer a Igreja “mover-se e sair” preferencialmente em direção às periferias.
“Não devemos ficar parado no tempo ou espaço, nem querermos caminhar para trás, mas para frente. A Igreja deve se esquecer e pôr-se a serviço do mundo. É para isso que Jesus a fundou”, afirma.
Em Amoris Laetitia, Hummes não entra no debate sobre os temas candentes, mas mostra o seu apoio a Bergoglio: “O Papa Francisco demonstrou o quanto valoriza a família e o quanto luta por ela”, escreve o cardeal.
“O status matrimonial continua a ser o símbolo do amor que Deus tem para com o seu povo ou que Jesus Cristo tem por sua Igreja”, e acrescenta, resumindo que “a grande orientação pastoral que o Papa Francisco traça neste documento é a misericórdia, e não tanto a lei. Nenhuma lei ajuda a salvar se ela não nos ajuda a praticar o amor e a misericórdia”.
Mais adiante, o prelado brasileiro fala sobre as famílias que vivem em situações difíceis: “É necessário acender as luzes em seus caminhos e dar-lhes esperança, solidariedade e acompanhamento, para que possam se erguer e, progressivamente, livrarem-se dos males”.
Entre os outros objetivos principais do papa, na visão do Cardeal Hummes, estão: “chorar pelos mortos, aqueles por quem ninguém chora”, como os das tragédias migratórias; construir “uma Igreja pobre para os pobres”, também demonstrado nos três Ts, “tierra, techo y trabajo” (terra, teto, trabalho) e a proposta de levar a Igreja às periferias.
Hummes igualmente cita “aquecer o coração das pessoas” em atividade pastoral; lutar contra a exclusão dos idosos e dos jovens; “salvar o nosso planeta”, ideia fortemente defendida na encíclica Laudato Si’; promover a paz; a ideia de que “a Igreja cresce por atração”, já apresentada por Bento XVI; e difundir uma “devoção mariana ardente”.
O livro seria apenas mais um entre inúmeras publicações sobre o Papa Francisco, não fosse o fato de ser escrito por Hummes, hoje com 82 anos. A obra ganha relevância por dos motivos.
Em primeiro lugar, Hummes é um cardeal latino-americano, como o papa. Também, ele é um bispo que não costuma publicar livros com frequência. Escrever este ensaio foi uma escolha pessoal para homenagear o pontífice “ainda que modestamente” em seu seu 80º aniversário, conforme o próprio cardeal explica na introdução do livro.
Em segundo lugar, o livro é escrito por um dos cardeais mais próximos do sucessor de Pedro. Hummes e Bergoglio se conhecem desde os tempos em que eram bispos de duas grandes metrópoles latino-americanas: São Paulo e Buenos Aires.
Após sua eleição, Bergoglio reconheceu que havia escolhido o nome “Francisco” porque Hummes, franciscano, o advertira: “Não se esqueça dos pobres!” Hummes estava no lado esquerdo de Francisco em sua primeira aparição na varanda da Basílica de São Pedro.
Desde 2012, Hummes preside a Comissão Episcopal para a Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Especificamente sobre a presença da Igreja neste lugar, ele afirma que o papa adora a Amazônia e apoia a ideia de que é necessário desenvolver um clero autóctone (nascido no local).
Além disso, segundo ele, “enquanto não for concretamente aceito que os povos indígenas têm de se tornar de novo sujeitos e protagonistas de sua história, a dívida com eles não será paga”.
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Cláudio Hummes diz que reformar é o principal objetivo do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU