21 Setembro 2016
Francisco, na Capela Santa Marta, antes da Jornada pela Paz: hoje, em Assis, “não haverá espetáculo, mas oração”. “Escrevi uma carta aos bispos de todo o mundo pedindo para que nas dioceses se reze com todos os homens de boa vontade”. “Nos assustamos” com alguns “atos de terror”, mas “isto não tem nada a ver com o que acontece nesses países em que diuturnamente caem bombas e matam crianças, idosos, homens e mulheres”.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 20-09-2016. A tradução é de André Langer.
A Jornada Inter-religiosa em Assis começa na Cidade do Vaticano, na Casa Santa Marta, residência do Pontífice. O Papa Francisco, durante a homilia da missa matutina desta terça-feira, explicou que vai a Assis para ajoelhar-se e rezar ao Deus da paz, juntos, “superando as divisões”, até sentir a “vergonha” da guerra e sem “fechar os ouvidos” ao grito de dor de quem sofre. “Hoje – precisou –, não haverá espetáculo, mas oração”, para a qual toda a humanidade está convidada: “Escrevi uma carta aos bispos de todo o mundo pedindo para que nas dioceses se reze com todos os homens de boa vontade”. A informação é da Rádio Vaticano.
Não existe um “deus da guerra”, insistiu Francisco. A violência, as bombas que matam e cortam as estradas “para a ajuda humanitária” que não pode chegar às crianças, aos idosos, aos doentes, é ação do “maligno”, que quer “matar a todos”. É por isso que devemos rezar, com todas as religiões unidas na convicção de que “Deus é Deus de paz”.
E assim, nesta terça-feira, “homens e mulheres de todas as religiões, nos dirigiremos a Assis. Não para fazer um espetáculo: simplesmente, para rezar e rezar pela paz”. O que o Papa espera é que isso aconteça em todas as partes, como pediu em uma carta que enviou a “todos os bispos do mundo”. Hoje, haverá “encontros de oração” que convidam “os católicos, os cristãos, os fiéis e todos os homens e mulheres de boa vontade, de qualquer religião, para que rezem pela paz”, posto que “o mundo está em guerra! O mundo sofre!”
Em seguida, uma referência à Primeira Leitura do dia, que termina assim: “Quem tapa os ouvidos ao grito do pobre, também há de clamar, mas não será ouvido”. Se, disse o Bispo de Roma, “nós, hoje, fechamos os ouvidos ao grito desta gente que sofre sob as bombas, que sofre a exploração dos traficantes de armas, pode ser que, quando caberá a nós, não obteremos respostas. Não podemos fechar os ouvidos ao grito de dor desses nossos irmãos e irmãs que sofrem com a guerra”.
E o Papa recordou que “não vemos a guerra, até nos assustamos” com “algum ato de terrorismo”, mas “isto não tem nada a ver com o que acontece nesses países, nessas terras em que diuturnamente caem as bombas” e “matam crianças, idosos, homens, mulheres...”. O Papa perguntou: “A guerra está distante? Não! Está muito perto de nós”, porque “a guerra – destacou – atinge a todos, a guerra começa no coração”.
E, por isso, Francisco invocou: “que o Senhor nos dê paz ao coração, nos tire qualquer vontade de avidez, de cobiça, de luta. Não! – exclamou. Paz, paz! Que o nosso coração seja um coração de homem e mulher de paz. Além das divisões das religiões: todos, todos, todos! Porque todos somos filhos de Deus. E Deus é Deus de paz. Não existe um deus da guerra: aquele que faz a guerra é o maligno, é o diabo, que quer matar todos”.
Diante disso tudo não pode e não deve haver divisões de fé, enfatizou Francisco. E não é suficiente agradecer ao Senhor porque, talvez, “a guerra não nos atinge. Sim, agradeçamos por isso, mas pensemos também nos outros”. Há outros? Além “dos mortos, dos feridos”, também “das pessoas (crianças e idosos) a quem a ajuda humanitária não chega com alimentos. A quem não chegam os remédios. Estão famintos, doentes! Porque as bombas impedem isso”. Enquanto, “hoje, nós rezamos, seria bom que cada um de nós sentisse vergonha”, foi o convite do Papa: vergonha “disso: que os humanos, os nossos irmãos, sejam capazes de fazer isso”. Porque o dia de hoje é “um dia de oração, de penitência, de lágrimas pela paz; dia para ouvir o grito do pobre. Este grito que abre nosso coração à misericórdia, ao amor e nos salva do egoísmo”.
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“O deus da guerra não existe”, diz o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU