25 Julho 2016
O secretário do Ambiente do estado do Rio de Janeiro, André Correa, disse ontem (20) que não é possível deixar a Baía de Guanabara em condições adequadas em menos de 25 anos. Correa concedeu entrevista coletiva ao lado de uma ecobarreira no Rio Meriti e afirmou que a meta de “despoluir 80% da baía até a Olimpíada” era “muito ousada e mal colocada”, pelo que ele avaliou como um erro de comunicação.
A reportagem é de Vinicius Lisboa, publicada por Agência Brasil, 21-07-2016.
“Qualquer pessoa que disser que essa baía estará em condições ambientalmente adequadas em menos de 25 ou 30 anos está mentindo. Não vamos fazer isso no curto prazo”, admitiu.
O secretário afirmou que apenas para resolver os problemas de despejo de esgoto na Baía de Guanabara seriam necessários mais R$ 20 bilhões para executar os planos municipais de saneamento das cidades que circulam a baía.
“Estamos falando apenas de esgoto. Só de universalizar e impedir que a carga orgânica chegue na baía”, disse ele, acrescentando que rejeitos industriais, resíduos sólidos e vazamento de óleo de navios também poluem a baía.
Correa informou que erros de planejamento e de comunicação fizeram com que o governo caísse em descrédito com a população sobre o tema. Ele lembrou que há 20 anos, quando o governo do estado obteve um empréstimo de R$ 2,5 bilhões, houve a promessa de que essa quantia seria suficiente para solucionar o problema, o que não ocorreu.
Depois, ao assumir compromissos olímpicos, o estado prometeu despoluir 80% da baía. “A gente colocou uma meta que era muito ousada, de ter a baía 80% despoluída e ninguém sabe explicar o que é esse 80%, se é de carga orgânica ou se não é. Ficou uma coisa muito mal colocada e que só contribuiu para esse descrédito original.”
Em crise, o governo do estado não tem, segundo o secretário, condições de arcar com os R$ 20 bilhões necessários. Para Correa, a única solução seria recorrer a parcerias público-privadas, o que também pode ser difícil pela situação econômica do país. “É a única saída que a gente tem. O estado não tem recursos para fazer isso”.
Para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, no entanto, o secretário afirmou que a qualidade da água não preocupa, porque as quatro raias de competição no interior da baía têm condições próprias para o contato humano.
“Isso não é mérito do governo. É a natureza que faz ali uma grande troca do mar”, disse. A partir de hoje, as condições da água serão medidas diariamente e divulgadas 48 horas depois, o que deve se estender até o fim da Paralimpíada.
A Secretaria Estadual do Ambiente informou que, mesmo na Marina da Glória, de onde saem os barcos dos velejadores, as intervenções feitas para os jogos conseguiram garantir que a água tenha boas condições.
Lixo flutuante
Ameaça ao desempenho dos competidores, o lixo flutuante tem sido combatido com 17 ecobarreiras e 13 ecobarcos. Cerca de 2,4 mil toneladas foram impedidas de chegar à baía em seis meses, com dez ecobarreiras instaladas e uma média mensal de 45 toneladas foi coletada pelos ecobarcos. Mesmo assim, André Correa afirmou que não é possível garantir que o lixo não cause problemas durante a competição.
“A probabilidade de isso acontecer é muito baixa, mas não seria leviano de garantir. Lixo zero não existe nem na Baía de Guanabara nem em qualquer baía do mundo”.
De acordo com o secretário, mudanças na governança, com maior comunicação entre os órgãos responsáveis pela baía, estão entre os legados dos jogos. Ele chamou atenção também para o destaque que o problema ambiental ganhou com a chegada da competição.
“Espero que, com o fim da Olimpíada, não pare essa cobrança.” Conforme André Correa, “a Baía de Guanabara virou a Geni [personagem escrito por Chico Buarque que era discriminada na Ópera do Malandro] e é culpa nossa, do governo. Como a gente sempre comunicou muito mal isso, acabou que os avanços ficaram obscurecidos”, concluiu.
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Despoluir Baía de Guanabara custaria R$ 20 bi e levaria 25 anos, diz secretário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU