12 Julho 2016
Dezenas de milhares de venezuelanos cruzaram a fronteira com a Colômbia neste domingo, 10-07-2016, para comprar produtos básicos e remédios. A passagem foi permitida pelo governo do presidente Nicolás Maduro. Os venezuelanos atravessaram a fronteira do estado de Táchira, no oeste do país, rumo ao estado de Norte de Santander, na Colômbia.
Nesse ponto da fronteira, delimitada por um rio, o acesso é feito por pontes. Três delas foram abertas, e pedestres puderam cruzá-las. A fronteira permaneceu aberta por 12 horas, entre as 6 horas da manhã e as 6 horas da tarde.
Em meio a uma grave crise econômica, a Venezuela passa por problemas de abastecimento de alimentos, produtos de higiene e medicamentos. Os venezuelanos precisam passar horas em filas em supermercados para adquirir esses produtos básicos.
Foto: Telesur |
“Falsa crise humanitária”
Na última terça-feira, 05-07-2016, um grupo de centenas de mulheres havia conseguido superar o bloqueio militar e forçar a passagem por uma das pontes. O governador do estado de Táchira, José Vielma Mora, que é aliado de Maduro, declarou por meio de seu Twitter que seria montado um “show midiático” sob o argumento de “uma falsa crise humanitária”. O governo rechaça essa versão, dos opositores, de que há uma crise humanitária na Venezuela. De acordo com o discurso oficial, a abertura se deu para evitar que, novamente, um grupo forçasse a passagem pela ponte, o que poderia acarretar conflitos.
{youtube}Exa54MBNGrw{/youtube}
A fronteira com a Colômbia
O governo de Maduro fechou a fronteira em agosto de 2015, alegando que ela permitia a ação de contrabandistas. É a primeira vez desde então que se permite a sua abertura. O ato é significativo porque o fechamento causou a expulsão de centenas de colombianos da Venezuela e uma crise diplomática com o país vizinho.
Como afirmou o padre jesuíta Francisco de Roux, em entrevista à IHU On-Line, “a fronteira é uma localidade de muito intercâmbio de gasolina, que vem da Venezuela muito barata e outros produtos que são subsidiados pelo governo venezuelano e que são vendidos na Colômbia”. Assim, faz-se agora o sentido inverso: se antes eram os colombianos que atravessavam a fronteira, agora são os venezuelanos que se deslocam para o país vizinho.
O petróleo e a economia venezuelana
A escassez de alimentos e remédios é a face mais visível de uma crise econômica que também inclui forte inflação e desvalorização cambial. Desde 2014, a oposição vem organizando protestos contra o governo de Maduro, e busca atualmente convocar um recall do presidente.
A Venezuela tem sua economia atrelada ao petróleo, que responde por 95% das exportações do país. O preço de referência do barril, que chegou ao pico histórico de 147 dólares em julho de 2008, hoje está em 46,5 dólares. Assim, se por um lado os ganhos com a exportação da commodity financiaram a expansão dos gastos sociais na era de Hugo Chávez, por outro lado, o baixo preço atual dificulta a recuperação econômica.
Venezuela e Mercosul
Enquanto os holofotes se voltam para a questão fronteiriça entre Venezuela e Colômbia, no Uruguai a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, informou que nos próximos dias deve haver a transferência da presidência do Mercosul para a Venezuela. "Qualquer coisa diferente nos colocaria em uma violação dos tratados constitutivos do Mercosul”, afirmou a chanceler. Brasil e Paraguai são contrários à passagem da presidência para a Venezuela. Esses países alegam que o governo de Nicolás Maduro não tem seguido princípios democráticos e, por isso, não poderia presidir o Mercosul.
Por João Flores da Cunha / IHU – Com agências
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Venezuelanos atravessam a fronteira com a Colômbia para comprar alimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU