A destruição da "Auschwitz dos armênios", o martírio que une Armênia e Síria

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27 Junho 2016

Os únicos que prestaram atenção nele foram os milicianos do Isis, que o destruíram no seu avanço na Síria. Era o memorial de Deir ez-Zor, a Auschwitz dos armênios. Que desapareceu na indiferença internacional.

A reportagem é de Simone M. Varisco, publicada no sítio Caffè Storia, 23-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Havia uma igreja, no deserto da Síria, que era o símbolo do genocídio armênio. Era a Igreja dos Mártires Armênios de Deir ez-Zor. A igreja era uma meta de peregrinação para as milhares de pessoas que, todos os dias 24 de abril, se reuniam para relembrar o genocídio.

Desde 1915, Deir ez-Zor era um dos principais destinos das marchas da morte, às quais os turcos condenaram os armênios durante o Medz Yeghern, o "grande crime".

Centenas de milhares de pessoas morreram em Deir ez-Zor e no deserto circundante. Deir ez-Zor é, para os armênios, aquilo que Auschwitz é para os judeus: a meta das deportações, o lugar onde os sobreviventes encontraram a morte, onde os seus restos mortais foram dispersos, e onde muitos foram enterrados vivos nos orifícios cársticos e queimados. Homens, mulheres e crianças, culpados de serem armênios aos olhos dos turcos otomanos e dos seus aliados alemães.

Em 1991, na cidade, a maior da Síria oriental, foi erguido um mausoléu para conservar os restos de algumas das vítimas das atrocidades turcas. Em Deir ez-Zor, os armênios tinham o seu Yad Vashem, e o complexo tinha recebido o apelido de "Auschwitz dos armênios". Além da igreja e do mausoléu, o complexo de Deir ez-Zor incluía um museu, arquivos e um monumento em memória do genocídio.

Desde o fim de 2014, o complexo de Deir ez-Zor não existe mais, destruído pela ferocidade dos milicianos do autoproclamado Estado Islâmico. Uma ferocidade que, cada vez mais, se torna remoção da história, através dos seus símbolos mais evidentes: igrejas, mesquitas, mausoléus, monumentos de arte, fé e memória.

Assim foi em Mosul, em Aleppo, em al-Raqqa, em Palmira e em centenas de outras cidades no deserto entre a Síria e o Iraque. Uma guerra contra a memória, que o Isis já perdeu antes mesmo da militar.