Por: André | 27 Junho 2016
Na catedral apostólica de Etchmiadzin, o “Vaticano armênio”, sede do Catholicos de todos os armênios, Karekin II, o Papa Francisco falou sobre as relações entre cristãos. E explicou: “quando a nossa atividade é inspirada e movida pela força do amor de Cristo, crescem o conhecimento e a estima recíprocas, criam-se melhores condições para um caminho ecumênico frutuoso e, ao mesmo tempo, mostra a toda a sociedade um caminho concreto, que pode ser percorrido para harmonizar os conflitos que dilaceram a vida civil e causam divisões”. O ecumenismo não é, portanto, um percurso que afeta apenas as relações entre as confissões cristãs. É muito mais e representa um sinal para o mundo e para a paz no mundo.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 24-06-2016. A tradução é de André Langer.
Ao chegar ao Arco de Tiridate, o Papa estava com os sapatos encobertos. Depois, quando começaram a tocar os sinos, junto com o Catholicos, fez sua entrada na Catedral ao som de um coro que cantou o hino “Hrashapar”, dedicado a São Gregório o Iluminador. Francisco e Karekin II, ao chegar diante do altar da Descida do Unigênito, beijaram a cruz e o livro dos Evangelhos. Depois se dirigiram ao altar principal onde se deram um abraço da paz. A celebração prosseguiu com a leitura alternada do Salmo 122 feita pelos dois líderes das Igrejas católica e apostólica armênia.
Depois, tomou a palavra o Catholicos, que saudou o Pontífice dizendo: “Sua visita é um renovado testemunho das relações fraternas e da colaboração entre nossas Igrejas, e é um impulso recíproco para a fé das Igrejas armênia e católica”. “Sua visita – acrescentou – nos transmite, além disso, o otimismo de que nossos testemunhos de fé, reforçados com o amor de Cristo, serão mais sentidos em nossas vidas”.
O Papa Francisco, por sua vez, em sua saudação, disse que entrou “comovido” na Catedral e agradeceu a Karekin II por ter desejado recebê-lo em Etchmiadzin, em sua residência, durante as duas noites que passará no país: é “um sinal de amor” que, de forma clara, “diz muito mais que as palavras, o que significa a amizade e a caridade fraterna”.
O Papa recordou, na sequência, que a fé cristã não tem sido para a Armênia “como uma roupa que se pode vestir ou tirar em função das circunstâncias ou conveniências, mas uma realidade constitutiva da sua própria identidade”. A Armênia foi a primeira nação “desde o ano 301, a acolher o cristianismo como sua religião, em uma época em que ainda as perseguições no Império Romano ainda eram furiosas”.
Francisco falou sobre as boas relações e sobre o diálogo que se intensificou entre as duas Igrejas, e citou os Catholicos Vasken I e Karekin I, São João Paulo II e Bento XVI. Entre as etapas significativas do compromisso ecumênico estão a “comemoração dos testemunhos da fé do século XX, no contexto do Grande Jubileu de 2000”; a entrega a Karekin II da relíquia do Pai da Armênia cristã São Gregório o Iluminador para a nova catedral de Yerevan e a declaração conjunta assinada em Etchmiadzin pelo Papa Wojtyla e o atual Catholicos. Palavras que evocam certa nostalgia, posto que na presente ocasião não haverá nenhuma declaração conjunta, pelo menos até o momento e salvo surpresas de última hora.
O mundo, continuou Francisco indicando novamente a via do ecumenismo que vê os cristãos unidos no serviço, “infelizmente, está marcado pelas divisões e os conflitos, bem como por formas graves de pobreza material e espiritual, incluindo a exploração das pessoas, entre elas crianças e anciãos, e espera dos cristãos um testemunho de estima mútua e cooperação fraterna, que faça resplandecer diante de cada consciência o poder e a verdade da ressurreição de Cristo. O esforço paciente e renovado rumo à plena unidade, a intensificação das iniciativas comuns e a colaboração entre todos os discípulos do Senhor com vistas ao bem comum, são como uma luz em uma noite escura e um apelo para viver também as diferenças na caridade e na compreensão mútua”.
O espírito ecumênico, o caminho do diálogo e da colaboração, explicou Francisco, “adquire um valor exemplar, inclusive fora dos limites visíveis da comunidade eclesial, e representa para todos um forte apelo a compor as divergências mediante o diálogo e a valorização do que une”. Além disso, recordou o Pontífice, “impede também a instrumentalização e a manipulação da fé, porque obriga a redescobrir as raízes genuínas, a comunicar, defender e propagar a verdade no respeito da dignidade de todo ser humano e com modos que transparecem na presença desse amor e daquela salvação que se quer difundir. Oferece-se deste modo ao mundo – que tem necessidade urgente disso – um testemunho convincente de que Cristo está vivo e operante, capaz de abrir sempre novos caminhos de reconciliação entre as nações, as civilizações e as religiões. Confirma-se e torna-se confiável que Deus é amor e misericórdia”.
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Para Francisco, o caminho ecumênico é um sinal para o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU