15 Junho 2016
Depois do "não" da Bulgária, Sérvia, Antioquia e Geórgia, Moscou também recua e, em um longo e detalhado comunicado, pede para adiar a data de Concílio pan-ortodoxo. O metropolita Hilarion afirma: "Todas as Igrejas devem participar do Concílio pan-ortodoxo, e só nesse caso as decisões tomadas pelo Concílio poderão ser legítimas".
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada no sítio do Servizio Informazione Religiosa (SIR), 14-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sobre o caminho íngreme que, há mais de 50 anos está levando as Igrejas ortodoxas ao Concílio pan-ortodoxo, caiu uma profunda tristeza. Foi um comunicado do Patriarcado de Moscou que congelou toda esperança. Um texto longo e detalhado, fruto de uma reunião extraordinária, presidida pelo Patriarca Kirill, que foi convocada para a segunda-feira, 13 de junho, a apenas cinco dias do início do Concílio.
Moscou explicita de maneira extremamente precisa todas as dificuldades que surgiram nos últimos dias sobre a convocação do Concílio: dos esboços dos comunicados pré-conciliares (em particular o documento sobre o matrimônio e o relativo à relação com as outras confissões cristãs), aos procedimentos estabelecidos para os trabalhos conciliares, até (e não por último) aos problemas de jurisdição entre as Igrejas de Jerusalém e de Antioquia, que, no momento atual, impedem uma comunhão eucarística.
São essas as principais questões que levaram, nos últimos dias, quatro Igrejas ortodoxas locais (Antioquia, Geórgia, Sérvia e Bulgária) a pedir que o Patriarca Bartolomeu adie a data do Concílio, enquanto três delas (Antioquia, Geórgia e Bulgária) anunciaram até que não vão participar do Concílio nas datas pré-fixadas, de 19 a 27 de junho.
A decisão do Patriarcado de Moscou chegou no fim da noite. "A única solução possível, neste caso, é continuar o trabalho de preparação do Santo e Grande Concílio e chegar a um acordo entre todas as Igrejas ortodoxas sobre a sua convocação para outra data."
E acrescenta: "No caso de que essa proposta não seja aceita pela Santa Igreja de Constantinopla ou de que o Concílio de Creta, apesar da ausência de acordo de inúmeras Igrejas ortodoxas locais, seja convocado assim mesmo", o Patriarcado de Moscou reconhece "com profundo pesar a impossibilidade de participar com uma delegação própria".
A "retirada" do Patriarcado de Moscou dá um duro golpe contra a possibilidade de pleno sucesso do Concílio. A sua convocação foi decidida em janeiro, ao término de uma reunião na Suíça, em Chambésy, de todos os patriarcas das Igrejas ortodoxas autocéfalas.
Eram 12 séculos que não se convocava um Concílio pan-ortodoxo, e era o "sonho" do Patriarca Atenágoras. Há 50 anos, estava-se trabalhando na sua realização, e o anúncio de janeiro foi apresentado como um acordo histórico.
Respondendo em uma coletiva de imprensa, o número dois do Patriarcado de Moscou, o metropolita Hilarion, explicou assim a decisão da Igreja russa: "Todas as Igrejas devem participar do Concílio pan-ortodoxo, e somente nesse caso as decisões tomadas pelo Concílio poderão ser legítimas".
As Igrejas ortodoxas representam 90% dos cerca de 200 milhões de cristãos ortodoxos do mundo. O Patriarca Bartolomeu tem jurisdição direta sobre pouquíssimos milhões de fiéis, mas goza de uma autoridade moral e espiritual credenciada em nível mundial. O Patriarca Kirill pode se dizer fortalecido pelos seus 100 milhões de fiéis na Rússia e no mundo, mas a sua liderança é fortemente condicionada pelo poder político russo e pela influência do presidente Putin.
O que mais surpreende Nikos Tzoitis, analista do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, é que, em janeiro, "todos estavam de acordo". A decisão de Moscou de recuar, agora, não o surpreende mais tanto. Entristece-o.
"A uma semana do início do Concílio – afirma – começou-se a pedir que a mesa das discussões fosse redonda e não em Pi grego."
Também tinham sido dadas, desde o início, as condições para a participação das delegações das outras confissões cristãs, chegando ao compromisso de uma presença delas nos trabalhos conciliares apenas no primeiro e no último dias.
De acordo com Tzoitis, da parte do Patriarcado de Moscou, há "a dificuldade de lidar com a realidade, e isso é demonstrado pelo fato de que não há problemas de natureza dogmática. Existe, sim, uma visão, infelizmente, ainda vinculada a uma tradição estéril, incapaz de enfrentar os problemas de hoje e de dar uma resposta".
Agora, é preciso entender o que vai acontecer em Creta, mas Nikos Tzoitis está certo: "O Sínodo – diz – vai começar os seus trabalhos, conforme estabelecidos, na segunda-feira, 19 de junho. Não pode ser o Patriarca Bartolomeu sozinho que decida o seu adiamento. Será o Sínodo, e só nesse contexto é que serão tomadas as decisões sobre o caminho a seguir. Esse é o sistema sinodal."
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O "não" do Patriarcado de Moscou: "Ou todos estão presentes ou as decisões não são legítimas" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU