03 Junho 2016
O ser humano, em algum momento, na sua existência conviverá com a pergunta pelas origens. Ele busca saber como tudo aconteceu até aqui. Nele desvela-se um anseio profundo. Não foram unânimes as respostas, mas buscaram com muitas nuances uma resposta adequada para cada tempo. Ela fez companhia às tradições bíblicas e hoje permanece inquietante e desafiadora desde as pessoas mais simples até os cientistas com seus laboratórios sofisticados.
A vida como irrupção de uma pergunta, não é apenas a humana, mas a existência complexa, perpassando uma singularidade atinge uma diversidade de seres. Ela possui exigências mínimas e propriedades estruturais e dinâmicas indispensáveis. Os seres vivos compartilham uma tríplice característica: reprodução, mutação e metabolismo.
Há 3,5 bilhões de anos, a vida complexa encontrou no planeta Terra as condições necessárias para se desenvolver e emergir no seu esplendor. A vida humana apenas registra 200 mil anos de existência. De modo geral, não é possível afirmar a existência de vida “extra-terra”. Nada foi constatado e comprovado pela ciência. A ausência de comprovação não impossibilita outras existências, sobretudo porque não damos conta de penetrar no mistério do Universo.
O ser humano, na busca pelas origens, investe em narrativas e em tecnologias. Os métodos são diferentes, mas os anseios são os mesmos: um busca um sentido para o existir de tudo, o outro procura uma comprovação efetiva desse existir. Ambos são tentados pela pretensão de “dominar” e “submeter”. Não obstante encontram os instrumentais para realizarem tal feito.
A narrativa bíblica não é excludente de uma teoria científica. Seu propósito está na busca de um sentido para tudo que existe, consequentemente na presença de Deus (que é Criador). Ela é uma imagem ou convicção tardia na experiência humana e religiosa de Israel. A experiência mais marcante foi de libertação, que inclusive inaugura um novo relacionar com a terra: “ter tudo sem possuir nada”. Aos poucos isso foi permanecendo no esquecimento.
A fé num Deus Criador reavivou essa perspectiva. É um dom, que exige uma responsabilidade. O imperativo de “submeter e dominar” é traduzido como “cuidar”, que sem muitas delongas tornou-se motivo e argumento de dominação e exploração. Nele expressa-se que outros interesses foram mais interessantes que a dádiva de uma terra. Nesse horizonte, pode-se pensar a vida na sua complexidade, ele irrompe sem pedir licença, chega sem avisar.
Quase somos forçados a dizer como Chicó, no Auto da Compadecida: “não sei, só sei que é assim”. Não é um determinismo imobilizador. Mas, encontra-se na dinâmica do mistério, que irrompe no esplendor de cada desdobramento, reconhecendo a dignidade de cada ser, desde microcosmos até macrocosmos. É o mistério nosso de cada dia. Ainda cabe uma pergunta: Por que o ser humano investe tanto para saber suas origens?
Hans Küng, teólogo suiço, no Cadernos Teologia Pública, edição 44, apresenta uma contribuição significativa no debate entre ciências naturais, religião e teologia. Busca uma reflexão lúcida da questão da vida desde os principais confrontos entre teoria da evolução de Darwin, biologia molecular e teologia da criação. Não é suficiente permanecer em “eternos” embates, que não consideram aquilo que é importante e complementar através de uma disposição para o diálogo.
O texto está organizado da seguinte maneira:
1. Desde quando existe vida?
2. Estamos sós no universo?
3. Uma busca infrutífera
4. Como surgiu a vida?
5. Predominância do acaso?
6. Seria Deus supérfluo?
7. Por que um cosmos propício à vida?
8. Um princípio antrópico?
9. “A luz inacessível”
Para acessar o texto: clique aqui
Hans Küng, doutor em Teologia pela Pontificia Universidade Gregoriana, professor emérito na Universidade de Tübingen, fundador do Instituto de Pesquisas Ecumênicas e do Projeto de Ética Mundial. Autor de vários livros:
A igreja tem salvação? (São Paulo: Paulus, 2012)
O princípio de todas as coisas: ciências naturais e religião (Petrópolis: Vozes, 2009)
Umstrittene Wahrheit: erinnerungen (München: Piper, 2007)
Éticas da mundialidade (São Paulo: Paulinas, 2000)
Uma ética global para a política e a economia mundiais (Petrópolis: Vozes, 1999)
Morir con dignidad (Madrid: Trotta, 1997)
Projeto de Ética Mundial (São Paulo: Paulinas, 1992)
O que deve permanecer na Igreja (Petrópolis: Vozes, 1976)
Ser cristão (Rio de Janeiro: Imago, 1976)
A Igreja (Lisboa: Moraes, 1969)
Para que o mundo creia (Rio de Janeiro: Agir, 1966)
Por Jéferson Ferreira Rodrigues
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A origem da vida: existe uma resposta plausível? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU