Por: André | 16 Março 2016
O primeiro ministro da França, Manuel Valls, pediu ao arcebispo de Lyon, o cardeal Philippe Barbarin, para que “assuma suas responsabilidades”, depois que uma associação de vítimas lançou duras críticas por não ter levado à Justiça e por ter ocultado os crimes cometidos por um padre pederasta. “Nunca, nunca, nunca encobri o mínimo ato de pederastia”, foi a resposta do cardeal.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 15-03-2016. A tradução é de André Langer.
“Tem que assumir suas responsabilidades, falar e agir”, afirmou Valls em uma entrevista concedida à emissora francesa RMC.
O cardeal Barbarin, por sua vez, negou as acusações em uma coletiva de imprensa paralela à assembleia anual dos bispos franceses. “Nunca acobertei atos de pederastia”, disse, segundo a France Press. Philippe Barbarin é denunciado por ocultamento e também é acusado por colocar em perigo vida alheia e provocação ao suicídio, em um caso vinculado ao Pe. Jérôme Billioud.
Uma primeira denúncia apresentada contra Billioud em 2009 foi arquivada, porque os atos prescreveram, e outra foi apresentada em fevereiro contra Barbarin, que foi divulgada nesta terça-feira.
O demandante, um homem que tem agora 42 anos e tinha 16 e 19 quando aconteceram as supostas agressões, assinalou ao jornal Le Figaro que o cardeal não fez nada para afastar este padre de seu cargo, apesar de que supostamente tinha conhecimento do seu comportamento.
“Nunca, nunca, nunca encobri o mínimo ato de pederastia”, disse Barbarin na terça-feira em uma coletiva de imprensa, na qual acrescentou que após essa nova denúncia pediu a Billioud que abandone o seu ministério até que a Justiça se pronuncie.
O presidente da Conferência Episcopal da França, Georges Pontier, por sua vez, falou nesta terça-feira aos seus bispos que é prioritário esclarecer a atual polêmica que sacudiu a diocese de Lyon por supostos casos de pederastia.
“Esclarecer a verdade para as vítimas. Essa prioridade deve guiar todas as nossas ações nestes casos tão dolorosos”, disse na abertura, em Lourdes, da assembleia plenária episcopal, da qual participam cerca de 120 bispos.
Na terça-feira, supostas vítimas de abusos por parte de um padre da diocese de Lyon, no sul da França, escreveram uma carta ao Papa Francisco para solicitar-lhe uma audiência privada no Vaticano e explicações sobre a gestão destes casos, que mancharam também Barbarin.
Os assinantes, agrupados na Associação La Parole Liberée, se apresentam como vítimas do “padre pederasta Bernard Preynat” e destacam que “muitas pessoas foram cúmplices por seu comportamento e seu silêncio na década de 1970”.
O jornal Le Parisien publica extratos dessa carta e recorda que a polêmica na diocese de Lyon atinge esse padre, que na década de 1990 foi transferido de paróquia para evitar o escândalo, e também o arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin, denunciado por acobertamento.
O primeiro, de 71 anos, foi acusado em janeiro passado por suposta agressão sexual, ao passo que o segundo é objeto de uma investigação judicial por ausência de denúncia e colocação em perigo de vida alheia.
“Temos a impressão de que o nosso pedido de verdade causa vergonha e de que a palavra não é bem-vinda”, dizem os três assinantes, que pedem ao papa que dedique tempo para conhecê-los e ajudá-los a “entender” como um padre cujo comportamento era conhecido pôde estar ativo até agosto passado.
As três supostas vítimas, segundo o Le Parisien, querem saber por que o arcebispo não o afastou antes, embora estivesse informado desde 2007, e por que demorou seis meses para aplicar a punição ditada em Roma, que o proibiu de manter contato com crianças.
“Ao se fechar no silêncio, o nosso cardeal perdeu toda a credibilidade. Essa é a razão pela qual fazemos hoje [ontem] um apelo ao Papa Francisco, que tem a nossa confiança. Para nós, ele é a referência moral suprema”, disse ao jornal um desses três remetentes, Bertrand Virieux, cardiologista de profissão.
Na carta enviada a Roma e assinada em Lyon não há um pedido de destituição do arcebispo, mas ao se dirigirem diretamente ao papa, acrescenta o jornal, seus assinantes sabem que vão contar com alguém que vai estar na escuta.
Francisco, o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta, criou em maio de 2013 uma comissão para a prevenção dos casos de pederastia na Igreja e, mediante um motu proprio, aprovou a reforma do código penal da Santa Sé, que contempla e reforça as sanções contra esse tipo de prática.
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“Nunca, nunca, nunca encobri o mínimo ato de pederastia”, diz Philippe Barbarin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU