16 Março 2016
O Concílio Vaticano II foi um momento marcante na experiência eclesial da Igreja católica. Convocado por João XXIII, no dia 25 de dezembro de 1961, foi acolhido com certas resistências e reservas. Os bispos e peritos discutiram as questões importantes, para aquele tempo, em 4 sessões, entre 11 de outubro de 1962 e 08 de dezembro de 1965.
A Igreja católica não inicia no Concílio Vaticano II. É uma tentação contemporânea, sobretudo das gerações que viveram a Igreja pré-Vaticano II sem muito entendê-la, e as gerações desses tempos que ao incensarem em demasia o pós-Vaticano II esquecem do legado milenar da experiência de fé cristã, no contexto católico, inclusive como um espaço vital para tal experiência.
Entretanto, é verdade que a partir do Concílio Vaticano II a Igreja compreende-se desde uma nova percepção: uma abertura aos outros. O outro entendido na sua pluralidade interna e externa. A Igreja como “sociedade perfeita” dá lugar a uma compreensão de Igreja Mistério, Comunhão, Povo de Deus (ver. Lumen Gentium).
É uma Igreja dialogal e dialogante. Não teme abrir-se para um diálogo franco e honesto com as culturas, ciências, sociedades de seus tempos. A ousadia de escutar os “sinais dos tempos” é um percurso salutar para buscar uma contínua (re)interpretação da autenticidade da própria experiência de fé numa comunidade eclesial.
Christoph Theobald, no Cadernos Teologia Pública, edição 96, aprofunda as potencialidades de futuro da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, na busca de uma fé que saiba interpretar o que advém. Com a referência nos “sinais dos tempos” a Igreja se propõe a exigência evangélica da “encarnação” de sua dimensão “espiritual” acentuada na Lumen Gentium.
A Igreja Mistério precisa encontrar ressonância na vida das pessoas, e como tal, clarear as suas convicções através de uma relevância pública da própria fé. Os problemas de 1965 não são os mesmos de 2016, nesse sentido, Theobald sinaliza que o horizonte de discernimentos dos “sinais dos tempos”, que em cada tempo, precisa da relevante e honesta composição de uma “constelação” cultural e espiritual.
Theobald identifica duas potencialidade de futuro na Gaudium et Spes, a saber: 1) a diferença entre o discernimento dos “sinais dos tempos” como método (ou maneira de proceder) e seu resultado; 2) uma visão messiânica da história da humanidade e da Igreja em seu seio. Desse modo, sugere como hipótese principal o seguinte:
“Porque não basta inserir este ou aquele fenômeno
mais ou menos novo no marco epistemológico e doutrinal
delineado por Gaudium et Spes;
é este marco que precisa ser redesenhado hoje,
em função das novas condições
que nossa situação atual impõe à ‘fé’ e, em particular, à fé cristã”
O texto está organizado na seguinte forma:
1. De uma constelação histórico-teológica a outra
2. Para um modus procedendi ajustado à situação atual do planeta
3. Para uma nova visão messiânica
Christoph Theobald, teólogo jesuíta, professor de Teologia Fundamental e Dogmática na Faculdade de Teologia do Centre-Sèvres, em Paris. É um dos maiores especialistas no Concílio Vaticano II, autor do livro, recentemente traduzido para o português “A Recepção do Concílio Vaticano II. Vol. I. Acesso à fonte” (São Leopoldo: Editora Unisinos, 2015). Redator-chefe adjunto da revista Recherches de Science Religieuse. Possui diversos trabalhos em história da exegese e dos dogmas, em teologia sistemática nos diversos tratados (Cristologia, Trindade, Criação, Antropologia, Eclesiologia).
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Por Jéferson Ferreira Rodrigues
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Gaudium et Spes, 50 anos depois: Por uma fé que sabe interpretar o que advém - Instituto Humanitas Unisinos - IHU