Por: Jonas | 15 Março 2016
O que nós, filhos de uma sociedade imediatista, barulhenta e imparável, podemos aprender com a audição da obra Paixão Segundo São Mateus – BWV 244, de Johann Sebastian Bach? A resposta está no coração de cada um que se permite esta experiência e foi isto que aconteceu no dia 12 de março, em uma audição comentada memorável, promovida pelo CJCIAS/CEPAT, com o apoio do Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Quem nos conduziu pelos caminhos da obra de Bach foi a professora Yara Caznok (UNESP-SP), uma grande conhecedora de música e detentora de uma sensibilidade ímpar, capaz de cativar a todos e todas.
Fonte: CJCIAS/CEPAT |
O relato é de Jonas Jorge da Silva, da equipe do CJCIAS/CEPAT.
Paixão Segundo São Mateus é uma verdadeira obra de conversão, que convida todos nós a perscrutarmos o caminho da espiritualidade mais profunda, aquela que preenche o coração ao ponto de nos tirar da agitação vazia, rumo a uma caminhada plena de sentido.
Com a introdução e comentários de Caznok, ao poucos a narrativa da Paixão do Senhor Jesus, magnificamente interpretada musicalmente por Bach, vai se tornando uma realidade tangível, com os mínimos detalhes trabalhados pelo compositor, capaz de expressar os sentimentos que brotam de cada episódio da narrativa evangélica. Esta é a grandeza da arte, conforme bem frisou a nossa assessora, que entre tantos significados pode ser entendida como “uma força de pensamento” que nos faz pensar coisas de nossa intimidade, de nosso modo de se enxergar no mundo.
De fato, durante a audição da Paixão Segundo São Mateus, com o auxílio da belíssima tradução do texto, gentilmente preparada pela assessora, é quase impossível não se colocar presente nas cenas bíblicas, com sua variedade de entradas e caminhos. Como ficar imune à aflição derivada da negação do discípulo Pedro: “Tem piedade, Deus meu/ Das minhas lágrimas!/ Diante de ti, coração e olhos choram amargamente”. E como não interiorizar e questionar a si mesmo, diante da profunda reflexão interior proposta por Bach? “Se sou igual e me afastei de ti, eis-me novamente presente;/ Teu filho fez-se igual a nós/ No temor e no sofrimento da morte/ Não nego a culpa, mas tua graça e benevolência são muito maiores que o pecado que permanecem em mim”.
Fonte: CJCIAS/CEPAT |
Sim, a graça de Deus! Sem este auxílio, ficaríamos presos às nossas limitações humanas. Bach parece conhecer profundamente nossas contradições e faz da música um instrumento de purificação e de expiação. E, aos poucos, todos vão ganhando consciência das consequências dos atos de negação e traição, da condição humana de pecado. Afinal, “Ele fez o bem a todos/ Aos cegos deu vista, os paralíticos fez andar, deu-nos a palavra do Pai, expulsou os demônios, consolou os aflitos, acolheu os pecadores./ Outra coisa não fez o meu Jesus”. Como, então, não refletir sobre a misericórdia de Deus e o que ela significa para cada um de nós?
Paixão Segundo São Mateus é uma obra completa, que nos convida a entrar na vivência do calvário de Jesus, que foi até as últimas consequências, entregando a própria vida para redimir a humanidade. Além disso, como bem frisou Caznok, a força da composição de Bach atravessa os séculos e é uma demonstração de que a arte é também uma ponte com a história, capaz de nos introduzir na profundidade e grandiosidade de um canto litúrgico que marcou época e que se tornou um clássico de inesgotável valor, capaz de tocar o coração de todos aqueles que ousam adentrar compassadamente na riqueza de detalhes desta obra, que é um verdadeiro instrumento de encontro com a Paixão de Jesus.
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Paixão Segundo São Mateus: uma obra musical plena de sentido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU