17 Fevereiro 2016
Doze dias de Che” Guevara (sem as suas capacidades militares) vinte anos de resistência gandhiana (sem meter-nos a face sempre desfigurada por um passa-montanha). Em fim de maio serão dois anos desde o anúncio com o qual o subcomandante Marcos comunicou a sua “morte”.
O comentário é de Roberto Romagnoli, publicado por Il Messaggero, 16-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
O Adeus
“Morte” de um personagem ou fim de sua liderança do movimento rebelde?
Desapareceu por aproximadamente um ano para depois reaparecer em maio de 2015 para uma cerimônia em honra de José Luis Solis López “Galeano”, ensinante e líder zapatista morto numa emboscada.
Naquele dia Marcos se dirigiu a “aqueles que entendem”, afirmando que “não pode ir embora quem jamais esteve aqui” e que “não há morte para quem jamais viveu”.
Na conclusão de seu discurso Marcos “renasceu” como “subcomandante insurgido Galeano”.
Desde então desapareceu de novo. Ricardo Del Muro, diretor do cotidiano Heraldo de Chiapas, confirma que “dele jamais se teve alguma notícia”, mas “quem pode dizer que não desponte fora de novo?”.
Como aquela névoa matinal de primeiro de janeiro de 1994, quando o Exército Zapatista de Libertação Nacional, após dez anos de gestação na selva Lancadona, se apresentou ao mundo desfilando pelas poeirentas estradas de San Cristóbal de las Casas.
Naquele mesmo dia o México entrava no “primeiro mundo” graças à subscrição do Tratado de Livre Comércio com EUA e Canadá. Os zapatistas arruinaram a festa apresentando ao mundo o conto de uma desigualdade social que expulsava os índios mexicanos.
Chegou o exército, houve doze dias de guerra com centenas de mortos, depois o presidente De Gortari ordenou o cessar fogo e o encaminhamento de uma negociação. Marcos e o exército zapatista se transformaram num movimento de resistência não violento que ainda hoje tem motivo de existir, visto que os indígenas do Chiapas, por quase 77% vive em condições de pobreza ou extrema pobreza.
O crescimento do México nos últimos vinte anos serviu de fato para ampliar a riqueza per capita, mas sem atacar a taxa de pobreza que entre os indígenas é quatro vezes superior à média. E frequentemente, na base desta pobreza, há um componente discriminador que se traduz (fonte Oxfam, junho de 2015) em salários que, no setor agrícola, são inferiores em mais de 50% para os indígenas.
A sublevação guiada por Marcos tinha como objetivo precisamente aquele de melhorar as condições de vida dos indígenas. O misterioso subcomandante – que se trate do agora com 57 anos Rafael Sebastián Guillén Vicente ainda hoje não é certo – não tinha objetivos de conquista do poder, nem ideia de engrossar as fileiras dos tantos movimentos de guerrilha da América Latina. Num quase total silêncio conduziu a sua “guerra”. E por isto o seu silêncio poderia significar que sua luta continua.
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O “reino” do misterioso subcomandante Marcos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU