Por: MpvM | 04 Mai 2018
Jesus encorajou seus discípulos e discípulas lá nos primórdios da igreja e encoraja a nós também para irmos e darmos frutos pela vivência do amor. E continua a afirmar que o Pai nos dará tudo que pedirmos em seu nome. Porém, ordena: “o que eu mando é isto: amem-se uns aos outros”. Portanto, a vivência deste amor gratuito de Deus cria e recria relações justas e fraternas, inclusivas e solidárias, de alteridade. Supera barreiras e ultrapassa toda forma de rito, raça, gênero, etnia, culturas e faz com que “o fruto permaneça” em nossos corações, derramado pelo dom do Espírito Santo.
A reflexão é de Maria Josete Rech, religiosa da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora - IENS. Ela possui graduação em Teologia (1995) e Mestrado em Teologia Bíblica (2016) pela Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul - PUCRS e especialização em assessoria bíblica (2011) pela Escola Superior de Teologia - EST, São Leopoldo. Atualmente atua como agente de pastoral em Santo Antônio da Patrulha, na Diocese de Osório/RS.
Referências bíblicas
1ª Leitura – At 10,25-26.34-35.44-48
Salmo 97 (98), 1-3ab.3cd-4
2ª Leitura – 1 Jo 4,7-10
Evangelho – Jo 15,9-17
Saboreando a liturgia do Tempo Pascal, e aproximando-nos das Festas da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, com alegria, venho partilhar alguns pontos que considero importantes ressaltar para o aprofundamento da Liturgia da Palavra deste 6º Domingo da Páscoa.
Nas leituras deste domingo percebemos dois elementos constitutivos e fundantes da formação (permanente) da igreja: a ação do Espírito Santo e a vivência do amor de Deus, revelado por Jesus Cristo.
No intuito de contribuir no aprofundamento da Palavra de Deus, proposta neste 6º Domingo Pascal, menciono algumas características gerais da literatura de Lucas, como também da literatura Joanina.
O livro dos Atos dos Apóstolos foi escrito por São Lucas, o mesmo que escreveu o terceiro Evangelho. Isto, por volta dos anos 80 e 90 d.C., num período em que alguns que professavam a fé judaica haviam aderido à fé cristã, e não eram aceitos nas sinagogas. Muitos já haviam sido expulsos das sinagogas e reuniam-se em suas próprias casas para fazer memória da vida de Jesus. Um novo jeito de viver a fé em Jesus Cristo estava emergindo.
São Lucas, no Evangelho, apresenta o caminho de Jesus, desde a sua concepção até a sua ascensão. Inicia-se na Galileia (Lc 1,36), em Nazaré, e vai concluir em Jerusalém. No capítulo 24,52b-53, diz que Jesus chamou os discípulos e discípulas para Betânia e enquanto abençoava, “afastou-se deles e foi elevado para o céu”. E os discípulos e as discípulas “voltaram para Jerusalém com alegria, e estavam sempre no templo, bendizendo a Deus”.
Nos Atos dos Apóstolos, Lucas apresenta o caminho da Igreja, impulsionada pelos dons do Espírito Santo. Tudo começa em Jerusalém e expande-se para fora, para a Samaria e além da Palestina. Em At 1, 1-8 começa relatando que Jesus ressuscitado deu instruções aos apóstolos, em Jerusalém. Pediu para que não se afastassem de Jerusalém até que se realizasse a promessa do Pai, pois “serão batizados com o Espírito Santo” e dele “receberão forças para serem testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e até os extremos da terra”. O Espírito Santo é o protagonista da missão. Assim como agiu na vida de Jesus de Nazaré, vai continuar agindo, fazendo a Igreja nascer, para dar continuidade à missão de Jesus.
Percebemos isso na própria estrutura de livro dos Atos dos Apóstolos. Lucas nos ajuda a ver a missão libertadora de Jesus na força do Espírito Santo, expandindo-se pelo testemunho fiel de seus seguidores e seguidoras. Primeiramente relata a Igreja de Jerusalém (cap. 1,12-5,42); as primeiras missões (cap. 6-12); a missão de Barnabé e Paulo – o concílio de Jerusalém (cap. 13-15); as missões de Paulo (cap. 16-19); e o fim das missões (cap. 19,21-28, 31).
A primeira leitura (At 10, 25-26.34-35.44-48) situa-se dentro do contexto das primeiras missões das testemunhas oculares, já fora de Jerusalém. Lucas ressalta dois personagens: Pedro e sua equipe anunciando o Evangelho, e Cornélio, um centurião itálico simpatizante do judaísmo e considerado pagão. Pedro está em Jope, fora de Jerusalém, porém ainda na Judeia, aproximando-se do território da Samaria. Cornélio e sua família estão na cidade de Cesária, região portuária do território da Samaria, próximo à região Siro-Fenícia, conforme o mapa da Palestina do Novo Testamento. Tudo aponta para o encontro do Evangelho com pessoas de outras culturas. O Espírito Santo conduz Pedro e sua equipe ao encontro dos pagãos. O amor de Deus não tem limites!
O Espírito Santo acolhido em nossas vidas gera encontro, hospitalidade e dá frutos no amor fraterno. O Espírito de Deus sempre está a nos desafiar, a alargar nossa mente e coração para acolher e agir de forma que o Evangelho seja sempre mais vivido entre nós, nas famílias, nas comunidades e entre os povos, pois a salvação é para todos. A Boa Nova de Jesus é universal!
Neste sentido, somos convidados(as) a cantar a Deus que fez conhecer sua vitória, revelando sua justiça divina às nações pelo seu amor e fidelidade, como nos diz o Salmo 97(98). A proposta de salvação é estendida a todos os povos. A terra inteira deve aclamar o reinado de Deus, porque sua justiça triunfa através do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo pela força do Espírito Santo.
Na segunda leitura (1 Jo 4,7-10), S. João nos pede que “amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus”. Alerta-nos para acolher este dom do Espírito Santo, porque “todo aquele (a) que ama, nasce de Deus e conhece a Deus”. E “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. E esse amor tornou-se visível porque Deus enviou seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele. Portanto, somos exortados pela Palavra para nos deixarmos amar pelo amor do Filho de Deus para darmos vida e esperança ao mundo, em meio a tantas violências e desesperanças.
O Evangelho (Jo 15,9-17) situa-se na segunda parte do Evangelho de João, capítulos 13-20, onde o evangelista salienta a importância do amor, narrando o supremo sinal: a volta de Jesus ao Pai. Deus nos dá a certeza de que seu amor, manifestado em Jesus Cristo, pela sua encarnação, vida, paixão, morte e ressurreição é a centralidade da fé cristã para a vida no mundo, e vida em comunidade.
Jesus está dialogando e fazendo suas últimas recomendações com suas discípulas e seus discípulos sobre o amor dele e do Pai. Manifestando-se claramente: “assim como o Pai me amou, eu também vos amei”. Insiste para que permaneçamos no seu amor – amor ágape, que se doa, incondicionalmente, em favor da vida, na sua plenitude. Recomenda que obedeçamos a seu mandamento assim como ele obedeceu ao mandamento de seu Pai. Isto, para que a alegria dele esteja conosco e a nossa alegria seja completa.
Jesus, neste diálogo amoroso, confirma ser nosso amigo, e chama-nos de amigos e amigas porque comunicou tudo o que ouviu de seu Pai, a ponto de entregar sua própria vida por amor a nós. De fato, para sermos amigas e amigos dele precisamos praticar o que nos ordena: “amem-se uns aos outros”. Deus, no seu infinito amor, nos escolheu e predestinou a sermos discípulas e discípulos de seu Filho Jesus “para ir e dar frutos” na missão. Assim como aconteceu com Pedro e sua equipe quando foram à casa de Cornélio. Discernir sempre as moções do Espírito de Deus agindo nas pessoas, nos fatos e acontecimentos da vida.
Concluindo: Jesus encorajou seus discípulos e discípulas lá nos primórdios da igreja e encoraja a nós também para irmos e darmos frutos pela vivência do amor. E continua a afirmar que o Pai nos dará tudo que pedirmos em seu nome. Porém, ordena: “o que eu mando é isto: amem-se uns aos outros”. Portanto, a vivência deste amor gratuito de Deus cria e recria relações justas e fraternas, inclusivas e solidárias, de alteridade. Supera barreiras e ultrapassa toda forma de rito, raça, gênero, etnia, culturas e faz com que “o fruto permaneça” em nossos corações, derramado pelo dom do Espírito Santo.
Irmãs e irmãos, para que nossa alegria seja completa e a missão de Jesus continue a se expandir, sejamos discípulas e discípulos fiéis deste amor de Deus. Saiamos ao encontro do outro, sobretudo daquelas e daqueles que gritam por mais vida, dignidade, esperança, enfim, AMOR!
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6º domingo da Páscoa - Ano B - Permanecei no meu amor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU