01 Dezembro 2011
"A ciência é uma narrativa que se ocupa do mistério, do não saber. Ela não tem capítulo final. Seu foco não é a busca pela verdade, mas por uma descrição do mundo que esteja de acordo com nossas observações". A afirmação é do físico brasileiro Prof. Dr. Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover, nos EUA.
E é Gleiser quem fará a conferência de abertura do XIII Simpósio Internacional IHU - Igreja, cultura e sociedade A semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica, que será realizado na Unisinos, em outubro de 2012. Ele irá oferecer a sua reflexão sobre As novas gramáticas que emergem hoje das ciências.
Para ele, a ciência, "no aspecto mais puro e humano", é "como uma busca por transcendência, em que o espírito humano se une ao mundo natural para criar novas formas de pensar a nossa existência e, por meio da tecnologia, para criar expressões materiais dessa comunhão". Por isso, afirma, "os caminhos da razão e do espírito são um só, simbolizando a essência do ser humano, que é a busca por significado num mundo cheio de mistérios".
Graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado pelo King`s College, de Londres, Gleiser também é articulista do jornal Folha de S.Paulo desde 1997. Foi duas vezes ganhador do Prêmio Jabuti, em 1998 pelo seu livro A Dança do Universo (Companhia das Letras, 1997) e em 2002 por O Fim da Terra e do Céu (Companhia das Letras, 2001). Dentre outras obras, também é autor de Criação Imperfeita (Record, 2010) e de Conversa sobre Fé e Ciência (Agir, 2011), em coautoria de Frei Betto.
Para contribuir com o debate sobre a semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da tecnociência, Gleiser trará sua experiência como pesquisador premiado pela Casa Branca e pelo CNPq. Em 2006, ele também apresentou um quadro no programa dominical Fantástico, da Rede Globo, chamado Poeira das Estrelas. Essa série, que buscava desvendar os mistérios da natureza, do cosmos, das descobertas e teorias científicas, virou um livro homônimo, publicado em coautoria de Frederico Neves pela Editora Globo.
Segundo Gleiser, "somos criaturas feitas de matéria, mas temos algo mais. Somos átomos animados capazes de autorreflexão, de perguntar quem somos". Nesse sentido, precisamos de "novo tipo de espiritualidade, que nos levará a uma existência mais equilibrada, onde o material e o espiritual mantêm um balanço dinâmico".
"O material sem o espiritual é cego – afirma –, e o espiritual sem o material é fantasia. Nossa humanidade reside na interseção dos dois". Assim como a interseção ciência-religião, em sua opinião, é extremamente válida para pensarmos "as três origens": a do Universo, a da vida e a da mente.
Essa interseção também estará em foco no XIII Simpósio Internacional IHU, no debate Fé e ciência: um diálogo possível?, entre Gleiser e o Prof. Dr. George Coyne, do Vatican Observatory, da Universidade do Arizona, dos EUA.
"Precisamos conhecer nossas origens. E, desde os primórdios, olhamos para os céus em busca de respostas. Hoje, sabemos que somos aglomerados de poeira estelar dotados de consciência", comenta Gleiser. Segundo ele, "a compreensão dos fenômenos naturais, dos mais simples aos mais profundos, deveria apenas fortalecer nossa espiritualidade. A racionalidade e a espiritualidade são aspectos complementares".
E mesmo que "as perguntas que fazemos hoje foram já feitas há milênios de anos na savana africana, nas pirâmides do Egito, nas colinas do monte Olimpo e na selva amazônica", defende Gleiser, "o que mudou foi a natureza da explicação". Justamente essa mudança e suas interseções com a semântica do Mistério da Igreja é que estarão em debate no XIII Simpósio Internacional IHU, que contará com a presença de diversos outros conferencistas internacionais e nacionais.
Confira aqui o programa. Para mais informações, escreva para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
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As novas gramáticas que emergem hoje das ciências. Um desafio para a semântica do Mistério da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU