Durante a assembléia da
Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), realizada dias 2 e 3 de junho, em Salvador, Bahia, um painel sobre o tema da intolerância religiosa ofereceu expressivas matizes para uma interpretação propositiva das dinâmicas inter-religiosas ao redor do mundo.
A reportagem é de
Marcelo Schneider e publicada pela
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 07-06-2011.
A
Bahia, e especialmente Salvador, é um dos mais fervorosos caldeirões religiosos da América Latina, composto, em sua maioria, por expressões de fé de matriz africana, de diferentes igrejas cristãs e grupos espíritas.
São muitos os exemplos de diversidade e mistura de elementos de diferentes tradições religiosas. Na Igreja do
Bonfim, por exemplo, que é um dos marcos da presença católica-romana na capital, não raro sacerdotes do candomblé se colocam do lado de fora para oferecer passes e limpezas espirituais aos turistas que entram ou saem do histórico templo.
Apesar de reconhecerem que a intolerância religiosa tem estado presente ao longo da história e durante toda a caminhada das igrejas, as apresentações dos painelistas e as reações da plenária revelaram o rechaço unânime a esse tipo de manifestação.
“Somos todos iguais diante de Deus. No projeto divino para o ser humano não há lugar para o preconceito, a marginalização e a demonização de religiões que sejam diferentes das nossas”, afirmou um dos palestrantes, o pastor
Djalma Torres, da Igreja Batista Nazaré, presidente do Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristãos (CEPESC).
A caminhada de vida e o significado místico dos exemplos dados em vida por
Irmã Dulce, que atuou na Bahia e recentemente beatificada pela Igreja Católica, foi lembrada pelo antropólogo
Jaime Sodré, que apresentou alguns elementos-chave para o diálogo e cooperação inter-religioso a partir do
Candomblé.
“A
Irmã Dulce nunca discriminou ninguém. Quando as pessoas chegavam ao hospital em busca de ajuda, ela não exigia nenhum atestado de fé católica, mas mostrava uma atenção integral a todas as pessoas socialmente vulneráveis. Para muitos de nós, do
Candomblé, ela já é santa pelos seus feitos”, disse.
“A intolerância religiosa é uma das facetas do racismo”, afirmou o secretário municipal da Reparação da cidade de Salvador,
Ailton Ferreira. Ele apontou a questão do preconceito e das represálias a outras expressões de fé como algo fortemente direcionado ao povo negro, cigano ou indígena.
Falando em nome da CESE, a diretora executiva
Eliana Rolemberg lembrou que o organismo ecumênico tem feito esforços para promover espaços de troca de experiências e conhecimento mútuo, como a proposta “
Construindo Diálogos”, que, em 2010, reuniu pessoas ligadas às igrejas associadas à CESE e outras igrejas - principalmente batistas - à
Universal do Reino de Deus e a terreiros de candomblé.
“Temos também a proposta de elaboração de uma cartilha que chame atenção para a importância do tema da intolerância religiosa”, afirmou.
O tema da intolerância ganhou aportes teológicos durante o debate em plenária. Para o padre
Elias Wolff, assessor da Comissão Episcopal para o Diálogo Ecumênico e Interreligioso, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “nossa afirmação da liberdade religiosa está baseada na dignidade da pessoa. Todos têm o direito de se expressar de acordo com a própria consciência graças à liberdade dada na revelação de Deus. A intolerância, portanto, fere tanto a liberdade da pessoa como o princípio de fé dos cristãos”, assinalou.
“A bricolagem da fé está aí”, apontou o reverendo
Arthur Cavalcante, secretário geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, lembrando que o sincretismo também está presente em diversos círculos protestantes, o que cria um espírito de competitividade e impede uma aproximação mais propositiva entre as igrejas.
O debate promovido pela
CESE remeteu a várias pistas de um protagonismo mais efetivo do organismo de serviço diaconal, das igrejas e de outras organizações ecumênicas no sentido de promoverem e desenvolverem ferramentas metodológicas capazes de tornar mais visível e presente uma abordagem não exclusiva ou fundamentalista em contextos marcados pela diversidade religiosa.
A
CESE é um esforço conjunto da Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e a Igreja Presbiteriana Unida. Ela é membro da
ACT Aliança, que reúne mais de 100 organizações ligadas a igrejas ao redor do mundo envolvidas no trabalho de ajuda humanitária e apoio do desenvolvimento e defesa de causa.
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Intolerância religiosa é pecado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU