07 Março 2011
"Vou ir às ruas, certamente que vou às ruas. Não vou parar até que a voz das pessoas seja ouvida e o presidente vá embora". Palavras como essas foram ouvidas aos milhares nestas semanas de revolta nos países árabes: as de Tawakkol Karman (foto), porém, são especiais. Por dois motivos: porque veem de uma mulher e porque veem de um dos países mais conservadores do mundo árabe, o Iêmen, que, depois de 32 anos de controle quase indiscutível, há cinco semanas vê o governo do presidente Ali Abdullah Saleh oscilar sob os golpes da revolução que chega da Tunísia e do Egito.
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 06-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na frente da revolta que neste sábado, na maior manifestação desde o início do protesto, levou 100 mil pessoas às ruas em Sana`a e milhares no resto do país, está justamente ela: Tawakkol Karman, 32 anos, mãe de três filhos, presidente da associação Mulheres Jornalistas Sem Correntes e membro ativo do Al Islah, o principal partido de oposição, de marca conservadora islâmica.
Há semanas, o Al Islah, junto com os jovens da universidade de Sana`a, o outro motor do protesto, pede a renúncia imediata de Saleh: neste sábado, para reforçar essa vontade, organizou protestos nas principais cidades. Uma manifestação de força impressionante para um país como o Iêmen, certamente não acostumado ao debate democrático, que acabou em sangue: em Sana`a houve confrontos que se tornaram mais acesos assim que o porta-voz de Saleh reforçou que o presidente não pretende aceitar os pedidos de renúncia. Em outros lugares, foi ainda pior: em Aden, onde os confrontos foram mais duros nos últimos dias, houve mais feridos neste sábado. No norte, o protesto se somou a uma revolta contra o governo central que está no poder há anos: na província de Umran, o exército atirou contra a multidão e provocou cinco mortos.
"Haverá sangue, sabemos bem disso. Mas não tenhamos medo: é agora ou nunca. Houve sangue na Tunísia e no Egito, mas no fim as pessoas venceram", diz Karman por telefone de Sana`a. O Iêmen parece quase ter se acostumado ao fato de que a revolta é liderada – também – por uma profissional de rosto descoberto em um país onde a maior parte das mulheres são fantasmas vestidos de preto e reféns das famílias. Karman anda com uma espécie de escudo humano ao seu redor, para impedir que ela seja agredida ou presa. Quando ela foi presa, centenas de pessoas protestaram. No fundo, nestes dias, em Sana`a, aconteceram coisas mais estranhas: alguns membros das tribos mais importantes se inclinaram contra Saleh. Membros do partido do governo apresentam suas renúncias do parlamento por protesto contra a repressão. Só as próximas semanas poderão dizer aonde isso poderá levar.
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Iêmen, o governo vacila diante de uma mulher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU