02 Outubro 2012
Os homens salafistas usam barba, distribuem cópias do Alcorão e causam dor de cabeça para a inteligência doméstica da Alemanha. Mas como são as mulheres? O Der Spiegel passou um final de semana com duas mulheres que usam véus para conhecer sua visão de um mundo perfeito.
A reportagem é de Özlem Gezer e Barbara Hardinghaus, publicada na revista Der Spiegel e reproduzida no portal Uol, 30-09-2012.
Saliha e Reyhana param em uma loja de kebab, na Bornheimer Strasse, em Bad Godesberg. "Podemos orar aqui?", pergunta Saliha. "Claro, tudo bem", diz um funcionário.
As duas mulheres entram na loja e desenrolam um tapete de preces improvisado no chão. O funcionário continua guardando as cadeiras. São 21h, e ele quer fechar. Saliha usa a bússola do iPhone para determinar a direção de Meca.
Ela aponta para os fundos da loja de kebab, onde os trens de alta velocidade atravessam Bonn. As duas mulheres se ajoelham no chão para rezar. Elas estão de luvas e niqab, um véu com uma fenda estreita para os olhos. Os carros passam na escuridão do lado de fora. Para as pessoas dali, essas mulheres são mulheres de terroristas.
O Escritório Federal de Proteção da Constituição (BfV), a agência de inteligência doméstica da Alemanha, acompanha de perto o movimento sunita fundamentalista salafista, visto como uma ameaça à paz e à estabilidade na Alemanha. Os salafistas querem levar suas vidas como o profeta Maomé. Eles vivem em um mundo governado pelas leis de Alá, não as regras da sociedade Ocidental.
Discoteca e piercing
Depois de alguns minutos, as mulheres enrolam seus tapetes e agradecem ao funcionário. Elas falam alemão sem sotaque, pois são cidadãs alemãs.
Saliha, 31, é de Ehrenfeld, um distrito de Colônia, e Reyhana, 23, é da cidade de Ulm, no sul da Alemanha. Há alguns anos, elas eram totalmente diferentes. Saliha usava salto alto e roupas de marca falsificadas e tinha um nome alemão. Nos finais de semana, ia para boates de música tecno e hip hop.
Reyhana fazia parte da banda da escola que tocava músicas como Hit the road Jack, na Roxy, uma casa de shows em Ulm. Ela era a garota mais bonita da escola, se tornou garota do ano, tinha piercings, usava maquiagem preta nos olhos e tinha cachos longos e escuros.
As duas concluíram o segundo grau. Quando se formou, Saliha trabalhou como esteticista. Depois, trabalhou em um call center, um restaurante, uma academia de ginástica, um jardim de infância e um jornal. Reyhana tornou-se cabelereira depois do colégio. As duas se conheceram depois que se mudaram para Bad Godesberg, um bairro de Bonn. Foi então que suas vidas tomaram uma direção totalmente diferente.
Reyhana hoje é casada com um homem que está preso aguardando julgamento em Stuttgart. Ele é acusado de ser membro de uma organização criminosa e de ter recrutado alemães para servirem de combatentes na jihad. Em Bad Godesberg, eles moravam perto da Academia Rei Fahd, em um bairro que se tornou famoso na Alemanha por imagens de violência. Uma dessas fotos, tirada em confrontos entre salafistas e extremistas de direita encapuzados, mostra um islâmico radical esfaqueando um policial na perna.
A violência foi gerada por cartuns com o profeta Maomé, que os muçulmanos viram como um insulto às suas crenças religiosas. Desde então, Bad Godesberg passou a simbolizar um movimento de homens jovens e barbados que impõe uma ameaça ao país.
Saliha saiu de Bad Godesberg há um ano. Ela volta duas ou três vezes por ano para passar um final de semana com Reyhana, como fazia no passado. Nós acompanhamos um desses finais de semana e obtivemos um vislumbre de um mundo que normalmente permanece escondido atrás do véu. A única condição que elas impuseram foi que não fossem identificadas por seu nome verdadeiro.
A estrada de volta ao paraíso
Como a loja de kebab onde pararam para orar estava fechando, Saliha e Reyhana foram para outra loja no centro de Bonn, que fica aberta até tarde. Agora estão sentadas na mesa no fundo, escondendo-se atrás de uma coluna, para comerem. Aos olhos delas, permitir que homens estranhos vejam seus rostos é pecado.
Saliha pede um prato de kebab de carne, completo, com salada e molho. Com o garfo na mão direita, ela usa a esquerda para levantar o véu e traz a carne à boca por baixo do tecido. Ela mastiga rapidamente. "Você pode comer quanta carne quiser que não engorda", diz ela.
Atualmente, está em uma dieta de baixo carboidrato, que significa que ela não come arroz, pão ou batatas, e já perdeu 4 kg em dois meses. Reyhana passou a tarde na Internet procurando formas e queimar gordura.
As duas querem ser bonitas e sensuais para seus homens, dizem, e citam o Alcorão como justificativa. Alá diz que um homem pode ter várias mulheres se quiser, até quatro. O Alcorão também diz que as mulheres podem entrar no paraíso se garantirem a satisfação dos maridos. E o paraíso é onde Saliha e Reyhana querem ir. Elas acreditam que só estão neste mundo porque seguiram o diabo, e que a estrada de volta para o paraíso é difícil e cheia de provações.
"Mas Alá só testa aqueles que amam", diz Reyhana.
"Este é o sentido da vida"
Depois da refeição, as duas amigas decidem tomar um café e comer sorvete, com muito caramelo. Elas estão em um estacionamento na frente do McDonald's. "O Islã foi a primeira coisa que realmente consegui seguir", diz Saliha.
No Islã, pela primeira vez, ela obedece regras. Ela foi criada por uma mãe solteira, ex-hippie que trabalhava em uma loja de produtos orgânicos. Saliha não tinha religião. Ela só acreditava que ia se tornar uma grande dançarina um dia.
Para Saliha, a noite era legal quando conseguia pegar o número de telefone de vários garotos. Ela teve muitos namorados, inclusive um grego, um italiano e um alemão que vinha da Rússia. Mas nenhum deles foi sério. Aí encontrou um rapaz que disse a ela que deveria ler o Alcorão.
Ela só leu para provar para seu novo namorado que o Alcorão era cheio de bobagens. Ela começou a ler na manhã de um sábado, mas o resultado não foi o que esperava. "Era como se o profeta Maomé estivesse falando diretamente comigo", diz ela. Era como se ele dissesse: "Acredite! Porque essa é a verdade."
"Fiquei tão feliz", diz Saliha. Pouco depois, ela foi para a mesquita, onde encontrou pessoas que, para ela, pareciam irmãos e irmãs. Eles deram a ela um lenço branco. Mais tarde, ela começou a usar saias largas e eventualmente, o véu. Ela parou de dançar nas boates.
"Foi como nascimento, Natal, Páscoa e amor verdadeiro, tudo junto", diz no estacionamento escuro da zona industrial de Bonn. Saliha olha para sua amiga e Reyhana sorri e diz: "Estou arrepiada".
Os pais de Reyhana vieram da Argélia para a Alemanha em 1992. O pai dela fundou uma estação de rádio em árabe e uma associação cívica. À noite, Reyhana e seus amigos iam para o Café Si, onde ouviam música e bebiam refrigerante. Ela tinha que estar em casa na hora que as lojas fechassem. Quando criança, ela devia observar as regras do Alcorão, mas nunca as levou a sério.
Quando estava no programa de treinamento para se tornar cabelereira, ela achava uma boa abordagem para a vida ter estilo e usar roupas boas. Um dia, pouco depois de seu 17º aniversário, ela estava sentada na chuva em um ponto de ônibus, vestida para o trabalho.
Pela primeira vez, começou a pensar no sentido da vida. Pouco depois, ela tinha encontrado o Alcorão em alemão quando estava limpando a casa. Quando o segurou em suas mãos, pensou consigo mesma: "Este é o sentido da vida".
"Foi neste dia que Alá trouxe o amor para o meu coração", diz ela no estacionamento em frente ao McDonald's. Naquele dia, ela decidiu que a vida que ela vivera até então não era mais atraente, mas cheia de pecado. Usar jeans era pecado, pensou, assim como fumar e ouvir Alicia Keys. Dali por diante, ela passou a rezar cinco vezes por dia.
"Tenho muita vergonha do que eu costumava ser", diz Saliha. Ela também parou de fumar. Ela acredita que, por não fumar, ela poderá fumar quanto quiser no paraíso.
As duas amigas hoje vivem em um mundo totalmente estruturado, com soluções para tudo mapeadas em um livro de bolso que o profeta e seus seguidores deixaram para os fiéis. Ele assegura que as duas mulheres não terão que tomar suas decisões próprias, e regula suas vidas diárias. Ele diz a elas que a cozinha deve estar sempre limpa, como se Alá fosse visitá-la a qualquer momento. Diz a elas que elas podem pintar as sobrancelhas, mas não depilá-las. E quanto aos orgasmos, o livro aconselha as mulheres a não ficarem embaraçadas."Alá pensou em tudo", diz Reyhana. "Ele é o melhor".
Dezoito anos novamente
Isso também significa que Alá vê tudo, fazendo basicamente uma filmagem de suas vidas 24 horas por dia, mesmo quando dormem. No final, Alá decide quais pessoas ele enviará ao inferno ou ao paraíso. No inferno, a água é purulenta, e todo mundo fica gordo e tem espinhas e pele ruim.
Saliha quer ter pele lisa como vidro e isso é uma opção apenas no paraíso.
Também há álcool no paraíso, diz ela, servido em taças de ouro. A comida é servida em pratos decorados com diamantes e as pessoas no paraíso levam uma vida de luxo. Reyhana quer ter sua própria casa no paraíso. O primeiro andar será cheio de maquiagens, diz ela, e o segundo andar terá uma seleção infinita de roupas.
"Você nunca terá que pensar sobre o que vestir novamente", diz ela. "Alá deixa todos felizes". Na opinião dela, a vida no paraíso é similar à que levava quando ainda não era crente -só que melhor. Ela e sua amiga terão 18 anos novamente, não estarão usando véus, não suarão e serão belas.
Por enquanto, porém, ainda estão em um estacionamento em Bonn, esforçando-se para passar nos testes que Alá reserva para elas.
"No fundo, sou apenas uma garota"
Para as duas mulheres, o sábado começa no Prinz Salon, em Koblenzer Strasse. Homens de cabelos negros estão aparando suas barbas na loja principal no térreo, enquanto uma mulher iraniana corta o cabelo das mulheres no porão. Não há janelas e os homens não podem entrar.
Saliha remove seu véu e revela seus cabelos longos. Ela está usando calças legging brilhantes e uma camiseta curta. Em casa, ela anda no apartamento de salto alto. "Acho que, no fundo, sou apenas uma garota", diz Saliha.
Reyhana está sentada em uma cadeira no canto, vendo a amiga pintar o cabelo. Reyhana não precisa de serviços de beleza hoje, porque o marido dela está na prisão. Ela planeja ir para um salão de bronzeamento assim que ele voltar. O marido dela adora pele morena.
Reyhana foi recomendada a ele porque ela parece a Angelina Jolie, ou ao menos foi isso que os irmãos dele disseram. Ela casou-se com ele, um alemão convertido ao Islã, duas semanas após se conhecerem. Ela queria aprender tudo sobre o Islã, e tirar carteira de motorista. Seis anos depois, ela teve três filhos, mas não tem carteira de motorista.
"Meu marido era bonito e um muçulmano praticante", diz Reyhana. "O que mais uma mulher pode querer?"
Tolerância de mãe
A mãe de Saliha está sentada na frente dela. Ela trouxe uma mochila para um passeio à tarde com as crianças. Saliha agora tem quatro filhos e a mãe sempre a ajuda aos sábados. Ela está usando sandálias ortopédicas e tem o cabelo louro preso em um coque. Quando a avó de Saliha quis arrumar um emprego, ela teve que obter permissão escrita do marido. A mãe de Saliha lutou para se tornar uma mulher moderna. Ela é contra a visão da filha do que uma mulher deve ser.
Enquanto seu cabelo é cortado, Saliha diz: "Meu marido nem quer ter uma segunda mulher. Ele disse para mim: você é suficiente para mim. Ele diz que seria fácil assumir uma segunda mulher e dormir com ela. Assim, ele teria satisfação por uma noite. Mas ele também afirmou que ter uma segunda mulher traria responsabilidades demais, que ele não quer. Além disso, disse ele, se você tratar suas mulheres injustamente, Alá o faz renascer com metade do corpo paralisado."
"E o que acontece quando o seu marido a trai?", pergunta sua mãe. "Ele é apedrejado até a morte?" "Não imediatamente. Somente se oito olhos virem a penetração", diz Saliha. "E então ele seria apedrejado até a morte?", pergunta a mãe. "Então ele seria apedrejado até a morte", diz Saliha. "E tudo bem".
Por um momento, há silêncio no salão. "Eu pratico a tolerância todos os dias", diz a mãe. Mas nem sempre ela tem sucesso. Ela e a filha tiveram recentemente uma discussão sobre homossexualidade.
"Ser gay leva ao desastre", diz Saliha. Na opinião dela, ser gay não é normal. "Então o que há de anormal em Horst?", perguntou a mãe referindo-se a um amigo gay da família. Reyhana, que ouvia em silêncio a conversa, diz: "Não foi por acaso que Alá condenou os homossexuais ao fogo do inferno".
A escolha do melhor niqab
As três mulheres deixam o salão para comprar um niqab novo para Reyhana. Elas estão procurando alguma coisa feita com um tecido que respire mais, porque Reyhana está tendo problemas de pele no rosto. Este que ela está usando é apertado demais. Revela o contorno da cabeça, o que ela não quer. Para ela, um véu serve de capa protetora. Sem ele, a sujeira e os olhares dos outros pregam na sua pele, diz ela.
A Taiba Shop em Kölnstrasse tem uma boa seleção. Tem niqabs longos e curtos, de verão e de inverno, com os preços variando entre 15 euros (em torno de R$ 40) até 40 euros. Os melhores niqabs são do Egito. Eles consistem de três camadas, mas são leves.
Os homens da caixa registradora têm barbas e recitam os versos do Alcorão que saem dos alto-falantes. Na frente deles, há listas de fragrâncias importadas da Arábia Saudita, com nomes como Sultan e Âmbar. Elas são feitas de cedro e não contêm álcool. Reyhana olha as listas. "É importante cheirar bem", diz ela. Os anjos gostam de cheiro bom e são os anjos, afinal, que levam você para o paraíso.
Reyhana encontra os niqabs em uma das salas dos fundos, onde só entram mulheres. Ela compra um por 15 euros e as mulheres então vão para a cidade de Königswinter, onde gostam de ver os navios no rio Reno e olhar os jardins. Elas compram chocolate para as crianças e uma Red Bull no supermercado. Quando as mulheres de véu saem do supermercado, a atendente na caixa registradora diz baixinho: "É vergonhoso, realmente".
Elas continuam andando pela parte antiga da cidade. A temperatura é de 24 ºC. A mãe de Saliha, notando os olhares que recebem de outros pedestres, diz: "Minha filha poderia andar por aí vestida de canguru e eu ainda a apoiaria". Como há muitas pessoas por ali, Saliha fecha o véu completamente. "Você vai tropeçar", diz a mãe. Saliha parece igual de frente e de trás.
"Ela nem tem olhos?", pergunta uma senhora idosa. Um homem certa vez a agarrou na estação de trem e gritou: "Tire essa coisa, sua vagabunda!"
Um teste na Terra
Tudo isso não passa de um teste. Vida terrena. Reyhana encontra um corredor para suas preces noturnas. Ela se ajoelha entre a caixa de correio e um cartaz que diz: "A maior festa de Halloween da Alemanha". No caminho da zona de pedestres para o restaurante, ela faz preces de suplicação, passagens curtas nas quais pede proteção a Alá. Elas chegam à Casablanca, uma lanchonete árabe com bufê que logo começa a encher de gente.
O restaurante não é perfeito para as duas mulheres, mas é aceitável. Elas prefeririam que houvesse divisórias e uma seção para homens e outra para mulheres. A televisão está ligada em um canal de língua árabe. Primeiro, mostra homens recitando versos do Alcorão, seguidos de imagens de casas bombardeadas e dos feridos na Síria. Saliha diz que o canal mostra a verdade, apresentando todo o sofrimento que seus irmãos e irmãs aguentam. Ela quase não assiste mais a televisão alemã. Depois da refeição, as duas vão para o depósito para rezar. Elas se ajoelham entre vidros de beterraba em conserva e latas de milho.
Na manhã seguinte, Saliha está sentada diante da velha mesa de madeira no apartamento da mãe. Ela remove o véu da cabeça e lava a maquiagem do rosto com um pano úmido. O marido achou que o cabelo está claro demais, diz ela. Em uma prateleira, há uma foto de Saliha quando tinha cinco anos de idade.
Saliha não tem mais fotos em sua casa, porque acredita que poderia impedir os anjos de entrar em seu apartamento. Ninguém pode imitar a criação de Deus, diz ela. Ela mora em um apartamento moderno, de 96 metros quadrados, com mobília de laca branca, um forno autolimpante e geladeira com gelo automático. Seu marido, sírio, vende lâmpadas que economizam energia na Internet, diz ela. A ideia do casal de uma boa noite é assistir palestras dos imames islâmicos na Internet.
Desde que deixaram Bad Godesberg, a vida deles tem sido tranquila. Saliha diz que não aguentava mais a pressão. Eles decidiram deixar o bairro depois que o BfV foi a sua casa e levou seus passaportes.
Mandado de prisão
Reyhana e seu marido moravam no Egito na época, onde foram aprender árabe. Ali ficaram sabendo que a polícia alemã estava procurando o marido de Reyhana. Reyhana ligou para Saliha e disse a elas que não se veriam por um tempo.
Eles fugiram para o Paquistão, onde moraram em uma cabana de terra nas montanhas do Hindu Kush, atrás de um muro de três metros.
Uma gatinha chamada Mimi costumava caçar as lagartixas no pátio. Os convertidos alemães eram treinados para a "guerra santa" a poucos quilômetros de distância. Havia sondas americanas nos céus, mas Reyhana não tinha medo da morte, diz ela, acreditando que se morressem estariam mais próximos de Alá.
Ela aprendeu inglês e costura no Paquistão, usando um catálogo H&M para tirar os modelos. Ela diz que levavam uma vida simples e ainda assim ela se sentia mal.
"O problema é que se nada de mau acontece em três meses, começo a me preocupar que Alá não está satisfeito", diz ela. Ela acredita que, se Alá para de testá-la, talvez não a ame mais.
Mas ainda há provações pela frente. Desconfortáveis no Paquistão, eles decidiram partir. Eles viajaram para Istanbul, onde o marido, contra quem havia um mandado de prisão internacional, foi preso e extraditado para a Alemanha. Reyhana e as crianças voltaram para Bonn, onde hoje mora com os pais em uma moradia subsidiada.
Sou uma garota muçulmana no jardim de infância, é o titulo do livro que Reyhana recentemente comprou para a filha. A menina, que hoje tem quatro anos, nasceu em Ulm, aprendeu a andar no Egito e usou seu primeiro colar Hello Kitty no Paquistão. Reyhana não sabe se vai enviar a filha para uma pré-escola em Bonn. Ela fica preocupada que a filha possa beijar um menino em um canto. Além disso, nas pré-escolas alemãs, eles celebram o Natal e fazem festas de aniversário com música e jujuba que contêm gelatina, que é feita de porco.
"As crianças são como uma camisa branca", diz Reyhana. "Elas saem e se sujam e, quando voltam, você tem que lavá-las".
"Os alemães nos odeiam"
Ela está preparando o jantar: pão árabe, azeitonas e tâmaras. O sogro ligou para dizer que vai vir jantar. Reyhana e o marido certa vez deram a ele uma viagem a Meca e, depois disso, ele também se converteu. Como Reyhana tem usado o véu, a mãe também tem usado um lenço, e o pai se esconde dos netos quando fuma.
"Não podemos forçar as pessoas a fazerem nada, mas podemos expô-las ao Islã", diz Reyhana.
Ela e a amiga concordaram em se encontrar novamente à tarde. Saliha está esperando no Reno. Elas se cumprimentam com as palavras "Salamu alaikum", se abraçam e caminham pela margem do rio no forte sol, vestindo seus véus. Um ciclista força elas a saírem da ciclovia.
"Os alemães nos odeiam", diz Saliha. "Quando há um ataque, somos os primeiros que eles perseguem".
Ela diz que se opõe fundamentalmente à violência, mas que ataques a infiéis não são a mesma coisa que violência. "Os ataques são meramente pedidos de ajuda, e as bombas são as armas dos fracos e oprimidos".
Uma balsa se aproxima da margem, trazendo turistas do outro lado.
O que tornaria o mundo perfeito? "Se houvesse mais compreensão e tolerância conosco e a sharia em toda parte", diz Reyhana.
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"Com o Alcorão, não precisamos tomar decisões próprias", dizem mulheres salafistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU