02 Outubro 2012
Li Jinsui tem muita ambição. Ele mostra, com orgulho, a fábrica de insetos para a qual ele registrou sete patentes e investiu o equivalente a 250 mil euros (aproximadamente R$ 650 mil) de seu próprio bolso. No alto de Kunyang, cidade satélite de Kunming, capital da província de Yunnan (sudoeste), a produção iniciou de fato em 2009.
Nenhum de seus convidados escapa de um prato de vermes de bambu, exibidos em seu catálogo. A lista não para por aí. Sua empresa, Yunnan Insect Biotechnologies, oferece larvas secas, pó de proteína extraída de exoesqueletos de insetos e insetos inteiros, tudo destinado ao consumo humano e animal.
A reportagem é de Harold Thibault, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 30-09-2012.
Seria Li Jinsui um precursor? Muito provavelmente. Cada vez mais especialistas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) veem no desenvolvimento da entomofagia um substituto para a carne ou o peixe. E uma alimentação mais barata para criações de animais, sobretudo a aquicultura.
As qualidades nutricionais - proteínas, minerais etc. - dos insetos são grandes. Ademais, eles apresentam um melhor rendimento do que o gado tradicional. Eles também precisam de muito menos água. Atualmente, cerca de 70% das terras aráveis e 9% da água doce são dedicadas à pecuária, que além de tudo é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa.
Li trabalhou doze anos para lançar sua fábrica. Ele está na vanguarda de uma indústria chinesa incipiente e recebeu o aval das autoridades locais. "O mercado está pronto", ele diz. "Há escassez de proteína no país. É preciso recorrer à importação de peixes do Chile ou do Peru", explica esse homem de 45 anos. "E, para os humanos, falta conhecimento sobre o potencial dos insetos como fonte de nutrição".
Suas pesquisas o levaram a se concentrar em uma espécie: a mosca. "É a chave", ele diz. Ela é particularmente abundante, não é nociva para seu meio ambiente, é comestível para o homem e os animais e pode até ser usada na indústria farmacêutica. Sua quitina, componente principal da carapaça dos crustáceos e dos artrópodes, reforça as defesas imunitárias.
Li Jinsui não foi o único a fazer todos esses cálculos. Ele tem concorrentes, por exemplo, na província de Shandong, 2 mil quilômetros ao nordeste. Mas ele sente um prazer maldoso ao explicar por que esses criadores de insetos não conseguirão produzir em maior escala se aparecer um mercado em massa: "De um ponto de vista tecnológico, eles ainda estão vivendo nos anos 1970, só produzem de 50 a 100 quilos por dia, serão incapazes de aumentar a velocidade".
Por enquanto, Li diz que consegue entregar diariamente 150 quilos de larvas de mosca, mas ele promete que a "fase 3" do desenvolvimento da fábrica aumentará para 10 toneladas por dia, até 2015, pois tudo que ele vende é comprado na hora, ele explica, entrando em um cômodo onde voam 2 milhões de moscas.
No entanto, ainda falta aperfeiçoar suas pesquisas e conseguir alimentar as moscas com farelo de arroz, e não dejetos de animais, como acontece atualmente, o que as torna impróprias para consumo humano.
Além disso, será preciso conseguir convencer o consumidor a experimentar essas refeições que até hoje inspiram mais nojo do que desejo. Se os palácios chineses parecem estar acostumados com vermes de bambu, está longe de o mesmo valer para as larvas. "Vê-las em seu prato suscita uma reticência psicológica difícil de superar", reconhece Li. Como combater isso? É preciso investir na educação e convencer sobre o valor nutricional dos insetos; "é um trabalho árduo, mas precisamos cuidar disso", diz o empresário.
A utilização de insetos vem das tradições culinárias nessa província povoada por minorias. No mercado de Mangshi, uma cidade modesta a duas horas de estrada da fronteira birmanesa, ainda se vendem ninhos de vespas, a 160 yuans a libra (R$ 52). O comprador extrai uma a uma as larvas vivas de seu alvéolo, antes de fritá-las.
"As condições econômicas são duras para os habitantes da região, nem todos podem comprar carne. Mesmo criar um porco exige alimentá-lo e esperar dois anos, é demorado e, em sua escala, oneroso", explica Guo Yunjiao, professor de biologia no instituto de pesquisa sobre os insetos da universidade local. Nos vilarejos da região, esse especialista explica aos habitantes como desenvolver sustentavelmente uma criação de insetos, o que exige competências técnicas precisas. Ali, o método mais popular consiste em queimar o ninho de vespas, correndo o risco de matar a rainha. Guo vai até os vilarejos para ensinar a fumigação.
O aumento dos preços das larvas de abelhas tem despertado o interesse das pessoas. De cinco ou seis anos para cá, moradores das planícies começaram a trabalhar com a criação de insetos em torno de Mangshi. Guo Yunjiao conta também, talvez com certa vaidade, ter recebido "10 mil cartas e e-mails com pedidos de conselhos" quando o canal de televisão nacional cobriu seu curso, sinal de interesse dos camponeses pobres por esses bichinhos nutritivos.
Já Li Jinsui comemora o fato de que os habitantes dessas regiões distantes estejam perpetuando as tradições, mas ele acredita que já está na hora de a China passar para a produção de insetos em escala industrial. Mais de 200 espécies são comestíveis, só que somente algumas delas podem ser criadas em escala familiar. E buscá-las em meio selvagem requer grande mão de obra.
Portanto, falta somente abrir fábricas e desenvolver novos procedimentos técnicos, o que ele continuará a fazer nos 27 hectares de terreno que comprou. Se o consumo de insetos um dia se popularizar, ele acredita ter chances de se tornar o líder mundial desse mercado, tendo no final um retorno de 60% sobre o investimento.
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Que tal uma mosca? Chinês investe na criação de insetos para consumo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU