O Papa no Líbano. Peregrino da paz e sutil diplomata

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Por: Jonas | 18 Setembro 2012

A frequência com a qual, antes da viagem ao Líbano, seus colaboradores haviam insistido que o Papa não é um líder político, e a leitura dos seis discursos pronunciados pelo Pontífice, no país dos cedros, podem ter dado a impressão de que ao chegar ao Oriente Médio, num momento de altíssima tensão, Bento XVI preferiu falar, sobretudo, à comunidade cristã, limitando-se a lançar solicitações gerais para uma pacífica convivência entre as religiões.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 16-09-2012. A tradução é do Cepat.

Porém, quando analisamos com atenção suas palavras, em particular as respostas que deu aos jornalistas durante o voo Roma-Beirute, na sexta-feira, e as do Ângelus de hoje, pode-se interpretar uma ponderação precisa. Na entrevista, o Papa falou da “primavera árabe”, definindo como positivo “o desejo de uma maior democracia” e de “mais liberdade”, mas recordando que “pensando na história das revoluções, o tão importante grito de liberdade corre o risco de esquecer um aspecto, uma dimensão fundamental da liberdade, que é a tolerância do outro”.

Na mesma entrevista, durante o voo, Bento XVI respondeu uma pergunta específica sobre a Síria: pediu que parasse a importação de armas, definida como “pecado grave”. Durante o Ângelus, ao contrário, ao rezar “de forma particular pelos habitantes da Síria e dos países vizinhos”, disse: “Infelizmente, o ruído das armas continua sendo escutado, assim como o grito das viúvas e dos órfãos. A violência e o ódio invadem suas vidas, e as mulheres e as crianças são as primeiras vítimas. Por que tanto horror? Por que tanta morte? Apelo à comunidade internacional. Apelo aos países árabes, de forma que, como irmãos, apontem soluções viáveis, que respeitem a dignidade de toda pessoa humana, seus direitos e sua religião. Quem quer construir a paz deve deixar de ver no outro um mal que se deve eliminar. Não é fácil ver no outro uma pessoa que se deve respeitar e amar, no entanto, é necessário, caso se queira construir a paz, caso se queira a fraternidade”.

Sublinhando a negatividade da violência, o horror da guerra, os assassinatos, mais que a exigência de democracia e de liberdade que surgiu com a “primavera árabe”, o Papa expressou uma visão realista da Santa Sé sobre a crise na Síria. Na Tunísia e no Egito, as revoluções coincidiram com a chegada de partidos islâmicos ao poder, que se tornaram um elemento estabilizador.

Porém, as situações variam de um país para outro, apesar de ser evidente para todos, incluindo o Vaticano, a queda do regime de Assad, o que dificilmente poderá ser detida. No momento, Ratzinger se absteve de legitimar ou bendizer revoluções com o chamado à retórica das “primaveras dos povos”, mostrando que se interroga sobre o futuro, após a mudança de governo, e sobre as forças que inspiram e armam os rebeldes.

O chamado à comunidade internacional para que proponha “soluções praticáveis” e se coloque fim ao espiral de violência, neste momento, é a mensagem mais “política” que pode dar um líder religioso, que, antes que com suas palavras, falou com sua presença neste Oriente Médio em chamas. Sua visão não é sintoma de um estranhamento diante dos sofrimentos e os problemas dos povos, mas, ao contrário, indica uma consciência sobre a crise que não se contém com consignas fáceis, diante de situações complexas.