Por: Jonas | 16 Agosto 2012
No mundo saxão, é costume chamar os jornalistas de “hacks” ou “recortadores”, ou seja, que extraem uma parte da atualidade. E os programadores são associados mais facilmente com o mundo dos hackers. Menos de três anos atrás, três pessoas ligadas ao mundo dos meios de comunicação tiveram, nos Estados Unidos, de forma separada, a mesma ideia e nela colocaram o mesmo nome. O ex-correspondente de guerra, Burt Herman, Roch Gordon, da Universidade de Stanford e Aron Pilhofer, do jornal The New York Times pensavam que o mundo dos “hacks” e “hackers” precisariam começar a se juntar e armaram uma rede, Hacks/Hackers, com a intenção de estimular o encontro destes dois mundos, que pareciam pertencer a diferentes compartimentos de uma redação jornalística.
A reportagem é de Mariano Blejman, publicado no jornal Página/12, 14-08-2012. A tradução é do Cepat.
A ideia cresceu e, menos de um ano atrás, em Buenos Aires fundamos este tópico com Martín Sarsale, responsável tecnológico do Sumavisos; César Miquel, diretor da EasyTech, e Guillermo Movia, da Mozilla, na Argentina. Agora, estamos a ponto de chegar aos dois mil membros. Em nível mundial, esta organização é uma das que mais rápido tem crescido, e acabamos de anunciar um evento sobre meios de comunicação e tecnologias, com a presença das melhores equipes de notícias interativas, de todo o planeta. Esta é a única nota que este cronista escreverá a esse respeito, já que de alguma maneira é avaliador e parte integrante.
O Hacks/Hackers Buenos Aires Media Party pretende ser um encontro produtivo dos meios de comunicação, em que confluirão editores, desenhistas e programadores de toda a América, Europa e África, durante três dias na Ciudad Cultural Konex, de 30 de agosto a 1 de setembro, para “reiniciar o jornalismo”. Entre os visitantes internacionais estarão: Tyson Evans, da equipe interativa do jornal The New York Times, quatro desenvolvedores e jornalistas do jornal The Guardian; e empreendimentos que de modo recente começam a surgir na América do Sul, mas que são produtos-estrela desta nova era editorial, porque têm resolvido problemas que até então, nós, jornalistas, não tínhamos. Também haverá representantes da ProPublica, ScraperWiki, Overview, Tor, Zeega e Ushahidi, e uma grande oferta de oficinas educativas com temáticas que poucos anos atrás pertenciam unicamente ao mundo dos encontros de programadores.
É que a confluência entre a tecnologia e o jornalismo tomou um caminho que não era totalmente esperado. Os jornais passaram a replicar o que faziam no papel, a se converterem em mídias sociais, onde tudo pode ser compartilhado. De repente, as redações começaram a se encher de programadores de software e desenhistas interativos, mais interessados em contar histórias com dados do que com frases. Mapas, linhas do tempo, visualizações, novas formas de se aproximar das notícias, e novos problemas que passam a surgir para uma profissão que possui mais de quatrocentos anos de história. Tor, por exemplo, é um projeto que desenvolve aplicações para melhorar a privacidade dos usuários da Internet, programas que criptografam as comunicações entre as pessoas ou que permitem melhorar o anonimato das fontes, dos problemas centrais em épocas de hiperdigitalização, em que jornalistas e fontes se veem expostos de maneira impensável.
As coberturas jornalísticas também funcionam de forma até então impensáveis. Por exemplo, Gustavo Faleiros, do Brasil, trabalhou durante anos num projeto para mapear o Amazonas, ou o projeto argentino “Qué Pasa Riachuelo”, desenvolvido por Garage Labs, que analisa o impacto dos resíduos no Riacho. Muitas destas plataformas são desenvolvidas por novos serviços, programas ou sítios webs que servem para analisar conteúdo, para apresentar mapas, para poder compreender a grande quantidade de informação que se gera frequentemente em todo o mundo. Outro exemplo é o de “Scraper Wiki”, que estará presente em Buenos Aires. É um nome que tem duas palavras praticamente incompreensíveis para qualquer jornalista da região, mesmo para aqueles que levam anos fazendo pesquisa. O que esse projeto faz é ordenar a informação da web para depois poder ser usada em bases de dados, planilhas de cálculo e para, em seguida, ser analisada. Porém, como um jornalista faz para baixar essa informação, sem a ajuda de um programador? Quais são as ferramentas disponíveis para que isto seja possível? Como se faz para carregar um PDF na web, convertido em texto e, em seguida, retirar uma tabela que estava num papel e poder usá-la no Excel?
Estas são algumas das coisas que poderão ser aprendidas ou ensinadas no Media Party, um evento inspirado no festival Mozilla, de Londres, com alguns complementos locais, no qual conflui desenvolvedores de todo o mundo, que também apostam na inovação e no software livre como uma proposta política. Os meios de comunicação, os governos, os seres humanos, deveriam usar software livre para cada um de seus atos, para evitar a dependência destes em relação a apenas uma empresa ou serviço. O software deve poder ser copiado, distribuído, modificado e usado livremente. Com a convicção de que assim deveriam funcionar, é que há muitas organizações que apoiam o Media Party, a festa dos meios de comunicação com sabor argentino.
Justin Arenstein, do programa de inovação de mídias da África e assessor do Google, e Daniel Sinker, da Mozilla, entre muitos outros, somados a especialistas locais no jornalismo de dados, visualizações, extração de dados e mapas. No total, são esperadas cerca de vinte oficinas paralelas, funcionando no Konex, das quais participarão editores, jornalistas, empreendedores, programadores e desenhistas do Chile, Colômbia, Paraguai, Guatemala, Peru, entre outros países.
No último dia, 1 de setembro, faremos um hacktón: que é como uma maratona de hackers, mas não no sentido que a imprensa tradicional costuma usá-lo, mas uma maratona de trabalho colaborativo em função de um fim específico. É uma ideia que vem do mundo do software, em que nós jornalistas apenas estamos nos acostumando. Não é muito habitual que os meios jornalísticos encontrem espaços produtivos de intercâmbio. De modo geral, os meios de comunicação competem, e nesta época de guerra visceral, fica um espaço para o intercâmbio pragmático e, sem dúvidas, o contexto do software livre torna-se o complemento ideal. Compartilhar códigos e conteúdo é algo que teremos que nos acostumarmos.
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Jornalistas e programadores. A confluência de dois mundos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU