24 Junho 2012
A crítica por parte de Roma a uma obra da teóloga Margaret Farley, dedicada à ética sexual, inquieta o meio acadêmico católico dos EUA.
A opinião é de Jérôme Anciberro, editor-chefe da revista católica francesa Témoignage Chrétien, 20-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A teologia católica deve se ater aos estritos limites do catecismo? Essa é a pergunta que, grosso modo, a Catholic Theological Society of America (CTSA), primeira organização de teólogos católicos da América do Norte (1.500 membros), finge se fazer.
Uma notificação da Congregação para a Doutrina da Fé publicada no dia 4 de junho e que põe em discussão um livro da teóloga Ir. Margaret Farley, professora da Universidade de Yale, causou problemas nos ambientes intelectuais católicos norte-americanos, além do mais, em um contexto já tenso por causa do confronto entre Roma e a principal organização de religiosas católicas norte-americanas, a LCWR.
Essa obra, Just Love, publicada em 2006 e utilizada desde então em muitas faculdades de teologia – tanto católicas quanto protestantes – recebera na sua publicação uma acolhida muito positiva em um ambiente acadêmico.
Ela estuda, acima de tudo, em grande escala do ponto de vista histórico, o modo em que o problema da sexualidade foi tratado com relação aos diversos sistemas de pensamento e de crença. Margaret Farley observa, por exemplo, a forte influência do estoicismo sobre a ética sexual cristã, em particular a ideia de que a atividade sexual pode ser dominada com a razão.
Contexto contemporâneo
A parte principal do livro consiste na exploração da ética sexual através da noção de justiça. A autora propõe alguns princípios para pensar aquilo que ela chama de "amor justo" (just love): o fato de levar em conta a vulnerabilidade das pessoas, o consentimento mútuo, a igualdade na relação, o compromisso dos parceiros, a responsabilidade pelas consequências sociais do ato sexual (gravidez, saúde...).
A aplicação desses princípios é, então, considerada no contexto contemporâneo. E é aí que surge o problema, pelo menos para a Congregação para a Doutrina da Fé, que constata que as posições de Margaret Farley sobre a masturbação, a homossexualidade, o casamento gay, a indissolubilidade do casamento, o divórcio e o novo casamento estão "em direta contradição com o ensino católico no campo da moral sexual".
Os teólogos da CTSA não põem em discussão essa constatação, definida como "factual" em uma declaração do dia 7 de junho. Mas se interrogam sobre o efeito da notificação da Congregação para a Doutrina da Fé, que correria o risco, a seu ver, de "dar a impressão de que não pode haver na vida da Igreja nenhum papel construtivo obras as teológicas que expressam a experiência e as preocupações dos fiéis comuns" e que "põem em causa a força de persuasão de certas posições católicas oficiais".
E lembram que as pesquisas teológicas, até mesmo as alternativas, podem ser úteis para um "autêntico desenvolvimento da doutrina".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Margaret Farley: a obrigação de pensar dentro dos limites - Instituto Humanitas Unisinos - IHU