30 Março 2012
Depois do golpe de Estado em Mali, a região africana do Sahel continua cada vez mais no centro das atenções e sempre devido a episódios dramáticos.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada no sítio Vatican Insider, 27-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Fome no Sahel. Agir rapidamente. Há o risco de uma nova catástrofe humanitária. Por isso, ouvimos e compartilhamos o apelo das populações atingidas e tentamos responder rapidamente, intensificando as ajudas imediatas para evitar uma crise mais grave": com essa mensagem, há alguns dias, a Cáritas italiana e as outras Cáritas do Grupo de Trabalho sobre o Sahel, reunido em Bamako (capital do Mali), relançaram o apelo anterior do papa, que exortava a comunidade internacional a assumir essa região, "novamente ameaçada nos últimos meses por uma diminuição importantes de recursos alimentares e pela seca causada pela falta de chuvas e pelo consequente avanço do deserto".
O alerta alimentar já afeta cerca de 12 milhões de pessoas, "que correm o risco de se tornar o dobro se não forem tomadas medidas eficazes urgentemente", advertiu a Cáritas. Os países mais afetados são Níger e Burkina Faso e, em menor medida, Senegal e Chade. Além, obviamente, de Mali, cuja situação se agravou ainda mais com a guerra e o golpe de Estado das últimas horas.
O Vatican Insider encontrou uma pessoa que está dedicando a sua vida para aliviar as dores que esses dramas provocam para as populações do Sahel e para fazem com que essas tragédias possam, um dia não muito distante, não ocorrer mais: o irmão Albino Vezzoli, dos Irmãos da Sagrada Família, congregação que há décadas está presente com as suas missões e obras de caridade em Burkina Faso, Benin e Costa do Marfim, e também em cerca de 60 comunidades espalhadas por toda a África, Europa, América e Ásia.
Eis a entrevista.
Ir. Vezzoli, quais são, dentre as inúmeras, as principais emergências do Sahel?
A progressiva desertificação da terra, a escassez de água, tanto para consumo humano quanto para a agricultura, a ausência de regimes democráticos, a instabilidade política causada principalmente pela difusão do fundamentalismo islâmico. Cerca de 12 milhões de pessoas no Sahel estão agora em perigo de vida por causa da fome, consequência da seca e das guerras. A situação atual é a de uma carestia devida a uma pobreza extrema, à qual se somam as guerras. As pessoas sofrem sem um mínimo indispensável para sobreviver: água e comida. Neste momento, além disso, a guerra no norte de Mali, à qual se acrescenta o golpe de Estado, obriga as populações a emigrar com as consequências que isso implica.
Conte-nos um drama acima de todos, um particularmente significativo, que tocou particularmente o seu coração.
As mães com os filhos que continuamente batem à porta da missão porque não têm nada para comer. Penso naquela mãe que, anos atrás, não tendo nenhum apoio – enquanto o marido se virava de algum modo –, não tendo comida para dar para os seus pequeninhos, exausta pelas forças, se jogou no poço com os seus filhos. A tudo isso eu acrescentaria o problema de muitas mães jovens que são expulsas da família, como acontece com as chamadas sorcière.
E todas aquelas crianças abandonadas ou órfãs, cada vez mais numerosas. Quando fomos encontrá-las no Hotel Maternel que construímos com o financiamento da Agência Regional para as Adoções Internacionais (Arai) do Piemonte, o nosso coração chorou. E pensar que elas são afortunadas porque são acompanhadas por pessoas bem preparadas pela Arai: para elas, se entrevê um futuro melhor graças a pais adotivos de Burkina Faso em primeiro lugar, ou italianos quando não há outras soluções.
Quais são as causas de tudo isso?
As mudanças climáticas (das quais os países industrializados e não aqueles hipocritamente chamados de "em vias de desenvolvimento" são os principais responsáveis) tornam as chuvas aleatórias. A desertificação em muitos países é a consequência de um século de culturas agrícolas intensivas impostas pelo colonialismo europeu para a exportação de amendoim, algodão, cana-de-açúcar. O êxodo rural dos jovens das savanas para as favelas e depois para a Europa. As guerras civis das quais a Somália e o Sudão são o exemplo mais dramaticamente evidente. Portanto, causas naturais, mas também causas devidas ao ser humano, com o corte das árvores para produção de lenha, a falta de reflorestamento, o ódio, do qual nascem guerras intermináveis.
Se algo não for feito rapidamente e bem, quais são os riscos?
A morte por desnutrição e desidratação de 12 milhões de africanos, particularmente de mulheres e crianças, o irrefreável êxodo em massa de milhões de jovens primeiro para os países limítrofes e depois para a Europa, a expansão do deserto do Saara, tanto para o Mediterrâneo, quanto para o sul, o desaparecimento definitivo da terra, de povos, civilizações, culturas, floras, faunas únicas. Se algo não for feito, e logo, os homens continuarão se matando com os assaltos à mão armada ao longo das ruas, as mulheres grávidas sofrerão ainda mais abortos, as crianças vão abandonar a escola, e aumentará o êxodo para os locais de mineração de ouro tradicionais.
Na semana passada, ocorreu a tragédia devida ao desespero, à ignorância e à sede por ouro que levou um homem a cortar a cabeça de uma mulher em seu bairro em Godin para ir vendê-la em Reo, em um daqueles lugares de mineração de ouro, por 300 mil francos CFA (cerca de 1.200 reais): parece haver uma espécie de "superstição" louca pela qual, três meses depois do enterro de uma cabeça de mulher, pode-se encontrar ouro. O "vendedor" agora está nas mãos da justiça. Que tristeza!
Quais são as suas principais iniciativas nas últimas semanas?
Os Irmãos da Sagrada Família estão comprometidos com diversas iniciativas em Burkina Faso, onde atuam mais de 80 coirmãos do país. As nossas principais iniciativas são: a operação Água para o Sahel, que busca dotar os vilarejos rurais de água potável, reabilitar os poços abandonados e perfurar novos poços com a instalação de bombas manuais Volanta, de fácil manutenção. Desde 1982, mais de 6.000 foram produzidas na oficina de Saaba, nos arredores de Ouagadougou, e instaladas em Burkina Faso e nos países limítrofes.
Os mesmos Frères de la Sainte Famille criaram em Nanoro, em 1992, a primeira escola agrícola do país. Realizam-se pequenos projetos agrícolas com os ex-alunos da escola agrária em sua própria aldeia de origem, melhorando a agricultura e os criadouros. E depois a busca de financiadores para dotar os bancos de cereais de outras quantidades de grãos a serem postos no mercado a um preço acessível para as pessoas. E ainda o fornecimento às Cáritas locais de cereais para socorrer os mais necessitados. Assegurar às inúmeras cantinas escolares elementares os cereais necessários para que os estudantes possam ter ao menos uma tigela de arroz e de feijão para o almoço.
O que um cidadão comum pode fazer para ajudar as populações do Sahel?
Moderar o consumo tanto de água quanto de qualquer outro bem, adotando um padrão de vida sóbrio ("Contra a fome, mude de vida"); ampliar a nossa perspectiva cultural e política, abrindo-nos para a mundialidade e informando-nos sobre o Sahel e sobre o Sul do mundo ("Não ouvir o grito dos pobres é uma perda de humanidade"); conectar-se com institutos missionários, Cáritas, ONGs sérias que intervêm no Sahel para ajudar essas populações; pressionar os nossos governos (regionais, nacionais), para que intervenham diretamente ou mediante agências das Nações Unidas (particularmente a FAO); comprometer-se seriamente no "apoio à distância" (por meio dos institutos missionários ou de ONGs sérias) de crianças ou de famílias ou de projetos de desenvolvimento nesses países do Sahel; rezar! Rezar para que o Espírito Santo transforme em "corações de carne" os "corações de pedra" de tantos europeus que ainda se dizem cristãos...
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''O Sahel esquecido está nos corações dos missionários'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU