Por: André | 01 Outubro 2013
O Concílio é muito claro: pede uma autêntica reforma da cúria e isto emerge em todos os níveis de seu trabalho. Já na fase prévia à preparação, nas respostas dos bispos vindas de todo o mundo, este tema se apresenta com frequência. Insiste-se na reorganização de alguns dicastérios – por exemplo, do Santo Ofício ou da Propaganda –, uma descentralização necessária para acolher os bispos residenciais na cúria e o possível aumento do número de leigos, em uma melhor articulação das funções dos núncios em suas relações com os bispos, na natureza do poder próprio dos dicastérios romanos.
A reportagem é de Philippe Levillain e publicada no jornal L’Osservatore Romano, 29-09-2013. A tradução é de André Langer.
É necessário acrescentar que ninguém nega o notável trabalho desenvolvido pelos dicastérios durante a preparação do Vaticano II e tampouco os serviços realizados durante as sessões e nos períodos entre as sessões. Paulo VI observa tudo isso como bom conhecedor desta situação na qual passou boa parte da sua vida e que pôde avaliar com certo distanciamento quando era arcebispo de Milão. Tudo isso lhe permite ter uma visão completa de seu funcionamento: valeu-se disso e soube tirar o melhor proveito.
Portanto, é perfeitamente capaz de discernir o que é eficaz, o que é precário, o que é muito humano. Após quatro anos de assíduo trabalho dirigido pessoalmente pelo Papa, a comissão cardinalícia publica suas conclusões. Embora a falta de tempo não nos permita prosseguir as análises, devemos assinalar imediatamente que esta reforma é precedida pela criação do Sínodo dos Bispos, em 15 de setembro de 1965 (com o Motu Próprio Apostolica Sollicitudo), decisão sem precedentes na Igreja romana.
A reforma é progressiva. O Papa quis realizar o desejo do Conselho. A cúria assume uma fisionomia mais internacional, como se prolongasse a experiência universal dos anos conciliares. Paulo VI é contado entre os grandes Papas que renovaram o organismo secular da cúria, da mesma maneira que Sisto V (1588) e Pio X (1908). Aceitou um desafio impossível: reformar uma instituição na qual trabalhou durante mais de 30 anos e da qual conhece as grandezas e debilidades. Soube fazê-la avançar com pequenos passos, certamente com firmeza, sempre com respeito e consideração, mas sem transigir no essencial. Demonstrou-se um notável pastor que sempre buscou, com grande liberdade interior e imensa paciência, o maior consenso possível, para que ninguém se sentisse perdedor.
Não foi apenas o Papa que acompanhou os trabalhos do Concílio, mas também que os colocou em prática com uma lucidez inteiramente pessoal e com um grande sentido da unidade que lhe permitiram encontrar o melhor momento para agir. Para ele, a cúria é uma colaboradora no governo da Igreja universal. Neste sentido, deve saber questionar-se novamente, com a finalidade de desenvolver melhor o seu serviço em função das necessidades dos tempos e lugares.
Parece-nos que três convicções acompanharam Paulo VI neste caminho: o dever de colocar em prática o Concílio, o amor à Igreja e à humanidade e o serviço à sua unidade, sem nunca esquecer que para ele não existe reforma exterior sem conversão espiritual.
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E Paulo VI reformou a cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU