26 Setembro 2013
Em Cagliari, o papa denunciou "um sistema que mercantiliza o trabalho e tira a dignidade do homem", afirma o secretário-geral da Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (CISL, na sigla em italiano), Raffaele Bonanni. "É a resposta ao fracasso do G20 em Moscou".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 23-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Por que você acha que o papa preenche o vazio do G20?
Eu estava em Washington há quatro anos na delegação internacional dos sindicatos, e naquele G20 se discutia sobre como regulamentar o capitalismo financeiro. Em Moscou, ao invés, os grandes do planeta se renderam e abandonaram qualquer tentativa de frear o monstro que está alimentando a crise econômica internacional. O papa tem a experiência das injustiças sociais na América Latina, e a sua análise econômica é impecável. Sem intervir nas causas (serviços, burocracia, infraestrutura, custos de energia) não sairemos da crise: Francisco continua sendo a única autoridade mundial para combater o monstruoso desvio que transforma o trabalho em mercadoria e semeia entulhos nas democracias nacionais.
Bergoglio rouba trabalho de vocês, sindicalistas?
Francisco não tira nós, sindicalistas, de cena; ao invés, fortalece as nossas lutas na Alcoa, assim como em milhares de outros estabelecimentos. Agora ninguém poderá dizer que não sabia. A crise é devastadora no plano social em termos de desemprego, de empobrecimento da renda das famílias de trabalhadores e pensionistas, de rediscussão do Welfare. Com extraordinária eficácia, o pontífice evidenciou como as dificuldades de sair dessa situação cresceram a partir de uma profunda crise moral e política que mina a manutenção da coesão social e das instituições, do desaparecimento de uma classe dirigente capaz de se legitimar aos olhos dos cidadãos. As medidas e os tempos para a retomada do crescimento e do trabalho de que o país precisa, passam, necessariamente, por um apoio oportuno da demanda de investimentos e de consumo das famílias.
Os líderes sindicais também fazem parte da classe dirigente. Que solicitação você recebe da advertência de Francisco?
Devemos fazer crescer a consciência de que a tarefa de gerar riqueza, de atrair investimentos, de desenvolver uma boa ocupação, de enfrentar as consequências da interdependência do desenvolvimento sobre a nossa economia, de assegurar o sucesso da empresa também diz respeito a nós, o compromisso e a responsabilidade dos trabalhadores. É a ação reformadora alternativa ao radicalismo e ao "reivindicacionismo" conservador com a velha contraposição entre capital e trabalho e as receitas do intervencionismo estatal. O papa fala a todos e a cada um. Ele se dirige à Itália e ao mundo inteiro. Nós também, representantes dos trabalhadores, devemos refletir sobre as suas palavras. Para contar e para realmente melhorar as coisas, não basta um genérico "reivindicacionismo". É principalmente a partilha de responsabilidades o valor que torna eficaz o papel do sindicato, a sua ação reformadora de tutela dos trabalhadores e no interesse geral.
Foi preciso que o primeiro papa sul-americano da história chamasse a Europa às suas responsabilidades?
A Europa não é apenas uma moeda. Sem a Europa política, está em risco um modelo europeu, político e social. A agressividade competitiva dos grandes países emergentes e os preocupantes processos internos de dissolução de natureza diversa podem subverter não só as suas economias, mas o seu próprio modelo político e social. União econômica, nova governança e legitimação democrática já são questões prioritárias para a Europa. É preciso crescer a consciência de que está em jogo o futuro político da Europa, sobre como devem ocorrer, por quem e com qual legitimação democrática devem ser governados os processos de integração fiscal, econômica, financeira e política não mais evitáveis.
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''Francisco é a única barreira ao capitalismo financeiro selvagem'', diz central sindical italiana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU