31 Julho 2013
Depois da divulgação da notícia, permanece envolta em suspense a história do sequestro do padre jesuíta Paolo Dall'Oglio na Síria. Segundo o testemunho citado pela agência Reuters, de onde partiu o alerta, o jesuíta romano, na tarde desse domingo – enquanto se encontrava em viagem na cidade de Raqqa, no nordeste do país – teria sido pego por alguns milicianos do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), uma formação al-qaedista que, há alguns meses, teria conquistado uma força particular nas regiões do norte da Síria.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada no sítio Vatican Insider, 30-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas também existe outra versão dos fatos, segundo a agência AFP, citando Rami Abdel Rahman, do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma das fontes de referência para as notícias sobre a guerra na Síria: segundo esse relato, teria sido o próprio padre Dall'Oglio que teria se dirigido para um encontro com alguns dirigentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, milícia composta principalmente por guerrilheiros estrangeiros e considerada responsável por inúmeros sequestros.
O jesuíta – que tem muitos contatos entre as formações rebeldes que combatem Bashar al-Assad – estaria tentando negociar a libertação de alguns reféns (fala-se em particular de uma equipe árabe da Orient TV, sequestrada há quatro dias em Aleppo). E, antes de deixar Raqqa – onde havia chegado no sábado, da Turquia –, o padre Dall'Oglio também teria dito aos que o acompanhavam que anunciassem o seu desaparecimento se não voltasse dentro de três dias. Período – na realidade – ainda não decorrido.
Juntando as peças, portanto, pode-se perguntar: o alerta foi disparado porque em Raqqa – que é uma cidade nas mãos dos rebeldes – tiveram a percepção de que, no contato com as milícias, aconteceu algo anormal? Ou a notícia do sequestro é a filha de um mal-entendido?
Justamente por causa dessas versões contrastantes (e por causa da grande dificuldade de obter notícias diretas) há uma grande prudência nas declarações sobre o caso, tanto por parte do Ministério das Relações Exteriores italianas, quanto do Vaticano, que explicam que não têm elementos suficientes para confirmar o sequestro.
Certamente, no entanto, há uma circunstância muito preocupante: a história do padre Dall'Oglio nessas horas se entrelaça com o confronto cada vez mais aberto entre curdos e islamitas dentro do fronte dos rebeldes sírios. Um confronto que tem o seu epicentro justamente na região onde o jesuíta italiano se encontra.
Justamente na tarde dessa segunda-feira, o Comitê de Proteção do Povo Curdo – as milícias curdas que combatem na Síria – lançaram um apelo à mobilização geral contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante e outras milícias jihadistas do Fronte al Nusra. Os curdos acusam os islamitas do assassinato do seu líder, Isa Huso, ocorrida nessa segunda-feira em Qamichli, uma cidade na fronteira com a Turquia.
Além da coincidência entre os lugares, um vínculo com a história do padre Dall'Oglio pode estar no fato de que – segundo outro testemunho recolhido pelo site da ONG francesa L'Oeuvre d'Orient –, durante um discurso proferido no domingo em Raqqa, o padre Dall'Oglio teria feito referência explícita às violências contra os curdos, condenando-as. Palavras coerentes com a sua visão de uma Síria livre, em que deve haver lugar para povos e religiões diversos. Mas que poderiam não ter agradado os islamitas mais radicais.
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Padre Dall'Oglio, suspense sobre o sequestro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU