19 Julho 2013
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 10, 48-46 que corresponde ao Domingo 16 do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O episódio é algo surpreendente. Os discípulos que acompanham Jesus desapareceram de cena. Lázaro, o irmão de Marta e Maria, está ausente. Na casa da pequena aldeia de Betânia, Jesus encontra-se a sós com duas mulheres que adotam ante a Sua chegada duas atitudes diferentes.
Marta, que sem dúvida é a irmã mais velha, acolhe Jesus como dona da casa, e coloca-se totalmente ao seu serviço. É natural. Segundo a mentalidade da época, a dedicação às tarefas do lar era tarefa exclusiva da mulher. Maria, pelo contrário, a irmã mais jovem, senta-se aos pés de Jesus para escutar a sua palavra. A sua atitude é surpreendente pois ocupa o lugar próprio de um “discípulo” o que correspondia apenas aos homens.
Num momento determinado, Marta, absorvida pelo trabalho e submersa pelo cansaço, sente-se abandonada pela sua irmã e incompreendida por Jesus: “Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o serviço? Diz-lhe que me dê uma mão”. Porque não manda a sua irmã a que se dedique às tarefas próprias de toda a mulher e deixe de ocupar o lugar reservado aos discípulos homens?
A resposta de Jesus é de grande importância. Lucas relata-a pensando provavelmente nas desavenças e pequenos conflitos que se produzem nas primeiras comunidades na hora de fixar as diversas tarefas: “Marta, Marta, andas inquieta e nervosa com tantas coisas; só uma é necessária. Maria escolheu a parte melhor, e
não lha tirarão”.
Em nenhum momento critica Jesus Marta a sua atitude de serviço, tarefa fundamental ao seguir a Jesus, mas convida-a a não se deixar absorver pelo seu trabalho até ao ponto de perder a paz. E recorda que o escutar a sua Palavra tem de ser o prioritário para todos, também para as mulheres, e não uma espécie de privilégio dos homens.
É urgente hoje entender e organizar a comunidade cristã como um lugar onde se cuida, em primeiro lugar, o acolhimento do Evangelho no meio da sociedade secular e plural dos nossos dias. Nada há mais importante. Nada mais necessário. Temos de aprender a reunir-nos mulheres e homens, crentes e menos crentes, em pequenos grupos para escutar e partilhar juntos, as palavras de Jesus.
Esta escuta do Evangelho em pequenas “células” pode ser hoje a “matriz” a partir da qual se vá regenerando o tecido das nossas paróquias em crise. Se o povo simples conhece em primeira mão o Evangelho de Jesus, disfruta-o e reclama-o à hierarquia, irá arrastar-nos a todos para Jesus.
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