29 Junho 2013
O Papa Francisco pega o touro do IOR pelos chifres e estabelece uma comissão de inquérito. Cinco pessoas de sua confiança passarão o raio-X no banco vaticano para lançar as bases de uma reforma do estatuto e das suas atividades. Há também uma mulher entre os comissários. Como prova da vontade do papa de envolver mais a outra metade do céu católico na missão da Santa Sé. Trata-se de Mary Ann Glendon, jurista norte-americana, ex-presidente da Academia Pontifícia das Ciências e primeira leiga a dirigir, em 1995, uma delegação diplomática da Santa Sé na Conferência das Nações Unidas sobre as Mulheres de Pequim.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A comissão, presidida pelo cardeal octogenário Renato Farina – ex-bibliotecário vaticano – foi lançada nessa segunda-feira, 24 de junho. Sinal de que o fim de semana passado, quando Bergoglio esteve ausente ao concerto organizado para o Ano da Fé, o pontífice tinha coisas mais importantes a fazer do que ser aplaudido.
A intervenção no IOR lança luz sobre a forma de trabalhar do papa. Tomar o tempo necessário para analisar um problema, avaliar as opções, passar para a ação. Nos meses passados, Bergoglio transmitiu a mensagem de que a Santa Sé não precisa de um banco, qualquer que seja. "São Pedro não tinha uma conta no banco", repetiu ele novamente no dia 11 de junho. O IOR não será eliminado, mas também não será suficiente torná-lo transparente.
O Papa Francisco quer um instrumento que esteja rigidamente vinculado ao seu destino original: o uso de bens a fins de "obras de religião e de caridade". Por isso, a comissão é chamada a examinar a "posição jurídica e as atividades do Instituto para permitir uma melhor harmonização dele com a missão da Igreja universal e da Sé Apostólica".
Os cinco comissários, analisado o "andamento do IOR", deverão relatar ao papa. O fato de que dois norte-americanos fazem parte da comissão – Glendon e o Mons. Peter Bryan Wells, da Secretaria de Estado – indica que as pressões do episcopado norte-americano antes do conclave para um operação de limpeza radical do banco vaticano foram assumidas pelo papa.
Os outros comissários são o bispo espanhol Arrieta Ochoa (da Opus Dei e secretário do Conselho para os Textos Legislativos, uma espécie de conselho constitucional do Vaticano) e o cardeal francês Jean-Louis Tauran, membro do conselho cardinalício de vigilância do IOR. Tauran sempre foi um aliado do cardeal Nicora (presidente da Autoridade de Informação Financeira) no objetivo de reforçar os controles sobre todas as operações financeiras realizadas dentro do Vaticano. Nicora e Tauran são os dois purpurados que, há um ano, não compartilharam a vergonhosa expulsão de Gotti Tedeschi da presidência do IOR com o consentimento de Bertone.
Agora Bergoglio tem todos os instrumentos para que, dentro de um ano, o IOR seja reorganizado a fundo. Dez dias atrás, ele nomeou um representante especial seu no banco, Mons. Mario Ricca, com a qualificação de "prelado interino do IOR" e com o direito de participar da comissão cardinalícia de vigilância como secretário e de participar das reuniões do conselho de administração do IOR.
A notícia da comissão de inquérito foi acolhida com absoluta calma pelo novo presidente do IOR, von Freyberg (nomeado pouco antes do conclave passado). Freyberg, que nunca foi recebido oficialmente pelo pontífice, mas o encontrou na residência Santa Marta, onde ambos se hospedam, determinou-se a tarefa de limpar o banco das contas suspeitas, a fim de apresentar a Francisco um instituto em ordem a fim de poder modelar como quiser.
Desde maio, uma dezena de consultores da agência internacional Promontory se instalou no torreão de Nicolau V para fazer um trabalho abrangente de revisão de todos os dados. Mil contas correntes por mês são examinadas cuidadosamente com relação a seus titulares e sua movimentação. Está em andamento a reorganização do sistema de informática e a formação de pessoal segundo padrões atualizados, a fim de poder relatar imediatamente as operações suspeitas à Autoridade de Informação Financeira, presidida pelo cardeal Nicora.
O diretor da AIF, o suíço René Bruelhart, declarou recentemente que seis operações suspeitas de lavagem de dinheiro foram examinadas em 2012, das quais duas foram denunciadas à procuradoria vaticana. Em breve, as competências da AIF serão reforçadas.
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Francisco ordena investigação sobre o IOR - Instituto Humanitas Unisinos - IHU