21 Junho 2013
O título deste livro pode fazer com que alguém razoavelmente espere uma espécie de campanha panfletária contra os abusadores e uma lista de sugestões para novas estruturas e programas para lidar com os abusos. Dom Geoffrey Robinson, no entanto, ousar fazer algo mais fundamentalmente revolucionário em For Christ’s Sake: End Sexual Abuse in the Catholic Church ... For Good [Pelo amor de Cristo: Parem o abuso sexual na Igreja Católica... para o bem].
A reportagem é de Tom Roberts, publicada no sítio National Catholic Reporter, 19-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele se atreve a puxar o fio que desfaz o manto que escondeu a doença institucional. Nós todos conhecemos os sintomas, dos quais os abusos sexuais são a parte mais evidente e alarmante. Robinson desenrola o fio lentamente e, na maior parte, ignora todos os detalhes horríveis e as depravações incompreensíveis do escândalo dos abusos. Essa parte da história já está bem documentada.
Em vez disso, como um bom diagnosticador que sabe que compreender uma doença começa com a compreensão da história do paciente, ele realiza um exame rigoroso da cultura a partir da qual a crise dos abusos cresceu.
"Há um antigo ditado que diz: 'A corrupção dos melhores é o pior'", escreve ele na introdução. Dadas as dimensões do escândalo, diz, "já não podemos mais limitar a nossa culpa aos indivíduos, mas também devemos olhar para fatores dentro da própria cultura da Igreja que contribuíram para isso. E, quando tantas autoridades da Igreja tentaram esconder os abusos, ou trataram as vítimas de abusos como se fossem um inimigo da Igreja, devemos olhar novamente para os fatores sistêmicos por trás de tal comportamento, fatores que fazem parte da própria cultura da Igreja".
Só essas frases já valem o livro, pois elas perpassam as mistificações, as desculpas e as racionalizações infindáveis que se tornaram os familiares pontos de discussão hierárquicos.
O que todos nós sabemos agora é que forças externas – inquéritos estatais, promotores agressivos, vítimas e seus advogados – são capazes, com graus de sucesso variados, de forçar os detalhes do escândalo a se desvincularem da cultura. Tudo isso leva a copiosos pedidos de desculpas (embora nunca se detalhe por quê), novos programas para proteger as crianças, novos resoluções de que isso nunca deve acontecer novamente.
Esses passos são para o bem, mas eles fazem muito pouco para lidar com o "porquê" da questão, e é no ponto do "porquê" que Robinson inicia uma discussão de valor inestimável.
Buscar o "porquê" nos leva a entrar profundamente na história, na fundação da instituição e na sua própria ideia de Deus. O que encontramos no fundo, apesar de uma rica linguagem de amor que acompanha esse caminho, é um deus "furioso" sempre presente, diz Robinson.
"A própria estrutura da Igreja, com um papa monárquico que insiste na obediência e usa de meios coercitivos para assegurar a conformidade, significa que o deus irado nunca está longe. (...) Isso criou uma Igreja em que, apesar da conversa sobre o amor, a prática tem se baseado demasiadamente no medo, em vez do amor, e as autoridades sempre tiveram o apoio do deus irado para as suas palavras e ações".
Bispo auxiliar emérito de Sydney, Austrália, Robinson fala a partir de dentro e, embora ele possa ser marginalizado por causa da sua crítica, no entanto, ele entende o funcionamento da instituição, assim como a necessidade de disciplina e de um ensino claro. Ele também compreende as distorções que podem se acumular quando o medo se torna a principal motivação para a forma como nos comportamos, assim como a desorientação que pode surgir quando se remove o medo. O que mantém a comunidade unida quando o medo não funciona mais?
Ele não é um defensor da graça barata, até mesmo quando ele inspeciona metodicamente as atitudes da Igreja sobre a moral sexual e a "importância exagerada" dada a tais ensinamentos. O padre "que ainda acredita em um deus irado, cujo pensamento moral é confuso e imaturo, e que vê toda a moral sexual em termos de pecados mortais diretamente contra Deus", escreve ele, "está vivendo em uma cultura insalubre, uma cultura a partir da qual muitas ações insalubres diferentes podem, e irão, surgir".
O ministério pode se deformar, a ponto de chegar aos abusos, por causa da elevada noção da ordenação que evoluiu ao longo dos séculos, a diferença "ontológica" que serve para separar os padres do resto da humanidade. O resultado disso é uma mística que leva a uma sensação de privilégio e de proteção contra a prestação de contas.
O escândalo é um enorme esgotamento da credibilidade da Igreja Católica e um dos principais obstáculos para o crescimento em outras áreas da vida eclesial. Pelo fato de ser enormemente debilitante, ele é um sintoma de doenças mais profundas. Para superar o escândalo, diz Robinson, a Igreja "deve olhar para si mesma novamente a partir dos fundamentos, e isso deve incluir o fato de olhar para as leis e as crenças" que alguns podem considerar imutáveis.
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Bispo diagnostica a doença institucional da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU