25 Mai 2013
Militantes de quatro diferentes movimentos sociais debateram na noite desta sexta-feira (24) a utilização da internet para mobilizar e articular suas pautas. A discussão ocorreu no evento Conexões Globais, em Porto Alegre, na Casa de Cultura Mário Quintana, e contou com a presença de Jul Pagul, da Marcha das Vadias, Claudia Schulz, do coletivo Fora do Eixo, Cadu Carvalho, da Massa Crítica, e Antonio Martins, do portal Outras Palavras. O painel ainda teve uma intervenção virtual do espanhol Javier Toret, que é ativista do 15-M, movimento originado com os protestos dos indignados da Espanha em 2011.
A reportagem é de Samir Oliveira e publicada por Sul 21, 24-05-2013.
Os militantes de todos esses grupos convergiam na ideia de que, apesar de sua importância na propagação de mensagens e na articulação de convocações, a internet não deve ser superestimada na formação de militância. E de que as ferramentas virtuais são novos meios encontrados para aglutinar as pessoas em direção aos objetivos principais destes movimentos: a ocupação das ruas.
"A tomada das ruas é uma cultura política do feminismo. É o que gera consciência política e empoderamento. Somos mulheres que, depois que ocupamos as ruas, nos tornamos células revolucionárias em nossos cotidianos”, disse Jul Pagul, da Marcha das Vadias.
Ela ressaltou que a internet é importante no sentido de “proporcionar um levante de visibilidade e de articulação” e defendeu que os movimentos sociais precisam construir cada vez mais seus próprios meios de construção de imaginário para “depender cada vez menos das empresas de comunicação”.
Assim como outros painelistas, ela alertou os presentes para a reação conservadora que vem ocorrendo contra os acúmulos conquistados pelos movimentos sociais. “Vivemos em uma sociedade que se escandaliza diante de uma palavra forte como ‘vadia’, mas não se escandaliza diante da violência contra a mulher. E a marcha não é somente sobre essa violência, ela traz também um contexto de retomada dos nossos prazeres e das nossas atitudes”, considera.
Na mesma linha, o militante da Massa Crítica Cadu Carvalho observou que existe um mecanismo de culpabilização que pretende atingir os ativistas sociais, não os perpetuadores das violências. Ele citou como exemplo os argumentos de que as mulheres são culpadas pelos estupros e de que os ciclistas são culpados pelos atropelamentos que sofrem. “É um mecanismo doentio, mas vem sendo cada vez mais combatido”, opinou.
Cadu entende que, sem as forças das redes, os cicloativistas jamais teriam conseguido reunir, em tão pouco tempo, mais de duas mil pessoas nas ruas de Porto Alegre em 2010 para protestar contra o atropelamento em massa que um grupo havia sofrido por parte de um motorista no bairro Cidade Baixa.
A militante do Fora do Eixo no Rio Grande do Sul Claudia Schulz explicou que o coletivo surgiu ligado à proposta de realizar intervenções culturais – especialmente na área musical -, mas acabou transformando-se em um movimento. “Somos uma rede de cultura livre e independente com 120 núcleos no Brasil. Realizamos o exercício diário da inteligência coletiva e da disputa por políticas públicas mais sólidas e condizentes com as necessidades de diversos movimentos sociais”, pontuou.
O Fora do Eixo foi um dos articuladores do protesto “Russomano, não! Amor, sim!”, realizado no ano passado em São Paulo contra o então candidato à prefeitura Celso Russomano (PRB). Além disso, o coletivo vem articulando ocupações nas ruas e praças da cidade. “É uma grande disputa por novos imaginários e pela construção de outros mundos possíveis”, relatou Claudia.
Para o jornalista Antonio Martins, que edita o portal Outras Palavras, esses movimentos se articulam para mostrar que “o pós-capitalismo é possível”. Ele avalia que é necessário construir mecanismos de colaboração e compartilhamento de conteúdos para “atacar o capitalismo em seu centro: os valores que o constituem”.
Ele entende que esses grupos possuem uma clara mensagem de rejeição à “supremacia do branco e do macho e das ordens monogâmicas heteronormativas”. Além disso, o jornalista frisou que os ativistas são descrentes na democracia representativa. “É preciso conhecer as relações sociais e transformá-las, não apenas digitando números na urna a cada dois anos”, comentou.
Antonio Martins também fez uma autocrítica dos movimentos. “Nossas iniciativas tendem a exagerar e glorificar demais nosso impacto no mundo real. Tendemos a acreditar que somos maioria na sociedade. É uma sensação enganadora que ampliamos através do Facebook, onde nos comunicamos somente entre nós, entre iguais”, alfinetou.
Além deste painel, o Conexões Globais promoveu na sexta-feira (24) os painéis “Internet e o Direito Humano” e “Redes e Movimentos Culturais 2.0″, além de oficinas e atrações artísticas. O evento, promovido pelas secretarias de Comunicação e Inclusão Digital e de Cultura do RS, continua neste sábado (25), com atividades a partir das 14h. A programação completa pode ser conferida no site oficial do Conexões Globais.
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Conexões Globais: movimentos sociais debatem política na era da internet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU