Por: Jonas | 27 Abril 2013
Estela de Carlotto, a presidente das Avós da Praça de Maio, tem esperança de que aquilo que o papa Francisco lhe disse ontem, ao concluir a audiência pública da quarta-feira, na Praça de São Pedro, abrirá um novo caminho na busca pelos 400 netos que ainda estão desaparecidos. Carlotto, a avó Buscarita Roa, que já encontrou a sua neta, e Juan Cabandié, neto recuperado e legislador portenho, entregaram uma carta ao Papa. Nela pediram sua ajuda e que sejam abertos os arquivos vaticanos e da Igreja argentina, para que possam proporcionar informação sobre as crianças desaparecidas.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada no jornal Página/12, 25-04-2013. A tradução é do Cepat.
Embora tenha sido breve o diálogo de ontem, as Avós ficaram satisfeitas porque Francisco, contou Carlotto, disse-lhes “contem comigo” quando pediram sua ajuda. “Foi um encontro muito agradável, muito lindo. O Papa quis nos ver. Não disse “não, agora não” – contou Carlotto ao jornal Página/12. Teve gestos importantes, como essa carta que enviou para Hebe de Bonafini (a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio) e recebeu, em audiência, o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel. Agora, minha esperança e minha convicção é que as coisas irão mudar. O papa Francisco é o chefe da Igreja lá. Tem que ter uma mudança. Não digo que saiam pedindo perdão, fazendo discursos. Não queremos discursos. Queremos ações que levem ao encontro dos netos e ao conhecimento de onde estão seus pais”.
“Este papa é uma pessoa aberta, simples. Nós tínhamos nos queixado porque ele, sendo o cardeal Bergoglio, nunca falou de nossos problemas”, acrescentou.
Nesse momento, não pensam em enviar ao Papa nenhuma lista de eventuais lugares ou arquivos argentinos, onde poderia ser investigado sobre os netos. “Queremos que o Papa veja todas as pastas que lhe enviamos, ou, melhor dito, o que a embaixada argentina, ante a Santa Sé, fez chegar até ele, a respeito de cada um dos casos de netos desaparecidos. Aqueles que possuem acesso a esses dados, podem manejá-los com a Igreja lá (pela Argentina), descobrir os arquivos, e começar a ver. O Papa pode analisar tudo ou pedir para que outros façam, porque para isso é o Papa”, apontou.
Estela de Carlotto lembrou que, em 1998, as Avós foram recebidas por João Paulo II, no Vaticano, mas nunca tiveram respostas aos seus pedidos. “João Paulo II nos disse que sim, que conhecia o problema dos netos desaparecidos. E acrescentou “todos oramos por eles”. Quando voltamos à Argentina dissemos que a frase do Papa, ‘todos oramos por eles’, significava ação. Contudo, não mudou nada. É necessário ver, agora, a reação da Igreja oficial argentina”.
Numa coletiva de imprensa que, pouco após estarem na Praça de São Pedro, as Avós ofereceram, na residência do embaixador argentino ante a Santa Sé, João Paulo Cafiero, Carlotto acrescentou que “se o Papa diz: ‘Venham, vou ajudá-las’, então também irá ajudar a nós, os crentes. Na carta que lhe demos não há repreensões, nem culpas. Para atribuir culpa, é necessário existir provas”, acrescentou, sublinhando que estava “completamente convencida” de que o Pontífice respeitará seu compromisso e que elas, agora, estão esperançosas, pois não querem morrer sem conhecer seus netos.
Contou também que nunca tinha apertado a mão do cardeal Bergoglio, embora já o tivesse conhecido na Catedral de Buenos Aires, por ocasião de uma cerimônia, e o Papa lembrou-se desse momento, assim que apareceu, quando conversaram, ontem. “Depois daquele encontro, em Buenos Aires, não ocorreu mais nada. Ele nunca falou de nosso problema. Havia um pouquinho de dor, entre nós, por causa disso. Entretanto, hoje, apresentou-se a oportunidade e esse ‘contem comigo’, que ele nos disse, foi como um sinal de afeto de um homem singelo, simples. Quando começamos a conversar, pegou nossas mãos e, de imediato, deu-nos um beijo. Na verdade, custou-nos soltar as suas mãos. Acredito que hoje recuperamos os tempos perdidos”.
Contudo, se alguém pensava que os desaparecidos poderiam ser um dos grandes temas a ser tratado, quando o papa Francisco visitasse a Argentina, em dezembro, como alguns meios de comunicação tinham anunciado, ontem, o porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, desestimulou isto. Numa coletiva de imprensa, exclusiva com jornalistas estrangeiros, disse que a única viagem para o exterior, prevista neste ano, é a do Brasil, em julho, para a Jornada Mundial da Juventude.
A irmã Geneviève Jeanningros, sobrinha da monja francesa desaparecida Léonie Duquet, também fazia parte da delegação, acompanhando as representantes das Avós da Praça de Maio, num giro por algumas cidades italianas. Em Bolonha, Cabandié esteve com o diretor Nicolás Gil Lavedra, para a apresentação do filme “Verdades verdadeiras”, sobre a vida de Estela de Carlotto.
Ontem, Carlotto e Roa partiram para Bolzano. Irão participar do Festival das Resistências Contemporâneas, no qual Estela fará uma intervenção ao lado do escritor argentino Mempo Giardinelli.
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O Papa e as Mães da Praça de Maio. Um encontro com gestos e sinais de esperança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU