Por: Cesar Sanson | 08 Abril 2013
Especialista em Margaret Thatcher, a professora de História Contemporânea do King’s College Eliza Filby afirma em entrevista ao jornal O Globo, 09-04-2013, que apesar do legado negativo que terá deixado, como o excesso de liberdades no mercado financeiro, “ela também tirou o país do caos”. Para a historiadora, que está prestes a lançar o livro God and Mrs. Thatcher, as convicções da Dama de Ferro e a maneira de agir se explicam por sua religiosidade.
Eis a entrevista.
Qual foi o legado de Thatcher para o Reino Unido?
Ela tirou o país de um grande caos que vinha desde o século XIX. Quando assumiu o poder, estava determinada a criar um sentimento de confiança nacional e de revitalização. E conseguiu. Mas também prometeu melhorar a situação econômica e conter a inflação, o que não aconteceu até deixar o cargo. Mas é indiscutível a sua importância histórica. Lutou contra preconceitos da esquerda e da direita, foi a única mulher primeira-ministra.
Mas ela não agradou a todos os segmentos da população com as políticas liberais...
Não. As privatizações realizadas em seu governo deram certo e outras medidas econômicas também. Mas ela destruiu, por exemplo, a indústria do carvão e outros segmentos industriais, uma derrota simbólica para a força histórica dos sindicatos, que causa muita insatisfação até hoje. São reveladores os números que mostram que, no final dos anos 80, pouco antes de Thatcher deixar o cargo, as pessoas que tinham ações de empresas eram mais numerosas do que aquelas que pertenciam a sindicatos.
Críticos dizem que ela tem responsabilidade na crise financeira mundial de 2008...
Não deixa de ser verdade. Se as suas políticas para tornar Londres um centro financeiro, com a desregulamentação deste setor, funcionaram no curto prazo e têm até hoje o impacto de manter dinheiro no pais, elas também eliminaram regras demais, o que provocou as turbulências aqui dentro. E é um dos motivos da recessão de agora.
A que se atribui a personalidade forte da Dama de Ferro?
Ela era uma pessoa de convicção, daí o apelido. Era uma mulher de valores, de alguma maneira valores muito religiosos, por ter sido uma pregadora antes de política, filha de um pai pregador local metodista. Ela cresceu indo à igreja todos os domingos. Seus valores estão muito ligados ao papel do indivíduo sobre o Estado, à liberdade dos indivíduos.
É consenso que ela dividia opiniões dentro do país.
Ela era mais um fenômeno inglês do que britânico. Era desprezada na Escócia e no País de Gales.
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As convicções da Dama de Ferro se explicam por sua religiosidade, afirma historiadora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU