19 Março 2013
O jesuíta norte-americano James Keenan é teólogo moral do Boston College e membro da Companhia de Jesus desde 1970. Também é o chefe de um grupo mundial de teólogos morais católicos chamado Catholic Theological Ethics in the World Church.
O sítio National Catholic Reporter, 18-03-2013, pediu a sua opinião sobre a eleição do companheiro jesuíta Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Meus pensamentos sobre a eleição do Papa Francisco? Estou absolutamente chocado.
Eu só conhecia o cardeal como o "outro concorrente" no conclave anterior.
O que eu penso agora?
Estou simplesmente observando-o e tentando aprender o que eu posso entender. Eu o vi proferir o seu sermão em italiano aos cardeais na última quinta-feira na Capela Sistina. Eu entendi que ele disse que tudo o que fazemos significa nada se não o fazemos como discípulos de Cristo, em nome de Cristo crucificado.
Ressoa aí a sua vocação jesuítica. O que nós, jesuítas, compartilhamos é a experiência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de que somos, cada um, pessoalmente, chamados a seguir Cristo. A intimação que ele recebeu através dos Exercícios, relembrou ele aos seus irmãos bispos, é o chamado fundamental para cada um de nós.
Eu também fiquei impressionado com a escolha do nome Francisco por parte dele. Lembrei-me de como a própria conversão de Inácio de Loyola começou com a sua consideração da vida de Jesus e das vidas dos santos, e de como entre estes últimos Francisco era o mais importante. É bom para a humildade jesuíta vê-lo escolher o nome Francisco.
Mais importante, acima de tudo, eu estou impactado com o seu compromisso com os pobres. Eu não posso imaginar alguém tão dedicado aos pobres que tenha sido bispo de Roma nos tempos modernos. Isso é um divisor de águas. Eu fico imaginando o que será de São Pedro com ele no comando.
Obviamente, o seu estilo é muito impressionante: o apartamento, o ônibus, as malas carregadas e a conta. Ele não é alguém apegado a cerimônias, desde a sua reverência por uma bênção do Povo de Deus até a sua autodescrição como bispo de Roma e a sua referência ao seu antecessor como bispo emérito de Roma.
Estou impressionado com a sua liberdade pessoal, com a sua ousada sensibilidade pastoral ao lavar os pés dos católicos HIV-positivos, até a sua defesa das preocupações das mães solteiras.
Espero que, quando ele ler o documento selado de 300 páginas que investiga os problemas do Vaticano, ele ouça o Cristo crucificado chamando-o como Cristo uma vez chamou Francisco a reconstruir a sua Igreja. O Vaticano inteiro precisa ser reconstruído.
Eu espero que ele não pense que o caminho que o seu ministério foi moldado em Buenos Aires, Argentina, é a única forma pela qual a Igreja local ou universal deve prosseguir. Eu espero que ele conheça as Igrejas locais da Ásia, África, Europa, América do Norte e Oceania.
Enquanto ele aprende sobre a Igreja em outros lugares, eu espero que ele seja um bom ouvinte dos outros, especialmente das mulheres. Eu espero que ele garanta que o conclave para o seu sucessor não ocorra sem a presença de mulheres.
A fim de chegar a esse tempo e lugar, eu espero que a sua liderança como bispo de Roma incite os seus irmãos bispos a expandir o papel e o lugar das mulheres na Igreja. Eu espero, em particular, que ele ofereça às religiosas, especialmente nos Estados Unidos, uma escuta bem merecida.
Na Companhia de Jesus, temos uma regra não escrita: um novo superior deve passar os cem primeiros dias do seu ofício aprendendo sobre a comunidade antes de fazer quaisquer mudanças. Eu desejo a ele esses cem primeiros dias.
Acima de tudo, eu rezo por ele, para que a evidente generosidade e coragem que o animam possam levá-lo a um novo modelo de pastoreio que distinga a unidade da uniformidade, e a tolerância do laxismo ou do rigorismo.
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''Que o Papa Francisco expanda o papel das mulheres''. Artigo de James Keenan - Instituto Humanitas Unisinos - IHU