23 Janeiro 2013
O mundo corporativo é uma selva e quem quiser dele participar tem de estar preparado para enfrentá-la. Nessa selva, os obstáculos aparecem por todos os lados e é preciso lutar ferozmente para vencê-los a cada dia. Exatamente como faz um tigre em sua luta pela sobrevivência. E por que o tigre e não o leão, aquele da expressão "matar um leão por dia"?
Porque, para Renato Grinberg, autor de "A Estratégia do Olho do Tigre", as características desse felino aproximam-no melhor do cotidiano empresarial. O tigre tem garra, força, inteligência e vai para a luta decidido a vencer. Tem lá suas fraquezas, mas sabe como compensá-las. Como não enxerga bem, desenvolveu a audição e o olfato, para detectar presas a grandes distâncias. Para atingir seu objetivo, o tigre exercita uma aproximação paciente, aproveitando oportunidades.
A reportagem é de Marinete Veloso, publicada no jornal Valor, 22-01-2013.
A estratégia do olho do tigre anunciada no título do livro se traduz por uma avaliação lúcida que cada pessoa deve fazer sobre suas forças e suas fraquezas, de forma a atingir suas metas mais rapidamente. Mas, para não se abater diante das dificuldades, não basta a garra. Também será preciso distinguir-se pela dedicação e resiliência -, esta última, uma qualidade muito valorizada atualmente no mundo dos negócios, característica de quem consegue lidar com problemas sob extrema pressão sem perder o equilíbrio emocional. São traços importantes do perfil pessoal e profissional porque, conforme enfatiza Grinberg, mesmo em empresas nas quais as práticas éticas e a governança são valorizadas e o conceito de sustentabilidade é aplicado, ali também o mundo corporativo sempre se mostrará como uma selva.
No dia a dia, a dinâmica do mercado exige das empresas contínua renovação; devem estar sempre prontas para criar novos produtos, novas linhas de negócios, avançar em outros territórios e adaptar-se a situações inesperadas. "Quando a economia cresce, é como se houvesse abundância de caça na selva", diz o autor, utilizando sua metáfora preferida. "O problema é que abundância de caça atrai predadores e é com esses predadores que o profissional vai ter de lidar".
Para fazer frente a esse cenário desafiador, Grinberg propõe um método, estilo passo a passo, com sugestões de atitudes que podem melhorar o desempenho do profissional em ocasiões decisivas. Segundo ele, é primordial saber a diferença entre situações em que se é caça ou caçador, entre ser perdedor ou vencedor. Essa percepção do papel a desempenhar não é algo que surge casual ou espontaneamente. "É cultivada ao longo da vida e aprende-se a manejá-la".
Antes de enumerar suas recomendações, Grinberg faz uma análise de alguns perfis de profissionais que apresenta como modelos a serem evitados. Essas pessoas se inscrevem no que ele chama de "massa amorfa", composta de "gente medíocre, insatisfeita com seu trabalho, com seus negócios e com sua vida". Essas pessoas, diz, não tomam nenhuma iniciativa de mudar a própria situação. Sua característica é permanecer na inércia, e por isso suas carreiras nunca deslancham. Vivem fazendo perguntas do tipo "por que não sou escolhido na hora das promoções?", "por que meu negócio não decola?", ou "o que as outras pessoas têm que eu não tenho?" Têm, sim, a carreira estagnada e põem a culpa em algo que não está nelas mesmas, encontrando "desculpas confortáveis" para permanecerem onde estão.
Nesse contingente encontram-se, por exemplo, os que esperam o sucesso vir bater gratuitamente à porta. "Uma hora aparece aquela promoção", é um dos argumentos. No mundo corporativo, diz o autor, essa atitude é fatal, porque as empresas escolhem seus líderes entre aqueles que se destacam, apresentam resultados e vão além das tarefas para as quais foram contratados. Outra desculpa confortável é culpar a sorte ou dizer que não estava no lugar certo, na hora certa. As oportunidades, diz o autor, aparecem, mas o que faz a diferença não é necessariamente a oportunidade em si, mas a visão de quem a aproveita e a condição de estar preparado para aquele momento.
Grinberg cita vários exemplos de pessoas de sucesso, numa lista que passa por empresários, artistas famosos do mundo do cinema e da música, ou craques do futebol. O jogador Romário, diz ele, centroavante da seleção brasileira, foi um mestre na arte de aproveitar oportunidades: "O grande talento dele não era correr. O que ele tinha de genial era a capacidade de se posicionar na área nos momentos decisivos. Isto lhe rendeu mais de 900 gols."
O autor mostra caminhos para se aproveitar oportunidades. Disso ele entende por experiência própria. Músico de formação, Grinberg decidiu, em determinado momento da vida, dar uma guinada profissional. Estudou propaganda e marketing na ESPM, em São Paulo, e partiu em seguida para os Estados Unidos, onde fez pós-graduação em marketing na Universidade da Califórnia. Ao longo de seus oito anos naquele país trabalhou na Sony Pictures e na Time Warner. Voltou ao Brasil em 2008, já como especialista em desenvolvimento de carreira, liderança e gestão de pessoas. É presidente da Trabalhando.com, empresa de "hunting" e recrutamento, presente em 11 países.
Portanto, para conquistar "o olho do tigre", Grinberg diz que o profissional precisa apropriar-se de três características, que ele aborda detalhadamente ao longo do livro. A primeira é o autoconhecimento. A segunda é foco nos objetivos, pois "estes precisam ter coerência com as habilidades e limitações da pessoa". E, finalmente, ter dedicação total e ser eficiente.
Além de considerações sobre esses tópicos, o leitor encontra orientação sobre como exercitar sua criatividade no ambiente profissional. "Criatividade", explica Grinberg, "ajuda a melhorar a qualidade". Mas ressalva que o ambiente corporativo é resistente a inovações. "Na hora de apresentar uma nova ideia", ensina, "comece pelos resultados, nunca pelos processos. Se sua ideia pode aumentar em 20% a receita de vendas de certo produto, foque sua apresentação nos benefícios que virão com o aumento da receita."
Do receituário de Grinberg também faz parte a criação de uma rede de contatos de pessoas-chave. "Networking" não pode ser visto como perda de tempo, diz. "Ninguém se faz sozinho e uma rede bem articulada, com aliados estratégicos, alavanca seus objetivos e potencializa o sucesso." Segundo Grinberg, o "networking" é tão importante que se tornou um negócio em si, em que agências realizam eventos com a única finalidade de promovê-lo. "Nesses eventos, as palestras são menos importantes que os bastidores e o tempo livre". Tigres sabem disso.
"A Estratégia do Olho do Tigre" - Renato Grinberg. Editora: Gente. 173 págs., R$ 24,90
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Se o mundo corporativo é uma selva, a ordem é ser agressivo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU