11 Janeiro 2013
De um lado os terroristas do Jihad colocam as bombas no terminal dos ônibus ou lançam granadas nas igrejas, de outro a maioria muçulmana adquire casas e terrenos, capturando os cristãos indigentes como mão de obra”. Ao descrever a “torquês” islâmica à qual está presa 30% da população do Quênia está o padre Stefano Giudici, missionário comboniano, que, desde 2009, conduz em Nairobi a Missão São João Batista nas favelas de Korogocho, um dos lugares mais desesperadores de África. O continente negro está na mira das seitas fundamentalistas (como Boko Haram, na Nigéria) que, com milhares de mortos, procuram impor a Sharia. O “contágio” é um pesadelo.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi e foi publicada no jornal Vatican Insider, 9-1-2013.
O que ameaça os cristãos?
A islamização rastejante tem duas faces: a violenta dos extremistas e a legal dos posseiros que, como os colonos israelenses nos Territórios, ocupam área sobre área. No primeiro dia do ano, nós organizamos uma marcha pacífica pela liberdade religiosa e contra a utilização instrumental da fé para objetivos de poder político e econômico. Sofremos as crescentes tensões em vista da votação de março, mas aqui a nossa ação pastoral é bem acolhida pelo povo. No topo, estão mal-entendidos, e, nas várias comunidades de crentes e fundamentalistas, trabalham para a radicalização. Nós ficamos aqui, não temos medo, não fugimos.
Há ainda diálogo com o Islã?
Sim, mas a adesão islâmica está se ideologizando, e as divisões são tribais. Estamos entre pessoas que apreciam o nosso compromisso, e compreendem o significado da nossa presença em um lugar assim tão cheio de problemas, emergências, desafios, mas também com potencialidade para o bem. Infelizmente, todo o mundo retira-se em posição de intransigência, e as franjas integralistas manipulam as consciências. Os incentivos para o desenvolvimento são um modo de atrair as pessoas. Quando não se tem o que comer, aceita-se tudo, e muitos tornam-se islâmicos por necessidade. É uma estratégia ou uma dinâmica espontânea, a tendência agora é geral. Até mesmo os imigrantes indianos fazem assim em seus bairros de Nairóbi, para propagar a fé hindu. Dinheiro, casas, terrenos, empregos.
Qual é o antídoto para o choque entre religiões?
O Quênia é muito dividido. Os candidatos à presidência do país reforçam alianças tribais e não programas. Falta uma política de integração e diálogo entre as partes em conflito. Não há nenhuma autoridade iluminada em posição de colocar todos na mesma mesa. Primeiramente, a violência no Quênia não tinha coloridos religiosos. O perigo é que o contágio fundamentalista se estenda da Nigéria para o resto de África. Nós, católicos, junto com as outras confissões organizamos manifestações para a recuperação de crianças de rua, cheiradores de cola e alcoólicos. Tentamos, juntos, manter vivas as relações inter-religiosas. No passado, os conflitos referiam-se principalmente à definição de valores para conferir ordem. Mas Al Shabaab move-se. Em Korogocho, há um bairro inteiro somali e muçulmano. O Quênia empenhou-se em uma difícil ação militar na Somália, sob os auspícios da União Africana, para defender suas fronteiras dos terroristas. Teme-se uma escalada de ataques da parte do Shabaab da Somália. As verificações de segurança tornaram-se mais rigorosas, e vem sendo controlada também a entrada dos supermercados e dos cinemas. A salvação é o diálogo.
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''De Boko Haram ao Shabaab, África na Torquês Islâmica'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU