27 Novembro 2014
As medidas de imigração anunciadas pelo presidente dos EUA na última quinta-feira (20) beneficiarão cerca de 5 milhões de pessoas hoje sem documentos de residência, mas ao mesmo tempo vão gerar uma montanha burocrática.
A reportagem é de Pablo Ximénez de Sandoval, publicada pelo jornal El País, 26-11-2014.
Calcula-se que 60% dos 11,7 milhões de sem documentos que vivem nos EUA sejam mexicanos. Aqueles que cumprirem os requisitos precisarão de cédulas consulares, passaportes e certidões de nascimento para provar sua identidade, o que por sua vez exigirá que a administração mexicana trabalhe a pleno rendimento.
"O objetivo é que nenhum mexicano que tenha a possibilidade de se regularizar fique de fora", disse nesta segunda-feira (24) Carlos Sada, cônsul-geral do México em Los Angeles, a cidade com mais pessoas nessa situação. Sada acrescentou que na anistia decretada pelo presidente Ronald Reagan em 1986 houve mexicanos que "não se regularizaram por falta de informação". "Vivemos com essa frustração", disse.
O México conta com o precedente do programa Daca (que protege da deportação os que chegaram menores de forma irregular, os chamados "sonhadores"). O programa Daca já tem 650 mil beneficiários, dos quais 500 mil são mexicanos. Dos 5 milhões de possíveis beneficiários, 1,1 milhão vivem na Califórnia, segundo Linda López, responsável por assuntos de Imigração na Prefeitura de Los Angeles. Cerca de 800 mil são mexicanos e a maioria deles vive no condado de Los Angeles.
"O desafio está aqui", disse Sada em uma entrevista coletiva na segunda-feira de manhã no Consulado Geral em Los Angeles. Ele considera que a cidade californiana é a que receberá mais pressão na busca por documentos. O cônsul-geral recomendou que os mexicanos comecem já a se registrar no serviço Mexitel.
O México tem 50 consulados nos EUA, a maior rede diplomática que um país tem em outro país. As pessoas que quiserem regularizar sua situação nos EUA primeiro têm de provar sua nacionalidade, e os consulados são a única instituição que pode fazê-lo. Algumas têm passaportes vencidos, mas outras não têm qualquer prova de nacionalidade. Essas são "as mais vulneráveis", disse Sada, pois terão um caminho mais longo a percorrer.
Essas pessoas precisam conseguir primeiro uma certidão de nascimento de seu Estado de origem. Mas é um tipo de documento que não tem foto, e por isso é preciso buscar qualquer tipo de papel que prove sua identidade, por exemplo, um boletim escolar. "A instrução que temos do México é para sermos mais flexíveis" na burocracia para conseguir a cédula consular, explicou Sada.
Por exemplo, o consulado poderia comprovar sua origem mexicana por meio de uma entrevista pessoal, que seria suficiente para obter algum tipo de documento provisório.
O novo programa para evitar deportações começará a funcionar em abril, mas tanto o consulado mexicano quanto as associações de ajuda legal a imigrantes recomendam que as pessoas comecem já a reunir a documentação. "Utilizem esses 180 dias", pediu Angélica Salas, da organização Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes em Los Angeles.
Salas explicou que as pessoas têm de buscar três tipos de documentos: algo que prove seu laço familiar com um filho ou um cônjuge, se acreditarem que se qualificam nesse requisito; uma prova de identidade; e uma prova de que se encontravam nos EUA no dia do anúncio, por exemplo, "um recibo".
Nessa etapa, a informação é fundamental, concordam no consulado, na Prefeitura de Los Angeles e nas organizações de ajuda legal. "Se tiver filhos americanos, não pode ser deportado", disse o cônsul Sada. Todos devem saber que embora o programa comece em abril as medidas já têm efeito desde o dia em que o presidente fez o discurso, na última quinta-feira (20). Inclusive para aqueles que tiveram um filho nesse dia, salientou Angélica Salas.
Ela pediu que as pessoas não tenham medo de ser deportadas ao tratar com as autoridades. "A única coisa que garante a deportação é mentir" na documentação, disse. "Mas não quero que as pessoas se autodesclassifiquem. É melhor que revisem seu caso. Ainda encontramos hoje jovens de Daca que não o pediram na época."
No Consulado Geral do México em Los Angeles trabalham mais de 110 pessoas. Já com os trâmites para obter carteiras de motorista (uma novidade que a Califórnia introduz a partir de janeiro de 2015), registrou um aumento de atividade de 20%, explicou Sada a "El País".
A sede central concede cerca de 400 documentos de identidade por dia, que somam cerca de mil com os escritórios consulares móveis. Sada estima que precisará de 20 a 30 agentes além dos 60 que tem atualmente e provavelmente esse novo processo obrigará o consulado a dar expediente também à tarde.
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Consulados do México nos EUA se preparam para avalanche de imigrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU