21 Novembro 2014
Será curioso, bonito e estimulante ver, na próxima terça-feira, 25 de novembro, o Papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, dirigir-se pela primeira vez ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa.
A reportagem é de Alessandro Notarnicola, publicada no sítio Il Sismografo, 19-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco, como é bem sabido na história da Igreja, é o primeiro pontífice proveniente do continente americano e o primeiro não europeu depois de mais de 12 séculos. Dos 265 sucessores de Pedro até Bento XVI, os papas europeus foram 254, e 11 nasceram fora da Europa.
Francisco é o 266º e o 12º não europeu. Não ouviremos simplesmente discursos articulados e relevantes, que certamente enriquecerão o grande magistério dos papas sobre a Europa, em particular de Pio XII em diante, mas estaremos diante das palavras de um papa que não é "filho" do Iluminismo, nem da Guerra Fria, um pastor que, embora conhecendo a realidade heterogênea da Europa, de ontem e de hoje, tem uma ótica organicamente diferente da visão própria dos pontífices europeus anteriores.
Com Francisco, está evoluindo – embora gradualmente – a visão eclesial eurocêntrica e até mesmo, como ele mesmo disse uma vez, a visão Vaticano-cêntrica. O papa das "periferias" vai falar a partir do coração de um dos centros geopolíticos ao qual povos e países periféricos muitas vezes olham com preocupação e desconfiança.
O Papa Francisco, o peregrino da mediação e do diálogo, do encontro e da "políticas das pontes", vai voar para Estrasburgo para se dirigir a toda a comunidade dos povos da Europa e fará isso para entrar pela porta da frente: o Parlamento Europeu.
A viagem do próximo dia 25 de novembro, já iminente, será a viagem mais fugaz de um pontífice. De fato, o Santo Padre, mantendo bem elevado o caráter da essencialidade dos tempos e, especialmente, da economia dos custos que uma viagem requer, vai bater o recorde de brevidade de todas as viagens pontifícias internacionais já realizadas, pouco mais do que uma manhã e apenas dois discursos, dirigidos, respectivamente, aos representantes do Conselho e da Comissão Europeia e à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.
Essa quinta etapa internacional da geografia bergogliana chega depois da visita de 1988 de João Paulo II às duas mesmas organizações europeias durante a sua Viagem Apostólica à França.
Na terça-feira, 25 de novembro, o voo papal vai decolar do Aeroporto de Fiumicino (Roma) por volta das 7h55; depois de pousar no Aeroporto Internacional de Estrasburgo, após cerca de 2 horas viagem, o avião irá parar na praça em frente à Sala de Honra do aeroporto, onde ele será recebido pelo núncio apostólico na França, Luigi Ventura, e pelo Chefe do Protocolo, que darão as boas-vindas ao pontífice, junto com outras autoridades políticas e eclesiásticas, dentre as quais destacamos o secretário de Estado do governo francês e encarregado dos Assuntos Europeus, Harlem Désir, os dois vice-presidentes do Parlamento Europeu e os cardeais Péter Erdö, presidente da Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), e Reinhard Marx, presidente da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece), que também farão parte da comitiva papal durante toda a visita.
A visita ao Parlamento Europeu irá ocorrer em torno das 10h35, quando o Santo Padre Francisco chegará ao Espace Mariana De Pineda, entrada de honra dedicada à heroína espanhola do qual traz o nome, em que ocorrerão as apresentações das respectivas delegações. Em seguida, o pontífice irá se encontrar com Martin Schulz, presidente eleito do Parlamento Europeu em 2012 e reconfirmado para um segundo mandato há alguns meses.
A visita "é uma oportunidade única para ambas as partes", comentou Schulz aos microfones da Rádio Vaticano. "Receberemos no Parlamento Europeu a personalidade que, provavelmente, neste momento histórico, é um ponto de referência não só para os católicos, mas também para muitas pessoas, um elemento de orientação em uma época em que muitas pessoas, no entanto, estão realmente desorientadas, porque o mundo caminha a uma velocidade dramática, às vezes até em direções muito arriscadas. Nesse contexto, o papa é alguém que dá coragem às pessoas com a sua linearidade honesta. Por outro lado – continuou Schulz –, o papa vai se encontrar com um Parlamento Europeu que ganhou em segurança, consciência, poder e influência, em que se sentam 750 deputados que representam 507 milhões de pessoas em 28 Estados: um auditório, portanto, que servirá de caixa de ressonância para centenas de milhões de pessoas. Em suma, acho que será um momento importante".
O presidente, depois da execução dos hinos pela banda militar e da foto oficial, irá guiar o papa para o Salão Protocolar no primeiro andar do palácio que abriga o Parlamento Europeu, e, antes do discurso, no pavilhão em frente, haverá a assinatura do Livro de Ouro e a troca de presentes.
Francisco vai falar perante a cúpula reunida depois de ouvir o discurso do presidente do Parlamento. No fim, o papa vai se retirar por alguns minutos no escritório do presidente, para um breve encontro privado e, ao redor das 12 horas, o Santo Padre vai ir de carro para o Conselho da Europa, a mais antiga organização intergovernamental europeia que reúne 47 Estados membros, com uma população de mais de 800 milhões de pessoas.
Ao chegar em frente ao Palais de l'Europe, o Santo Padre, seguido pela comitiva, será recebido e saudado pelo secretário-geral, o presidente do Comitê de Ministros, pelo presidente da Assembleia Parlamentar, pelo comissário para os Direitos Humanos e pelo presidente da Conferência Internacional das Organizações Não Governamentais e por outras personalidades políticas.
Depois do encontro privado com Thorbjorn Jagland, reconfirmado secretário-geral do Conselho da Europa no dia 1º de outubro de 2014, o papa vai se dirigir para a Sala do Comitê dos Ministros em torno das 12h35, para a reunião da Assembleia Parlamentar reunida em sessão solene para a ocasião, onde irá proferir o segundo e último discurso.
Na sexta-feira, então, o papa vai se dirigir em meio círculo não só aos deputados europeus e aos responsáveis das instituições da União Europeia, mas a todos os povos da Europa, representados por delegação pelos parlamentares europeus eleitos por sufrágio universal.
Além disso, o diálogo – aberto, transparente e regular – entre Igrejas e órgãos comunitários está sancionado pelo Tratado de Lisboa, conhecido também como Tratado de Reforma, assinado no dia 13 de dezembro de 2007, que fez amplas modificações no Tratado sobre a União Europeia e no tratado que institui a Comunidade Europeia.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco, o primeiro papa não europeu, falará para os povos da Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU