Por: Jonas | 05 Novembro 2014
"Em nossos dias, a almejada globalização (neoliberal estadunidense) vive seu momento de crise profunda. Isso não quer dizer que não tenha poder de decisão no mundo, de fato, continua sendo hegemônica, para usar um termo gramsciano, mas desde a crise que se desatou em 2007-2008 já não é possível, nem viável, o ‘modelo’”, escreve Ramiro Hernández Romero em artigo publicado por Rebelión, 01-11-2014. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Ao meu irmão José Mario Hernández Romero;
Aos mortos pela repressão do Estado no estado de Guerrero, México.
Introdução
A globalização antes de ser um conceito de análise para conhecer os fenômenos de nossa realidade social, é muito mais uma ideologia que legitimou uma ordem social, que poderíamos distinguir em termos políticos e econômicos. Ainda que também tenha sido muito importante a partir da cultura e da filosofia. A chamada globalização foi um termo muito na moda nos anos 1990, que sustentou o domínio econômico do chamado neoliberalismo em grande parte do mundo e, em especial, na América Latina. Esta suposta nova ordem não deixou de se manifestar nos grupos dominantes e em seus ideólogos, que celebraram com sinos e assobios a glória e o advento de um mundo melhor, onde supostamente todos nós deveríamos viver, conviver e desfrutar. Seus ideólogos, no âmbito econômico, celebraram semelhante falsidade. Digo falso porque não foi a mesma coisa para a convivência dos setores populares. A partir de uma posição filosófica, os ideólogos também se mostraram muito satisfeitos ao formular uma série de argumentos que pouco tinha a ver com a realidade. Refiro-me aos chamados novos filósofos, que entre outras questões, conceberam desde o fim da história, das utopias e do trabalho até a glorificação das supostas teorias “pós”: pós-modernidade, pós-marxismo, pós-colonialismo, pós-estruturalismo e pós-política. Mostraram, entre outras falácias, a derrota dos grupos de lutadores sociais que se manifestaram contra o capitalismo, como um novo credo que deveria servir para lhes oferecer suas horas de oração. E de passo, instituíram o atestado de óbito das lutas sociais, por um lado, e do pensamento crítico que antes colocava em evidência as fragilidades do capitalismo, por outro. Meu objetivo é fazer uma reflexão em torno da ideologia chamada globalização, que se posicionou em um momento histórico do capitalismo na América Latina, principalmente como resultado da crise que havia se abatido a partir dos anos sessenta do século passado.
Antecedentes da globalização
Em um trabalho anterior (populismo, ditaduras e socialismo na América Latina), mencionei que o neoliberalismo havia sido experimentado pela primeira vez no Chile. Foram os tempos da crise do capitalismo mundial, iniciada nos anos 1960. A experiência no Chile era uma busca de sair desta crise. Devemos dizer que para romper um novo modelo econômico e político, as elites dominantes que viam em perigo seu status precisavam mudar o funcionamento do Estado para implementar um suposto novo projeto. Dessa maneira, era preciso colocá-lo em prática e foi em um país cujas condições econômicas e políticas não estavam tão avançadas como nos países imperialistas europeus e nos Estados Unidos. Foi justamente no Chile que se realiza a transformação do Estado, que Harvey chama Estado de neoliberal. Nas palavras do autor: “o primeiro experimento de formação de um Estado neoliberal ocorre no Chile, após o golpe de Pinochet, no dia ‘11 de setembro menor’ de 1973. O golpe contra o governo democraticamente eleito de Salvador Allende foi promovido pelas elites econômicas domésticas, que se sentiam ameaçadas pelo rumo para o socialismo de seu presidente. Contou com o apoio de companhias estadunidenses, da CIA e do secretário de Estado estadunidense Henry Kissinger. Reprimiu de maneira violenta todos os movimentos sociais e as organizações políticas de esquerda e desmantelou todas as formas de organização popular (como os centros de saúde comunitários dos bairros pobres) que existiam no país. O mercado de trabalho, por sua vez, foi “liberado” das restrições regulamentadas ou institucionais (o poder dos sindicatos, por exemplo). Mas, de que modo seria reativada sua estancada economia? As políticas de substituição das importações (fomentando as indústrias nacionais, mediante subvenções ou medidas de proteção alfandegária), que haviam dominado as tentativas latino-americanas de desenvolvimento econômico, tinham caído no descrédito, especialmente no Chile, onde nunca haviam funcionado notadamente bem. Com o mundo inteiro em recessão econômica, requeria-se um novo enfoque”. (1)
A política econômica imposta no Chile, durante a ditadura, requereu o apoio e o assessoramento dos economistas da Universidade de Chicago, na qual trabalhava Milton Friedman. Os economistas que antes eram pouco admirados pelas elites, agora eram caracterizados como deuses e foram postos nos governos da América Latina. O caso chileno é um exemplo, por isso quando Pinochet toma o poder mediante um golpe de estado, imediatamente coloca no governo os economistas neoliberais chilenos para impulsionar a economia. Estes economistas foram formados muito antes da implementação deste “modelo”, ou seja, foram educados a partir dos anos 1950 e 1960, e se tornam os ideólogos da economia política da ditadura. São economistas como estes os que imperaram ou imperam na chamada globalização. A globalização neoliberal estadunidense é marcada primeiramente em termos político-econômicos, durante os anos 1970 e 1980, pouco depois em termos culturais, que tanto glorificaram alguns de seus ideólogos, como o caso do antropólogo Néstor García Canclini ou o caso da antropóloga Gloria Delgado Cantú. Para ela “a globalização trouxe consigo uma série de benefícios, tanto para as nações como para os habitantes do planeta, de maneira individual. A existência de uma economia e um mercado, em nível global, entre outras coisas, permitiu as seguintes vantagens: um melhor aproveitamento dos recursos de cada país; uma melhor capacidade para enfrentar as flutuações das economias nacionais; um maior desenvolvimento da ciência e da tecnologia; o acesso universal de grupos e indivíduos às manifestações culturais e científicas” (2). Esta postura é sumamente questionável, como logo veremos. Mais adiante, veremos também como até o sociólogo Octavio Ianni está imerso nesta glorificação, que supostamente é ou foi de esquerda.
A globalização em seu posicionamento no mundo e na América Latina
Para que a era da globalização neoliberal estadunidense, praticamente iniciada no Chile, fosse imposta a sangue e fogo no mundo, tinha que se deparar com a crise do modelo anterior ao mostrar seus limites e que freava o processo de acumulação desde os anos 1960. Daí que, de acordo com Marini, “a crise capitalista que, como resultado da queda das taxas de lucro que se começa a verificar em meados dos sessenta, explodiu com violência após a primeira alta dos preços do petróleo e foi responsável, nos países industrializados, por três recessões (1974-1975, 1980-1982 e 1990-1994), não constitui uma exceção” (3). As receitas recém-aplicadas no Chile não deixaram de manifestar sua contradição, que, como disse Marini, apresenta-se em uma nova recessão em 1980-82, que não só afetou o Chile, mas também grande parte do subcontinente latino-americano, por exemplo, o caso mexicano que tornou presente o esgotamento das condições materiais do pacto social que havia sido construído em décadas passadas, ou seja, a partir do cardenismo. Fez-se presente quando, entre outros motivos, “a inflexão se converteu em derrubada, a partir de 1983, acompanhada por uma queda nos índices de emprego. A crise colocou em evidência todos os desequilíbrios internos e externos da economia, durante o período da substituição de importações e do chamado “desenvolvimento estabilizador”, a partir dos anos 1950” (4). Cabe considerar também que cada país latino-americano teve os seus efeitos particulares da crise. No entanto, o sintoma que poderia caracterizar como generalizado foi, por exemplo, a crise de recursos econômicos para o pagamento da dívida, o que faria com que se tornasse impagável. Uma grande parte dos governos se deparou com o fato de não haver recursos para o pagamento, e quase obrigatoriamente recorreram a um novo empréstimo para enfrentar a crise. No entanto, as instituições imperialistas, sobretudo o BM e o FMI, que se veriam duplamente beneficiados por esta crise, impuseram como condição aos governos latino-americanos liberar suas economias. Tais governos atenderam esta ordem para obter recursos, em um processo que se chamou de reformas estruturais, aplicadas em grande parte do subcontinente.
Dessa maneira, os governos iniciaram uma mudança no papel do Estado, realizada com o desmantelamento das empresas públicas, dos programas sociais, etc., ou seja, com uma mudança do Estado que, seguindo a proposta de Harvey, tornou-se um Estado neoliberal. Cabe dizer que as políticas para a transformação das economias e, portanto, do Estado, teve seu segundo passo, após o Chile, nos países mais avançados: Grã-Bretanha, em 1979, com Margaret Thatcher, Estados Unidos, em 1980, com Ronald Reagan, mas antes, em 1978, Deng Xiaoping havia feito isso na China. Nesse sentido, a política estadunidense vai impondo uma onda de governos neoliberais latino-americanos de maneira sucessiva ou em diferentes momentos. Cabe dizer que alguns foram exatamente domesticados em universidades estadunidenses. James Petras e Morris Morley propõem três ondas de governos neoliberais, que começaram a partir dos anos 1980 até 1990, anos em que se glorifica a chamada globalização. Estes são, por exemplo, Fernando Belaúnde-Alan García, no Peru, Raúl Alfonsín, na Argentina, Miguel de la Madrid, no México, Julio Sanguinetti, no Uruguai, e José Sarney, no Brasil (5), na primeira onda. Estes se caracterizaram porque assumiram o poder em meio a um discurso populista e apoio popular, mas imediatamente abandonaram e aplicaram, pela primeira vez, a receita neoliberal ou as reformas de livre mercado, no caso mexicano, e em outros a aprofundaram. A segunda onda foram Carlos Andrés Pérez, na Venezuela, Carlos Menen, na Argentina, Fernando Collor, no Brasil, Alberto Fujimori, no Peru, Jaime Paz Zamora, na Bolívia, Luis Lacalle, no Uruguai, Carlos Salinas, no México (6). Os novos presidentes assumiram o governo abaixo de uma quantidade de irregularidades nas eleições, como no caso do México, que com uma fraude eleitoral se posicionou, mas no fundo teve a ver com os efeitos de descontentamento popular gerado pelos anteriores governos ao aplicar, pela primeira vez, as receitas (ou a bíblia) neoliberais. Na terceira onda, que vai dos anos 1993 a 1995, estiveram Alberto Fujimori, no Peru, e Carlos Menen, que foram reeleitos, assim como Rafael Caldera, na Venezuela, Ernesto Cedillo, no México, Gonzalo Sánchez de Lozada, na Bolívia, e Fernando Henrique Cardoso, no Brasil (7). Em meio às políticas econômicas neoliberais que, como vimos, foram iniciadas nos anos 1980, mas que tiveram seu auge nos anos 1990, falava-se de um fim da história, um fim das utopias e até mesmo do trabalho, discursos que eram próprios da chamada globalização. Devemos dizer que com a queda do bloco socialista, ou seja, com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e da URSS, em 1991, os ideólogos se apressaram em declarar o fim da história, como foi feito por um funcionário de Estado estadunidense, Francis Fukuyama, mostrando superficialmente seu triunfalismo. Com isso, abria-se margem para interpretar que o mundo apenas consistia em desfrutar a vida baseada no consumo, e que esse consumo atingia a todos por igual. No fundo, com a queda do bloco socialista, deixava para os Estados Unidos o caminho para dominar política, econômica e culturalmente o mundo. Pode-se dizer que era um plano estratégico estadunidense e, nesse sentido, foi se impondo até dominar uma parte do mundo que antes era influência do bloco socialista. A esse novo domínio se denominou globalização, mas não era apenas uma globalização, como muitos de seus ideólogos a chamavam e nunca lhe deram um qualificativo, era antes de qualquer coisa a globalização capitalista estadunidense, que se colocava progressivamente, a sangue e fogo, em cada parte do mundo.
Os ideólogos exaltaram a globalização, criaram uma bíblia que seria preciso consultar a cada segundo para oferecer oração à deusa (globalização), desde o econômico e político até o cultural. O discurso de Octavio Ianni não deixa de ser parte deste credo, sem que seja muito exagerado, parece-me importante citar suas próprias palavras: “A globalização está presente na realidade e no pensamento, desafiando a muitos em todo o mundo” (8). Cabe dizer que este trabalho chamado Teorias da globalização foi publicado em 1996, ano em que a pretendida globalização neoliberal se impunha e era moda no mundo, particularmente na América Latina. Em seguida, disse: “Já são muitas as teorias empenhadas em esclarecer as condições e os significados da globalização. Algumas com certa timidez, enquanto outras com bastante audácia. Algumas vezes se desconhecem mutuamente e em outras se comunicam. No entanto, todas abrem perspectivas para o esclarecimento das configurações e dos movimentos da sociedade global” (9). Seu discurso, no presente texto, ainda que existam outros em que se aborda o tema, está cheio de exaltação. Parece-me que a eleva a verdade universal, confere um caráter absoluto e um traço ontológico a algo que não é mais do que um momento determinado da história da humanidade, mas em particular do capitalismo mundial dominado pelos Estados Unidos. Por outro lado, nunca fala da origem do conceito de globalização, o que é importante dizer, pois este discurso não sai do nada. O conceito provém justamente dos ideólogos da administração empresarial, sobretudo daqueles que estavam inovando, tanto em seu pessoal, como em seu sistema produtivo em geral. Por exemplo, nos anos 1970 e 1980, Peter F. Drucker em seu trabalho referente à inovação e os empresários inovadores, falava precisamente de suas intenções em realizar uma expansão que deveria se expressar em uma globalização do sistema produtivo empresarial, que praticamente servia para o boom do que chamam de empresa multinacional ou transnacional. Devemos dizer que a chamada globalização é o domínio da empresa transnacional no mundo. O termo também foi utilizado por Theodore Levitt, nos anos 1980, ao fazer referência às mudanças da economia internacional, ou seja, às mudanças no âmbito econômico empresarial, que começou a partir dos anos 1960. Cabe dizer que a empresa transnacional vem se desenvolvendo antes da Segunda Guerra, inclusive desde inícios do século XX, e não desde os anos 1960 como afirma Levitt. Então, a oração se transfere do discurso empresarial para o discurso acadêmico e/ou político, inclusive os que são supostamente de esquerda (marxistas e não marxistas) abraçaram com fervor o discurso da globalização. Ou seja, grandes quantidades de pessoas se alinharam ao discurso dominante para não ficar para trás.
Em Octavio Ianni há mais, disse que “neste clima, a reflexão e a imaginação não apenas caminham juntas, mas também se multiplicam metáforas, imagens, figuras, parábolas e alegorias destinadas a dar conta do que está acontecendo, das realidades não codificadas, das surpresas inimagináveis. As metáforas parecem florescer quando os modos de ser, de atuar, de pensar e fabular, mais ou menos sedimentados, sentem-se mexidos” (10). Devo dizer que as metáforas ao invés de esclarecer os problemas ou pelo menos tornar mais ou menos entendível a nossa realidade, no fundo o que faz é obscurecê-la. Muitas vezes, funciona para confundir, manipular e legitimar um projeto político, econômico ou de outra índole. É um meio para confundir metáforas e realidades, é uma forma de dissimular a realidade social que questiona seus efeitos ou a legitimação de dominação das elites (11). Por exemplo, posso dizer o caso da metáfora da mão invisível, criada por Smith, que serviu ou serve para legitimar uma ordem econômica dominante, ocultando suas intenções. Então, a pretensão de Ianni não convence ninguém além das pessoas que se sentem assombradas por uma suposta realidade que assumimos: a vida plena. A globalização não é mais do que uma ideologia, sumamente conservadora, é “um discurso, eufórico e determinista, que se baseia em preposições simples, assumidas como verdades auto-evidentes. O questionamento das mesmas é considerado a melhor prova de ignorância e estupidez, inclusive de quem arrisca suas dúvidas” (12).
A globalização neoliberal estadunidense assume sua dominação plena nos anos 1990, por assim dizer. Por isso, o mundo todo que a abraçava se sentia seguro e a glorificava, mas essa pretensa globalização teve, quase desde o primeiro momento, seu questionamento que partia justamente da realidade. Ou seja, nunca levou em consideração a realidade para formulá-la e, por isso, encontrou seu freio. Os exemplos sobram, e o ponto de partida deste questionamento na realidade social aconteceu nas mobilizações e lutas, como com o levante das armas do EZLN, em janeiro de 1994, em Chiapas, México. O advento de novos governos que posteriormente mudariam o curso, como a ascensão ao governo da Venezuela do militar Hugo Chávez Frías, não sem deixar de lado as lutas internas do país que levaram ao triunfo de Hugo Chávez. A crise da Argentina, em 2001, que antes seguia ao pé da letra as ordens do FMI e do BM, vendo-se imersa em uma crise econômica que freou o curso das políticas neoliberais. A isso, soma-se a crise na Bolívia com a privatização da água, entre outros problemas, que fez ascender uma nova organização política, que se conforma no MAS.
Com efeito, os anos 1990 apresentaram mudanças no processo do capitalismo, mas não é tanto como se quer apresentar. Concordo com John Saxe-Fernández, que distingue duas perspectivas no fenômeno da globalização, oferecendo-nos mais elementos de análise para compreender tal fenômeno. A primeira afirma que a globalização é uma categoria histórica. Trata-se “um conceito cuja referência histórica e empírica está centrada no longo processo multissecular da internacionalização econômica observada no período pós-renascentista e que adquiriu grande força após a segunda metade do século XIX, como resultado da segunda revolução industrial e da multiplicação de grandes unidades empresariais de base nacional que, com os antecedentes das companhias mercantis dos séculos anteriores, começaram a operar internacionalmente” (13). Esta postura me parece muito mais interessante, porque nos ajuda a compreender melhor a nova expressão do processo de acumulação, que muitos outros estudiosos localizam a partir do chamado “descobrimento” da América pelos europeus. A segunda se trata de uma concepção da sociologia do conhecimento. “A partir deste ângulo, enfoca-se a atenção crítica sobre o ‘discurso globalista’ que se instalou como uma oferta da moda, eufórica e determinista, acrítica e superficialmente aceita pelos grandes públicos empresariais, políticos e acadêmicos” (14). É nesta última postura que se insere o discurso de Octavio Ianni e de muitos outros ideólogos.
Em nossos dias, a almejada globalização (neoliberal estadunidense) vive seu momento de crise profunda. Isso não quer dizer que não tenha poder de decisão no mundo, de fato, continua sendo hegemônica, para usar um termo gramsciano, mas desde a crise que se desatou em 2007-2008 já não é possível, nem viável, o “modelo”. Seus ideólogos que ganharam muito dinheiro para favorecer o projeto de globalização em anos anteriores, hoje se mantêm calados. A crise os colocou em evidência, quase a partir do momento de sua aplicação no mundo e em nosso subcontinente. A crise se apresenta desde o político e econômico até o cultural. A grave crise vivida pelo México, com um Estado assassino e/ou terrorista que mata seus habitantes (como no caso dos estudantes normalistas do estado de Guerrero) para continuar mantendo o projeto da globalização neoliberal estadunidense, é uma clara mostra.
Conclusões
A globalização é uma ideologia que legitimou uma ordem social. Foi um termo muito em moda nos anos 1990, que sustentou o domínio econômico do chamado neoliberalismo em grande parte do mundo. O neoliberalismo teve seu primeiro experimento no Chile, com a imposição a sangue e fogo da ditadura, que depois foi aplicado em outros países. Realiza-se nos tempos da crise do capitalismo mundial, que iniciou nos anos 1960, e a experiência no Chile era exatamente uma busca para sair desta crise. O experimento de um novo modelo econômico e político obrigou as elites a mudar o funcionamento do Estado, modificando seu funcionamento através do que se chamou de reformas estruturais. Cada país latino-americano contou com os seus efeitos particulares da crise, no entanto, o sintoma que poderia ser caracterizado como um comportamento generalizado foi a crise do pagamento da dívida, que faria com que se tornasse impagável. Uma grande parte dos governos se deparou com a situação de não contar com recursos e quase obrigatoriamente recorreram a um novo empréstimo para resolver o problema, mas as instituições imperialistas impuseram como condição que os governos latino-americanos liberassem suas economias. Os governos iniciaram uma mudança no papel do Estado, a partir do desmantelamento das empresas públicas, dos programas sociais, etc. No contexto de “novos” governos em favor do imperialismo estadunidense, distinguem-se três ondas que vão dos anos 1980 até os anos 1990, anos em que se glorifica a chamada globalização. Em meio às políticas econômicas neoliberais, falava-se de um fim da história, um fim das utopias e inclusive do trabalho, discursos que eram próprios da chamada globalização. A queda do Muro de Berlim, em 1989, e da URSS, em 1991, favoreceu o discurso no qual os ideólogos haviam se apressado em declarar o fim da história, como foi feito por um funcionário de Estado estadunidense, Francis Fukuyama. Com isso, abria-se margem para interpretar que o mundo só consistia em desfrutar a vida baseada no consumo, que tocava a todos por igual. No fundo, deixava-se o caminho para os Estados Unidos dominar política, econômica e culturalmente o mundo. Porém, esse domínio encontrou seu freio, mostrando seu limite e sua crise quase desde o início. Posteriormente, sua dificuldade se tornaria maior. Isso se deu por meio da mobilização dos principais setores sociais atingidos pelas políticas da almejada globalização e pelas próprias contradições do capitalismo supostamente globalizador. O caso mexicano, nos dias que transcorrem, é o caso mais nítido.
Bibliografia utilizada
Delgado de Cantú, Gloria M., Antropología, ciencia que estudia al ser humano, edere, México, 2007.
Ianni, Octavio, Teorías de la globalización, Siglo XXI, CEIICH-UNAM, México, 1996.
Marini, Ruy Mauro, América Latina. Dependencia y globalización, CLACSO, Colômbia, 2008.
Saxe-Fernández, John, (coord.) Globalización: Critica a un paradigma, UNAM, IIE, Plaza y Janés, México, 2003.
Valenzuela Feijóo, José, El capitalismo mexicano en los ochenta, ERA, México, 1986.
Notas
(1) David Harvey, Breve historia del neoliberalismo, p. 14, on-line.
(2) Gloria M. Delgado de Cantú, Antropología, ciencia que estudia al ser humano, edere, México, 2007, p. 346.
(3) Ruy Mauro Marini, América Latina. Dependencia y globalización, CLACSO, Colômbia, 2008, p.253.
(4) José Valenzuela Feijóo, El capitalismo mexicano en los ochenta, ERA, México, 1986, p. 13.
(5) James Petras y Morris Morley, “Los ciclos políticos neoliberales: América Latina se ajusta a la pobreza y a la riqueza en la era de los mercados libres”, em John Saxe-Fernández (coord.) Globalización: Critica a un paradigma, UNAM, IIE, Plaza y Janés, México, 2003, p. 216.
(6) Ibid., p. 220.
(7) Ibid., p. 227.
(8) Octavio Ianni, Teorias de la globalizacion, Siglo XXI, CEIICH-UNAM, México, 1996, p. 1.
(9) Ibid.
(10) Ibid., p. 4.
(11) Carlos M. Vilas, “Seis ideas falsas sobre la globalización”, em John Saxe-Fernandez (coord.) Globalización: critica a un paradigma. UNAM. IIE. DGAPA. Plaza y Janés, México, 1999, p.72.
(12) Ibid., p. 70.
(13) Jonh Saxe-Fernandez, “Globalización e Imperialismo”, em John Saxe-Fernandez (coord.) Globalización: critica a un paradigma. UNAM. IIE. DGAPA. Plaza y Janés, México, 1999, p. 9.
(14) Ibid., p. 10.
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