03 Novembro 2014
Uma das vozes mais críticas dentro do PT, o ex-governador Olívio Dutra afirma que o partido precisa refletir sobre seu papel. Segundo ele, a legenda não pode se contentar com cargos ou com conquistas já obtidas, pois há necessidade de avanços ainda maiores.
A entrevista é publicada pelo jornal Zero Hora, 01-11-2014.
Eis a entrevista.
A cúpula do PT tem defendido Lula em 2018. O senhor acredita nessa possibilidade?
Acho que esse é um movimento equivocado. O partido é um sujeito coletivo e não pode depender de uma única pessoa, por mais importante que ela seja.
Esse movimento pode prejudicar a renovação do PT?
Acho que sim, mas essa postura é de poucos, não tem possibilidade de progredir de baixo para cima dentro do PT. Lula nunca colocou nada disso.
Ele não aceitaria?
Nunca conversamos objetivamente sobre isso. Pelo que sei, ele não estimula isso. Mas a cúpula partidária e alguns setores, particularmente em São Paulo, insistem. É uma ideia equivocada, que não contribui para o partido fazer a sua medicação, porque tem que fazer uma reflexão sobre si mesmo, sobre o seu papel e suas resistências.
Mas o partido tem outros líderes de peso? Ou esse nome teria que ser construído?
Eu não tenho essa visão de que o partido tem que ter um nome e girar em torno dele. Acho que o partido tem que dialogar muito com a sua base e com os movimentos sociais. Tem de constituir um campo popular democrático para resgatar uma dívida que a esquerda tem com o povo brasileiro. E quem é a esquerda no Brasil? O PT é um partido de esquerda, mas tem vários outros.
Qual deve ser o papel de Lula no segundo mandato de Dilma?
O papel de uma figura forte, um militante importante, mas não mais que isso. Dilma é a presidente, e o governo tem as suas dinâmicas. O partido tem que instigar seus militantes e discutir com a sociedade formas de ampliar o controle sobre governos, para que a máquina pública não seja propriedade de um governante, dos seus amigos, partidários e familiares. Não pode se contentar em ter cargos aqui e ali ou com as conquistas que já asseguramos e que são parte de um processo que tem muito ainda a avançar. Um partido como o PT jamais poderia ser um partido acomodado no poder.
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“O partido não pode depender de uma pessoa”, afirma Olívio Dutra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU