Por: Jonas | 21 Outubro 2014
Para o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, o documento final do sínodo, de caráter consultivo, “mantém as portas abertas”. Foi o que disse ontem, em uma entrevista ao La Nación, na qual também afirmou “que é bom admitir que há diferentes pontos de vista”. Líder emergente da Igreja na Ásia e com muito carisma, Tagle foi presidente delegado do sínodo dos bispos. Tem 57 anos e no último conclave foi considerado papável, mas a idade jogou contra.
A entrevista é de Elisabetta Piqué, publicada pelo jornal La Nación, 20-10-2014. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O que pensa da Relatio synodi, o documento final?
Acredito que é um relatório honesto e humilde das visões expressadas após o primeiro rascunho. Acredito que não é um documento prescritivo, mas, sim, deliberadamente evitou esse tom porque temos um ano inteiro pela frente para continuar um processo de consulta e estudo e, de fato, seus redatores admitiram que em vários pontos há divergências de opinião. Quem esperaria uma unanimidade de 100%? É bom admitir que há diferentes pontos de vista.
Ainda que houve uma mudança na abertura, que se expressou no rascunho, para com os divorciados em segunda união e os homossexuais, para o senhor o documento final mantém as portas abertas?
É claro. E mantém as portas abertas aos especialistas em direito canônico, teólogos, pastores e leigos. E esperamos que neste ano que temos pela frente haja mais discussão e que os leigos sejam ouvidos.
Quer dizer que o que se espera é que os bispos envolvam no debate as dioceses, os sacerdotes e os leigos?
Sim, como já ocorreu com o questionário que se fez para redigir o Instrumentum laboris, o documento preparatório ao sínodo.
Alguns dizem que havia visões mais conservadoras entre os padres sinodais da América do Norte, África e do leste da Europa, e mais abertas entre os da América Latina e Ásia. É assim?
É difícil generalizar, acredito que na verdade depende de qual tema estava em discussão. Por exemplo, uma pessoa pode parecer bastante rígida sobre um tema, mas sobre outro não. E também sobre as referências continentais, depende muito mais de quem está falando e de sua experiência pastoral.
Disseram que houve discussões muito vivas a respeito dos divorciados em segunda união. O debate foi mais intenso do que esperava?
Não, não é verdade. Na realidade, outros temas também foram muito apaixonados nas assembleias, mas não tiveram a cobertura que mereceriam.
Ao que se refere?
Por exemplo, a situação dos refugiados, e como o tecido da família é destruído; as guerras, as feridas da guerra... Conversava com um bispo do Oriente Médio que me dizia sobre as crianças da guerra, que depois se tornam pais. Que tipo de paternidade e maternidade exercerão? Carregam o peso de terríveis feridas em suas próprias famílias e precisamos ver qual o tipo de cuidado pastoral podemos lhes oferecer, para cuidar delas, porque estas crianças logo serão adultos... Também sobre a ajuda internacional a países pobres, entregue a partir de certas condições, algo que chama a atenção internacional.
O senhor esteve em outros sínodos. Qual é a imagem mais forte que leva deste, que terminou agora?
Que o Papa quis um debate verdadeiro. Pediu-nos que falássemos sem medo, livremente, sem pensar “isto não posso dizer”. Confiamos no Espírito Santo e não pretendíamos que isto fosse a última palavra, mas, sim, que é parte de um processo em curso na Igreja. E isto é muito alentador.
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“É bom admitir que há vários pontos de vista”, afirma cardeal Luis Tagle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU