Por: André | 24 Setembro 2014
O governo de Obama contratou este ano, por 145 milhões de dólares, uma filial da Elbit Systems – a empresa israelense que ergueu o muro na Cisjordânia – para reforçar a vigilância.
Fonte: http://bit.ly/Zd1vzg |
A reportagem é de Gustavo Veiga e publicada no jornal argentino Página/12, 22-09-2014. A tradução é de André Langer.
O muro de Berlim caiu há 25 anos. A Guerra Fria acabou com ele, mas a muralha anti-imigrantes nos Estados Unidos cresce cada vez mais e a fronteira com o México volta à baila. A ideia de ampliar e sofisticar o sistema de controle nos 3.200 quilômetros que separam os dois países é um tema que se repete. A uma proposta recente do deputado republicano Mark Sanford para fechar toda a fronteira, o secretário do Departamento de Segurança Nacional (DHS) dos Estados Unidos, Jeh Johnson, respondeu na semana passada: “Se construo um muro de 15 pés de altura, alguém vai construir uma escada de 16 pés”. Seja como for, sua área contratou este ano por 145 milhões de dólares uma filial da Elbit Systems – a empresa israelense que ergueu o muro na Cisjordânia e isolou a população palestina – para que reforce e vigie o perímetro que tanto preocupa o governo de Barack Obama.
A aquisição de tecnologia de um dos maiores fabricantes internacionais de produtos eletrônicos de defesa se anunciava. O antecedente da Elbit na Cisjordânia, cuja matriz está em Haifa e emprega 11.000 pessoas no mundo, pesou para monitorar a extensa fronteira. A informação do contrato foi publicada em março pelo jornal sobre temas de segurança dos Estados Unidos, o Homeland Security News Fire, e replicada em muito poucos meios de comunicação da América Latina. O sistema que a companhia irá empregar chama-se Projeto Torre Fixa Integrada (IFT, por suas iniciais em inglês), e está equipado com câmaras de alta sensibilidade e radares.
Segundo publicou a agência de notícias Bloomberg naquele momento, o contrato inicial da Elbit poderá ser ampliado para “um bilhão de dólares caso a reforma da legislação sobre a imigração dos Estados Unidos for aprovada pelo Congresso e ajuda a financiar a expansão do projeto no sudoeste do país”. A primeira contratação ficou nas mãos da empresa Boeing, lá por 2006. Mas o sistema de vigilância eletrônico tornou-se muito oneroso. Para cobrir apenas 85 dos 3.200 quilômetros de fronteira comum com o México, os contribuintes dos Estados Unidos pagaram um trilhão de dólares.
Agora, o funcionário Johnson declarou contra aquele desembolso e a própria ampliação do muro, que, como todos os que se mantêm até hoje, mancham a consciência dos povos: “Minha recordação é que o uso mais eficiente e efetivo de nossos recursos é uma estratégia baseada em riscos. Não creio que a construção de um muro em toda a fronteira sudoeste seja um uso apropriado de recursos dos contribuintes”.
A Elbit, apesar destas declarações do secretário do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, avança com seu sistema de vigilância na fronteira chamado IFT. Mas, assim mesmo, continua com suas recomendações àquele organismo para que diversifique seus controles anti-imigrantes.
Ofereceu uma combinação de sensores de radar, sensores eletro-ópticos, sensores de terra sem supervisão, veículos de terra com ou sem tripulação e o que seria a vedete de um futuro contrato ampliado, os drones. Esses mesmos aparelhos que, usados com objetivos bélicos, causaram estragos na Faixa de Gaza durante os últimos bombardeios de Israel. Na Austrália, em 15 de agosto passado, um grupo de manifestantes pró-palestinos subiu ao telhado de uma filial da Elbit Systems em Melbourne, com uma enorme faixa que denunciava: “Os drones da Elbit matam crianças em Gaza”. Seis deles acabaram presos.
O poder expansivo da empresa não se deteve, apesar de que entidades financeiras como o Deutsche Bank, o Fundo Norueguês de Pensões e o Folksam (o maior administrador de ativos na Suécia) decidiram excluí-la de seus investimentos ou as venderam, pelo trabalho que realizou no muro da Cisjordânia, declarado ilegal em julho de 2004 por decisão da Corte Internacional de Justiça de Haya. Israel nunca acatou a sentença não vinculante.
Ao Departamento dirigido por Johnson pouco podiam importar esses antecedentes da companhia criada em 1996, que tem várias subsidiárias e provê elementos de defesa eletrônica, como também constrói sofisticadas cercas de segurança anti-imigrantes. Só nos Estados Unidos, por meio da sua vinculada Elbit Systems of America, tem fábricas em Forth Worth, Texas; Talladega, Alabama; Merrimack, New Hampshire; Tallahassee, Flórida; McLean, Virgínia e San José, Califórnia. A tecnologia israelense de ponta a serviço de seu principal sócio político e comercial no mundo.
Johnson, além dos graves problemas que deve resolver na fronteira sul dos Estados Unidos, também está empenhado em filmar o pessoal de Aduanas e Proteção de Fronteiras com câmaras portáteis que servirão para detectar possíveis crimes de seus agentes. Numerosas denúncias de abusos motivaram que também devessem que ser vigiados, embora por enquanto, não com o zelo que se faz nas fronteiras.
O sindicato que representa a maioria dos 21.000 agentes que patrulham os limites dos Estados Unidos queixou-se pelo alto custo das câmaras e o efeito que poderiam causar no desempenho de seus sindicalizados se suas vidas correrem perigo. No entanto, entre 2010 e fevereiro de 2013, mataram 21 imigrantes. O experimento começará em outubro em um Estado: Novo México. Nos últimos 20 anos calcula-se que 9.000 pessoas morreram em uma das fronteiras mais controladas do mundo. Os mexicanos eram maioria.
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Os Estados Unidos contratam empresa israelense para reforçar defesa anti-imigrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU