22 Julho 2014
Tarde de verão, Roma está sonolenta, os jornais noticiam as notícias dramáticas de guerra no Oriente Médio, de terrorismo, de dor e de política cada vez mais cansada. Até os vaticanistas buscam tranquilidade à espera da etapa apostólica do Papa Francisco na Ásia. Mas o papa não os deixa dormir tranquilos.
A reportagem é de Angela Ambrogetti, publicada no sítio Korazym.org, 19-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim, em um domingo de manhã, aparece em um jornal romano mais um episódio de uma telenovela que parecia ter acabado. Eugenio Scalfari, com mais de 90 anos, relata o seu encontro com o papa. E o faz à sua maneira.
Tanto que, da Sala de Imprensa da Santa Sé, logo chegam desmentidas e retificações. E não é a primeira vez. As questões são delicadas, difíceis. É a segunda vez que isso acontece.
A comitiva do papa fala de "conversa privada", mas Scalfari publica tudo e se orgulha de não tomar notas, de não ter o gravador, de não ter dado o texto para ser relido. Em suma, são palavras e recordações todas suas, mas que ele cita entre aspas.
À espera do temporal que se anuncia com nuvens pretas atrás da cúpula de São Pedro, eu falo com Gian Franco Svidercoschi. O Vaticano o conhece desde os tempos do Concílio. Foi amigo e biógrafo de São João Paulo II e continua escrevendo livros em que se interroga sobre aonde a Igreja está indo.
"O que o senhor acha?", pergunto-lhe na frente de um café.
"Estou preocupado, muito preocupado. E não apenas com a ética jornalística que acaba debaixo das solas dos sapatos, mas com as consequências que essa repetição de afirmações inexatas atribuídas ao papa poderia ter no mundo católico."
Eis a entrevista.
Em suma, o senhor pensa que se poderia criar uma confusão sobre os próprios princípios da fé?
É um risco real. Ter que sempre desmentir e corrigir faz com que a notícia errada chegue logo e a todos os lugares, enquanto ninguém nota a retificação, que escapa do leitor normal.
Então, se o senhor tivesse que fazer perguntas a Eugenio Scalfari, que é considerado como um "guru" do jornalismo, o que o senhor lhe perguntaria?
Ah, em primeiro lugar, lhe perguntaria se ao menos por consciência profissional ele não acha que deve responder ao duro esclarecimento do diretor da Sala de Imprensa vaticana. E, depois, também, como ele justifica o fato de que, pela segunda vez, ele se permitiu reportar as palavras do papa (mas podia ser de qualquer outra pessoa entrevistada) não seguindo aquilo que o papa efetivamente disse, mas segundo uma interpretação própria sua. E, dentre outras coisas, sem nem ao menos fazer com que essa sua interpretação pessoal fosse relida pelo interessado direto.
Talvez, Scalfari acredite que é normal relatar as frases de cor.
Ah, não, porque muitos o acusam de ter traído a cordialidade e a boa vontade demonstrada pelo Papa Francisco, decidindo autonomamente transformar uma conversa que, obviamente, devia permanecer confidencial, em uma entrevista pública, sem, mais uma vez, pedir o prévio consentimento da outra parte.
Neste ponto, também poderíamos fazer algumas perguntas para o Santo Padre, o senhor não acha?
Com grande respeito, eu gostaria de perguntar ao papa: "Santidade, por que o senhor continua recebendo Eugenio Scalfari?" Sim, concordo, é um jornalista muito conhecido, muito renomado e também muito interessante como ateu declarado, embora aberto à dimensão humana do evento-Jesus. Mas ele também pessoa não demonstrou ser, repetidamente, uma pessoa não confiável?
Mas a tarefa de um pastor é buscar a ovelha perdida...
Sim, contanto que a intenção seja clara. Eu também lhe perguntaria: "Santo Padre, o senhor se dá conta das graves consequências que tais fatos podem ter? As suas declarações, manipuladas por Scalfari, assim como as intenções e as palavras que o jornalista lhe atribuiu falsamente, tiveram imediatamente uma grande repercussão na mídia em nível mundial. Pois bem, o senhor não acha que o esclarecimento bastante severo do padre Lombardi, chegando em um segundo tempo, não corre o risco de corrigir as falsas notícias que já estão em circulação?".
Em suma, há também um problema de mediaticidade...
Obviamente. E por isso, se eu pudesse, eu perguntaria ao papa: "O senhor não acha que os crentes, especialmente aqueles mais distantes dos centros midiáticos, acabam considerando como verdadeiras, daquela conversa, afirmações que o senhor fez de outro modo ou mesmo nem as fez? Já não há bastante confusão no Povo de Deus, para deixar em circulação notícias contraditórias?".
Quem sabe, talvez o papa nos lê e nos responda! Mas eu diria que, talvez, a propósito de ética jornalística, alguma perguntinha também poderia ser feita aos colegas da Federação de Imprensa Italiana...
Ah, sim, eu diria que sim. É possível que ninguém tenha reagido a essa flagrante violação das primeiras regras da correção jornalística? Eu não gostaria que se incorresse no risco de um certo conformismo e no temor de tocar em um mito do jornalismo italiano. Talvez por conveniência com o scalfarismo. Talvez um esclarecimento também por parte dele seria uma coisa boa para as gerações mais jovens de colegas.
* * *
As perguntas se multiplicam e se entrelaçam com as respostas que tentamos nos dar um ao outro. Mas, enquanto isso, a ameaça das nuvens se tornou um fato. Chove. Permanecer na mesa no bar ficou pouco agradável.
Volto para o meu computador e escrevo estas linhas. Primeiro, no entanto, envio um e-mail para Gian Franco. Não sou uma discípula do scalfarismo.