Por: Cesar Sanson | 13 Junho 2014
Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas e mais de 70 foram detidas em várias capitais.
A reportagem é publicada pelo portal do jornal O Globo, 12-06-2014.
A Anistia Internacional voltou a criticar nesta quinta-feira a repressão policial em protestos no Brasil. Em nota, a organização de defesa dos direitos humanos solicitou às autoridades brasileiras para que investiguem sem demora se a Polícia de São Paulo usou força excessiva contra manifestantes que protestaram antes do jogo de abertura da Copa do Mundo entre Brasil e Croácia, no Itaquerão.
"As autoridades brasileiras prometem que a inauguração do Mundial será uma celebração, enquanto a polícia reprime brutalmente manifestantes pacíficos em São Paulo, ferindo pelo menos dois jornalistas", criticou a ONG em comunicado.
- Damos cartão amarelo para a Polícia Militar de São Paulo - explicou o diretor da organização no Brasil, Átila Roque. - As autoridades brasileiras têm de investigar, sem demora, porque se usou uma força excessiva contra manifestantes pacíficos deve levar os responsáveis à Justiça - acrescentou Roque.
Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas e mais de 70 foram detidas durante protestos em várias capitais. Apenas em Belém a manifestação transcorreu pacificamente. Nas demais capitais, houve quebra-quebra, confrontos com a polícia, vândalos mascarados e muita confusão. Entre os feridos há cinco jornalistas estrangeiros, sendo que quatro foram atingidos em São Paulo e um em Belo Horizonte.
São Paulo, cidade da abertura da Copa, registrou seis horas de protestos antes do jogo entre Brasil e Croácia. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas, entre elas cinco jornalistas, dois deles estrangeiros. No total, 43 pessoas foram detidas por agressão, desacato ou até posse de material explosivo. A Polícia Militar usou a força para evitar que a Radial Leste, principal ligação entre o centro da cidade e o Itaquerão, fosse bloqueada.
A Polícia Militar de São Paulo nega ter usado força desproporcional. No entanto, diferentemente de outros protestos contra a Copa que ocorreram este ano, a polícia se antecipou à ação dos manifestantes, tentando dispersá-los logo que se agrupavam. A concentração do chamado Grande Ato contra a Copa estava prevista para a estação Carrão do Metrô, também na Zona Leste, às 10h. Doze minutos depois, a PM já usava bombas de gás e cassetetes para tirar da rua os cerca de 200 jovens que começavam a chegar ao ponto de encontro. Em um desses confrontos as jornalistas da rede americana CNN ficaram feridas com estilhaços de bomba atiradas pela PM.
No estádio do Itaquerão, a presidente Dilma foi hostilizada por alguns torcedores que também criticaram a Fifa. Nem Dilma, nem o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fizeram o tradicional discurso na abertura da Copa do Mundo, para evitar vaias.
A adesão aos protestos no primeiro dia da Copa do Mundo no Brasil não foi como em junho do ano passado, durante a Copa das Confederações. No Rio de Janeiro, cerca de mil pessoas protestaram no Centro da cidade. O grupo saiu da Candelária no fim da manhã e chegou à Lapa por volta no início da tarde, quando o clima esquentou. Policiais lançaram spray pimenta e disparam balas de borradas contra os manifestantes. Seis pessoas foram detidas. Segundo a assessoria da Polícia Militar, três PMs ficaram feridos e foram encaminhados para o hospital da corporação.
Um pouco mais tarde, cerca de 400 pessoas fizeram protesto em Copacabana. Um policial militar do Batalhão de Choque foi atingido por uma garrafa de vidro no rosto ao tentar abordar um mascarado para fazer revista. O objeto foi atirado por um manifestante. Houve princípio de tumulto, e uma pessoa foi detida. Em outro ponto da praia, no Posto 6, houve nova confusão, também durante a abordagem a um jovem. No empurra-empurra, Edvalber Santos, de 24 anos, foi ferido por uma pedrada no supercílio esquerdo. Em outro tumulto, mais um manifestante e duas pessoas que estavam num bar e seriam turistas foram levados para a 13ªDP (Ipanema), totalizando cinco detidos.
Em Porto Alegre, cerca de mil pessoas realizaram um ato no centro da cidade. Entoando palavras de ordem contra a Fifa, os manifestantes percorreram as principais ruas do bairro. Um grupo com 30 mascarados quebrou uma loja da lanchonete McDonalds e várias agências bancárias, incluindo Banco do Brasil e Caixa. Também foram atacados contêineres de lixo, bancas de revista e placas de sinalização da Copa do Mundo. Um vidro do prédio da prefeitura foi quebrado. A Brigada Militar acompanhou os manifestantes sem intervir.
Em Belo Horizonte um grupo interditou o trânsito na Praça Sete, no Centro, queimou a bandeira do Brasil em cima do obelisco e, minutos antes da seleção entrar em campo, black blocs tombaram um carro da PM e houve confronto. O fotógrafo Sérgio Moraes, da Agência Reuters, foi atingido na cabeça e sofreu traumatismo craniano.
Em Brasília, o protesto contra a Copa levou cerca de cem manifestantes às proximidades do Taguaparque, local da Fan Fest da Fifa, na periferia de Brasília e duas pessoas foram detidas durante uma confusão com a PM.
Em Fortaleza, um grupo de 200 pessoas protestou contra as violações de direitos humanos e os gastos públicos da Copa. O ato começou pacífico, mas ao chegarem em frente a Arena Fan Fest, por volta das 18h, cerca de 60 manifestantes com os rostos cobertos atearam fogo em lixeiras e jogaram pedras e bombas caseiras em direção ao local. A polícia interveio, e duas pessoas foram presas.
Na capital federal, o protesto levou cerca de cem manifestantes às proximidades do Taguatinga, local onde foi realizada a Fan Fest. Antes dos jogos, a PM interrompeu o trânsito no Pistão Norte, a mais de 1,5 quilômetro da arena. Os manifestantes estavam em um dos lados da avenida quando foram impedidos de caminhar em direção à Fan Fest. Duas pessoas que tentaram furar o bloqueio da polícia foram detidas.
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Anistia Internacional critica violência policial em protesto em São Paulo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU