09 Junho 2014
É o ensaio que abre o novo caderno da revista La Civiltà Cattolica – que ainda é impressa com o imprimatur da Secretaria de Estado vaticana – a partir desse sábado em circulação, "Teologia serena, feita de joelhos", em que a teologia feita de joelhos é a do cardeal Walter Kasper, autor da conferênccia sobre a família no consistório de fevereiro passado.
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 06-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem assina o elogio é o padre Juan Carlos Scannone, SJ, aluno de Karl Rahner e, especialmente, professor de Jorge Mario Bergoglio. Máximo teólogo argentino vivo, Scannone é o patriarca da chamada "teologia do povo", bem diferente da teologia da libertação de Gutiérrez, Boff e Sobrino. A ênfase não é posta nos elementos marxistas, mas sim na piedade popular, nos pobres, na misericórdia. Todos elementos que voltam na pregação cotidiana de Francisco.
O artigo do padre Scannone não menciona nunca os temas no centro do debate sinodal de outubro próximo, nem se detém sobre as questões mais divisivas, como a concessão da comunhão aos divorciados em segunda união e todos os outros casos elencados por Kasper na sua longa palestra.
Porém, a referência ao debate duro e franco entre os bispos é claro no momento em que se compara quem faz "teologia com mente aberta" com aqueles que, ao invés, "se compraz om o seu pensamento completo e concluído" e, consequentemente, se fecha a toda possível atualização do ensino católico em termos de moral ao espírito do tempo.
São aqueles para os quais o "medo de uma novidade imprevista se reflete em um pensamento e em uma linguagem unívocos, isto é, não abertos à transcendência de Deus, do imprevisível e dos outros, talvez por medo de perder seguranças".
Scannone se inspira naquilo que o papa disse no dia 10 de abril passado, conversando com os professores e os estudantes da Universidade Gregoriana, do Pontifício Instituto Bíblico e do Oriental: naquela ocasião, Bergoglio voltou "a tocar o tema de uma filosofia e de uma teologia realizadas com mente aberta e de joelhos, referindo-se novamente à atitude existencial que deve acompanhá-las para que sejam fecundas".
Naquele momento, porém, o papa "acrescentou algo novo em relação à mente aberta, ou seja, que 'o teólogo que se compraz com o seu pensamento completo e concluído é um medíocre. O bom teólogo e filósofo tem um pensamento aberto, isto é, incompleto, sempre aberto ao maius de Deus e da verdade, sempre em desenvolvimento'".
O fechamento, ao contrário, "corresponde a um pensamento unívoco, não aberto nem à transcendência, nem à novidade histórica, nem à alteridade irredutível dos outros".
E "esse fechar-se – continua ainda o jesuíta Juan Carlos Scannone – muitas vezes é provocado pelo medo próprio dessas novidades e alteridades, e até mesmo pela própria liberdade e pela imprevisibilidade do Deus sempre maior".
Encastelar-se demais em "uma linguagem completamente ortodoxa" apresenta o risco de não corresponder "ao verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo". Eis porque "é preciso se aproximar da piedade popular com o olhar do Bom Pastor, que não busca julgar, mas sim amar".
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La Civiltà Cattolica também faz ''teologia de joelhos''. Um elogio a Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU