Por: Jonas | 06 Junho 2014
Um novo ataque do grupo islâmico Boko Haram matou pelo menos 200 pessoas e aterrorizou quatro vilarejos no norte da Nigéria, como informou a imprensa local nesta quinta-feira (05/06). Vestidos com uniforme militar, os terroristas atiraram contra moradores, queimaram diversas casas e destruíram igrejas em um dos mais mortais ataques já realizados por eles. Algumas fontes chegam a afirmar que número de mortos pode chegar a 500.
A reportagem é publicada por Opera Mundi, 05-06-2014.
Uma testemunha da ação realizada na segunda-feira (02/06) afirmou que habitantes do distrito de Gwoza pediram que o Exército enviasse soldados para proteger a região diante da possibilidade de um ataque, mas nenhuma providência foi tomada. “Temos informado os oficiais militares sobre isso. São conscientes, mas não se sabe o que estão fazendo a respeito”, disse Mohamed Gavva, membro do grupo de vigilantes.
"Quando chegaram os agressores, muitos residentes pensaram que eram militares de verdade. Não passou pela cabeça que fossem o Boko Haram. Nas aldeias há cerca de 200 cadáveres ainda para serem enterrados", disse Ngalamuda Ibrahim, morador de Gwoza à agência Efe.
"Disseram-nos: 'Somos soldados e estamos aqui para proteger vocês'. Então nos pediram que nos reuníssemos no centro da cidade e, quando estávamos reunidos, começaram a atirar gritando 'Allahu-Akbar, Allahu-Akbar' ('Alá é grande')", explicou um líder local que perdeu a quatro irmãos no massacre do qual conseguiu escapar.
Boko Haram mantém controle
Em 14 de abril, mais de 200 garotas foram sequestradas pelo grupo, o que gerou grande comoção internacional e a campanha #BringBackOurGirls.
A situação no país é agravada pela dificuldade na comunicação. Os caminhos são extremamente perigosos e as conexões telefônicas são deficientes ou não existem. No ataque de segunda-feira, os membros do grupo destruíram as torres de telefonia, o que impediu que o relato chegasse mais rapidamente à capital da província, Maiduguri, e dificulta a verificação da quantidade exata do número de vítimas.
“Os assassinatos são massivos”, mas “ninguém é capaz de ir ao local porque os insurgentes ainda estão lá. Eles têm o controle de toda a área”, disse o legislador Peter Biye, que representa a região de Gwoza no parlamento, à AFP. “Há corpos por toda parte e as pessoas fugiram”, acrescentou. Mulheres e crianças sobreviventes teriam fugido para o vizinho Camarões.
Biye acrescentou que o Exército bombardeou posições do Boko Haram na área. A polícia local e o governo não se pronunciaram até o momento sobre a ação.
O Exército nigeriano afirma que o envio de grande número de efetivos, assim como o estado de emergência já dura mais de um ano, obrigou os extremistas a fugir. A reação do governo nigeriano com relação aos ataques do grupo tem sido muito criticada no país.
Ineficácia governamental
O governo do presidente Goodluck Jonathan é acusado nacional e internacionalmente de ser “relutante” para agir, sobretudo com relação ao sequestro das garotas. O governo demorou mais de três semanas para se pronunciar, e somente o fez depois de marchas de protesto em toda a Nigéria e no mundo.
No final de maio, o chefe de defesa aérea da Nigéria, Alex Badeh, afirmou que o Exército sabe onde estão as mais de 230 meninas, mas não usará a força para libertá-las por temer que os militantes do Boko Haram possam matá-las. Nenhuma informação sobre o caso foi revelada desde então.
Com relação à desarticulação do grupo, o governo realiza há mais de um ano uma ofensiva no norte do país. Três estados estão sob estado de emergência, com toque de recolher e sinais de telefonia cortados. A ação, no entanto, não coagiu os ataques, que foram intensificados.
De acordo com o jornal The Guardian, somente em 2014, pelo menos 1.700 pessoas foram mortas em dezenas de ataques, contra as 2.100 vítimas contabilizadas entre 2009 e 2013. Os números no entanto, podem ser maiores. O presidente nigeriano afirmou recentemente que o Boko Haram já matou mais de 12 mil pessoas e deixou outras oito mil feridas nos últimos cinco anos.
“Educação ocidental é pecado”
O Boko Haram, que significa "a educação ocidental é pecado", é contra a democracia liberal vigente na Nigéria e luta para instaurar a lei islâmica Sharia no país, cuja população é de maioria muçulmana no norte e predominantemente cristão no sul.
Na última segunda-feira (02/06), a União Europeia acrescentou o grupo à sua lista de organizações terroristas sujeitas a sanções financeiras e a um embargo de armas. Com isso, o Boko Haram passa a ser alvo das mesmas sanções válidas contra a Al-Qaeda.
O grupo foi fundado em 2002 e intensificou suas ações terroristas em 2009, quando a polícia executou o então líder e fundador da seita, Mohammed Yousef.
A Nigéria é o país mais populoso da África, com 170 milhões de habitantes. Sua economia, baseada nas exportações de petróleo, superou a da África do Sul, tornando-se a maior do continente. Mas a corrupção generalizada e a pobreza contribuíram para o florescimento do Boko Haram.
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Boko Haram mata 200 pessoas na Nigéria, em um dos maiores ataques já realizados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU