07 Abril 2014
Mestre em Economia, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros, Fernando Ulrich é conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado Moeda na era digital. Autor do livro Bitcoin – a moeda na era digital.
A entrevista é de Ronaldo Bressane, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-04-2014.
Eis a entrevista.
O que acha de plataformas como a BTCJam, de empréstimo de bitcoin global?
É uma tendência que uma tecnologia como a do bitcoin se adequa perfeitamente. Curiosamente o CEO é brasileiro da Unicamp. É uma pena termos mentes e empreendedores brilhantes nacionais que precisam deixar o País para empreender.
Mas voltando ao empréstimo global por meio de bitcoins, é algo que deverá crescer. Empréstimo peer-to-peer, sem depender de intermediários que acabam por tornar as transações mais caras, é algo muito promissor e ganhará mercado. Crowdfunding é outra prática que se aplicaria muito bem a moedas digitais como o bitcoin.
Consegue vislumbrar o seu alcance em cinco anos?
Difícil fazer previsões acerca do preço de um bitcoin no mercado no futuro, mas acho que tende a aumentar, pois prevejo uma maior ampliação no seu uso ao redor do mundo e no Brasil. Há inúmeras vantagens comparativas que fazem com que o uso de bitcoin como moeda seja bastante superior às formas de moedas nacionais que estamos acostumados. É mais rápido, mais barato de transacionar e mais seguro. Mas ainda enfrenta uma volatilidade que deve subsistir à medida que mais indivíduos, empresas e comerciantes passem a adotar a moeda.
O bitcoin pode criar uma economia paralela? Qual seria sua influência sobre a economia ‘real’?
Acho que a própria definição de “economia paralela” um pouco ambígua e pode levar a diversas interpretações distintas. Na verdade o bitcoin deverá ser mais usado como uma moeda alternativa, como uma forma de pagamento alternativo. Nesse sentido, ele poderá ser usado na economia real com certeza. No exterior cada vez mais estabelecimentos o adotam como forma de pagamento. Empresas reais, idôneas e que entregam produtos reais a seus clientes. É importante ter em mente que o bitcoin como tecnologia e moeda é algo muito recente. Não acredito que ainda esteja pronto para uma adoção maciça mundo afora. Mas está trilhando esse caminho, há cada vez mais investidores sérios aportando capital nessa indústria nascente.
O bitcoin deveria ser regularizado ou taxado?
Quanto à regulação, tenho muito receito e sou bastante cético com relação aos benefícios que a regulação estatal pode trazer ao mercado. Acredito que em um ambiente de livre concorrência, com cada ator podendo colher os frutos do sucesso e arcando com os custos de suas decisões, é a melhor forma de trazer segurança perene a uma indústria. Um dos grandes problemas da regulação é que, ao buscar impedir o mau uso ou práticas ilegais, acaba por coibir o uso por completo ou remover os potenciais benefícios de uma nova tecnologia. Mas o criminoso seguirá agindo fora da lei, este encontrará suas formas de operar na ilegalidade. Já o cidadão de bem e honesto é quem acaba pagando por isso e é privado das vantagens que uma tecnologia nova pode trazer.
Por que as pessoas ainda se sentem avessas ao bitcoin?
Por desinformação. Por ser algo desconhecido. Por envolver tecnologia, o que torna o fenômeno mais complicado de entender. Mas com o tempo as dúvidas vão sendo esclarecidas. Porque a grande verdade é que o bitcoin é um livro aberto: o código-fonte é aberto, as transações são públicas, todas as regras são de conhecimento geral. Não há mistério algum no funcionamento da moeda e das regras do sistema, mas é preciso um pouco de tempo para entender tudo. Acredito que no futuro será como a nossa própria moeda estatal, todo mundo usa mas poucos entendem como funciona. Ou até a própria internet. No começo muitos suspeitavam que a internet iria prosperar e achavam que não passava de um ambiente para todo tipo de ação suspeita. Hoje todos usam sem nem entender o que é de fato essa rede mundial de computadores que não é controlada por ninguém. Como diz o Nassim Taleb, “o conhecimento não exclui o uso”. Acredito que no futuro, transacionar com bitcoins será tão comum e intuitivo como enviar um e-mail.
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‘O bitcoin é um livro aberto e as transações são públicas’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU