Por: Jonas | 31 Março 2014
A notícia está nas últimas linhas de um comunicado de imprensa assinado pelos dois advogados Fabio Palazzo e Stefano Commodo: “o Dr. Ettore Gotti Tedeschi (foto) encarregou a seus advogados, agora que o caso foi esclarecido por uma investigação impecável da magistratura italiana, que tomem uma série de iniciativas na justiça para reagir aos numerosos ataques midiáticos que pretendem manchar a própria figura humana e profissional, estando decidido a demonstrar, inclusive pela via judicial, a falta de sustentação das acusações dos Conselheiros contra sua pessoa, no momento de sua ‘extromissão’”.
Fonte: http://goo.gl/sdLdaH |
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 28-03-2014. A tradução é do Cepat.
Após dois anos de silêncio e depois de ter sido dispensado da presidência do IOR pelo conselho que administra o “banco vaticano”, por meio de um comunicado assinado por Carl Anderson (documento duríssimo e sem precedentes na história da Santa Sé), Gotti Tedeschi passa ao contra-ataque e anuncia ações legais. Esperou, sem êxito, uma reabilitação, segundo o que alguns dos colaboradores mais próximos de Bento XVI tinham comunicado. Porém, esta nunca chegou.
Os advogados de Gotti citam, em primeiro lugar, as conclusões do Tribunal Penal de Roma, que acolhendo o pedido da Procuradoria, com o decreto de arquivamento de 19 de fevereiro de 2014, “compartilhou os amplos e pontuais argumentos esgrimidos pelo ministério público e excluiu qualquer responsabilidade do Dr. Ettore Gotti Tedeschi na operação que havia levado à magistratura, em 2010, em sequestrar 23 milhões de euros do IOR devido à violação da normativa anti-reciclagem”. Uma investigação que começou com a convicção de que a não observância da normativa anti-reciclagem, por parte dos responsáveis do IOR, permitiu que o Instituto se convertesse “facilmente em um canal para o desenvolvimento de operações ilícitas de reciclagem de somas de dinheiro provenientes de crimes, mediante a ação de depositantes envolvidos”.
A investigação demonstrou que “a violação da normativa por parte dos dirigentes operativos do IOR não era episódica”, e que eles “tinham consciência sobre os problemas que esta não aplicação poderia acarretar (risco de reciclagem)”. Porém, ao mesmo tempo, também demonstrou que “Ettore Gotti Tedeschi não era totalmente alheio ao modus operandi” da direção operativa do Instituto, mas que havia “atuado claramente para chegar a um regime jurídico seguindo critérios e regras”, para que não se repetissem estes comportamentos por parte dos dirigentes do “banco vaticano”.
Além disso, a magistratura italiana reconhece que Gotti Tedeschi foi um dos artífices da primeira lei anti-reciclagem vaticana, a mesma que depois foi modificada entre fins de 2010 e inícios de 2012. Os advogados do ex-presidente do IOR vão mais além, quando afirmam que tudo o que surgiu graças à investigação da magistratura italiana “é incompatível com as contestações contra o Presidente Gotti Tedeschi, por parte dos Conselheiros de administração do IOR, demonstrando-se tais imputações infundadas e claramente instrumentais, com a finalidade de removê-lo de seu posto, desempenhado com tal profissionalismo e eficácia, que conseguiu resultados importantes em nível de reconhecimento por parte de organismos nacionais e internacionais”.
Os advogados também apontam que, seguindo as conclusões dos magistrados, “Gotti em sua qualidade de Presidente do IOR agiu bem, pelo bem da Igreja e segundo o mandato recebido de Bento XVI, mas foi obstaculizado no prosseguimento de tal obra pela Direção do Instituto”. Razão pela qual, continuam os advogados do ex-presidente do IOR, “foi alheio às operações impetradas” e teria feito tudo o possível “para cumprir o mandato recebido de acompanhar o Instituto Vaticano para a White list” dos países virtuosos em matéria anti-reciclagem.
Em particular, um dos detalhes que surgiu com a investigação da magistratura, é que Gotti Tedeschi foi inscrito no registro dos indagados “somente porque estava habilitado, em abstrato, para agir como representante legal sobre a conta do IOR, enquanto que as investigações demonstraram que a pessoa que havia concretamente atuado por conta do IOR era o diretor geral Paolo Cipriani”. Portanto, apontam os advogados, Gotti Tedeschi tinha boas razões para não confiar em Paolo Cipriani e em seu vice-diretor Massimo Tulli, que se viram obrigados a renunciar, um ano após a “demissão” do presidente, devido à investigação sobre monsenhor Nunzio Scarano. Estes eventos levaram à decisão do papa Francisco de criar uma comissão referente de investigação interna.
No comunicado, os dois advogados de Gotti Tedeschi citam o duro documento com o qual foi comunicado o voto de censura contra ele e afirmam que foi demonstrada “definitivamente a instrumental inconsistência dos pontos mais relevantes” daquele documento. Recorda-se, além disso, citando uma recente entrevista ao jornal italiano “Il Messaggero”, concedida pelo secretário particular do papa Bento XVI, Georg Gänswein, que Gotti era muito apreciado por Ratzinger, que nunca soube do voto de censura até sua publicação.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Banco do Vaticano. Gotti Tedeschi contra-ataca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU