13 Março 2014
Se existe um cardeal da Cúria Romana ligado duplamente ao Papa Francisco é Walter Kasper. Grande eleitor de Bergoglio no conclave, o presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, de 81 anos, compartilha com o jesuíta aquela que Juan Carlos Scannone, pai da Teologia do Povo, cara ao pontífice, chama de "a revolução da misericórdia". Não por acaso, por ocasião do seu primeiro Ângelus, Bergoglio citou justamente o livro Misericordia, de Kasper, e principalmente, há algumas semanas, confiou a delicadíssima conferência introdutória ao consistório extraordinário sobre a família, onde se assistiu a um confronto bastante forte entre os cardeais sobre a Eucaristia aos divorciados em segunda união. Um desafio em que o alemão está inclinado há muito tempo em posições progressistas.
A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada no sítio QN, 10-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Eminência, como o senhor vê a Igreja a um ano da eleição do Papa Francisco?
Reencontramos entusiasmo, impulso e simpatia. Não só entre os cristãos, mas também entre os crentes de outras religiões. Até os ateus olham com mais interesse para o mundo católico.
O cone de sombra da última fase do pontificado de Bento XVI ficou definitivamente para trás?
Pode-se dizer que havíamos caído em depressão por culpa dos escândalos. Agora, em apenas 12 meses, o clima mudou.
Tudo mérito de Bergoglio?
O papa tem um carisma extraordinário, mas o Espírito Santo teve a sua parte.
Escreveu-se muito sobre os gestos inéditos de Francisco, da escolha de viver em Santa Marta ao lava-pés de duas jovens: qual foi o que mais lhe chamou a atenção?
Seguramente, a sua decisão de não residir no apartamento papal. Foi ele mesmo que confidenciou a uma menina que "o motivo é psiquiátrico" (risos). O papa quer estar no meio dos outros, e isso as pessoas apreciam muito.
O que dizer da cadeira vazia no concerto para o fim do Ano da Fé?
Ele tinha um encontro bem mais importante, tinha que ouvir os núncios apostólicos que haviam ido a Roma para atualizá-lo sobre o estado das Igrejas locais.
Mas não só...
Bergoglio também disse que não quer ser um papa renascimental e que não compartilha atitudes de corte.
Palavras santas?
Certamente, eu nunca apreciei certos comportamentos dentro da Cúria.
A Igreja na qual o Santo Padre trabalha – "pobre para os pobres", inclusiva, "hospital de campanha depois da batalha" – está encontrando muitas resistências nos sagrados palácios?
Não é preciso exagerar, mas existem. Por outro lado, cardeais e monsenhores não são múmias. Dito isso, Francisco tem um escudo incrível que o protege: o amor do povo que, a cada domingo, lota a Praça de São Pedro.
Cardeal, o senhor se manifesta a favor de uma presença feminina na cúpula dos dicastérios da Cúria Romana. Francisco compartilha a sua posição?
Ele está de acordo: a outra metade da Igreja não pode mais ser excluída.
Sobre o diaconato feminino, que o senhor vê como possível, embora não na forma sacramental, vocês já conversaram juntos?
Ainda não, mas essa é uma questão mais delicada e não central neste momento.
Talvez seja mais urgente uma atualização da encíclica Humanae vitae sobre os anticoncepcionais.
O papa não gosta da casuística, mas, para além da doutrina que não mudará, estou certo de que o Sínodo sobre a família irá valorizar o papel da consciência.
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Virada histórica: ''Papa Francisco levará as mulheres à cúpula da Cúria''. Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU