07 Dezembro 2015
A ética cristã vista como jaula ou como sistema opressivo que mortifica o homem a partir de uma série de "nãos" é um preconceito bastante difundido na cultura da nossa época. Friedrich Nietzsche a definia até como uma moral "contra a vida".
A resenha é do teólogo leigo italiano Christian Albini, coordenador do Centro de Espiritualidade da Diocese de Crema, na Itália, e sócio-fundador da Associação Viandanti. O artigo foi publicado na revista Jesus, de novembro de 2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não, diz Giannino Piana, ao contrário, a ética cristã é mais como a casa construída sobre a rocha da qual Jesus fala (cfr. Mt 7, 24-25). A imagem decorre do duplo significado do termo grego ethos, que traduzimos como "ética".
Em alguns casos, significa "costume", "comportamento"; em outros, "morada", "casa". O primeiro significado enfatiza a mutabilidade da vida moral, influenciada pela historicidade dos processos sociais e culturais, enquanto o segundo remete a uma realidade estável, fundada, que precede o homem, indicando a necessidade de pontos firmes para as suas escolhas morais.
São duas reivindicações igualmente necessárias também para o fiel, e o livro pretende mostrar como elas se compõem no contexto de uma ética de inspiração cristã. Piana, uma das vozes mais autorizadas da teologia moral italiana, oferece nesse livro a sua abordagem à ética evangélica.
O texto se divide em quatro partes. A primeira descreve os horizontes bíblico-teológicos da ética cristã, resumíveis em uma visão de mundo e da vida centrada na caridade. Do Evangelho, emerge uma abordagem à experiência moral articulada na dimensão interior e na radicalidade, mais do que na letra de uma lei.
A segunda parte do livro descreve as categorias interpretativas identificadas pela razão humana com que a proposta cristã interage ao orientar a vida moral: alteridade, liberdade, consciência, paixões. A ética, porém, não se reduz a um sistema de princípios abstratos. Ela requer, acima de tudo, um estilo, um modo de habitar o mundo, um habitus que é descrito na terceira parte: "Fidelidade e simplicidade de coração, sobriedade e mansidão e, enfim, ação de graças são igualmente modos de ser, que permitem enfrentar, com a serenidade necessária e com o espírito livre de condicionamentos exteriores, as várias situações da vida cotidiana". É questão de envolvimento da pessoa na mais profunda interioridade do próprio ser.
As escolhas pessoais e os desafios públicos que requerem hoje um discernimento ético são tocados por Giannino Piana na quarta parte da sua análise, com atenção para a complexidade e a delicadeza de tantas questões que não podem ser resolvidas de modo simplista.
"O que confere unidade à proposta é, em todo o caso, a perspectiva de fundo que guia todo o percurso. A afirmação da radicalidade evangélica – que não admite atenuações ou compromissos – se conjuga constantemente com o exercício da misericórdia, quando se trata de abordar as situações pessoais."
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Ética cristã: de jaula a casa construída sobre a rocha. Artigo de Christian Albini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU